Por Marcelo Elizardo e Raquel Honorato, RJTV


Violência deixa pelo menos uma escola municipal sem aula a cada dez dias

Violência deixa pelo menos uma escola municipal sem aula a cada dez dias

A violência no Rio se traduz em números impressionantes e afeta diretamente o ensino público. Um levantamento da Secretaria Municipal de Educação, ao qual o RJTV teve acesso, revela que, quase todo dia, ao menos uma escola ficou sem aula por causa de confrontos e operações policiais. Em 65 dias letivos, apenas em seis dias todas as escolas municipais tiveram aulas.

Nesta quarta-feira (17), a área afetada foi a Zona Oeste, com mais de cinco mil alunos sem aulas durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Um adolescente de 17 anos, com uma arma de brinquedo, e um suspeito foram baleados.

É a violência que determina se o dia é de estudo ou se é mais um dia em casa. Nesta quarta-feira foi dia de 4.959 alunos ficarem em casa na Cidade de Deus, na Zona Oeste. Não teve aula em 12 escolas municipais, três creches e cinco Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDI). Teve uma operação da polícia na favela.

“A situação na Cidade de Deus encontra-se tensa, por motivos de operações policiais constantes. A escola da minha filha não abre. Isso é determinação de todas as escolas. Já procurei saber e informam que é a 7ª CRE (Coordenadoria Regional de Educação) que determina, para não apresentar problemas piores, exteriores. Desde o ano passado, de um ano para cá, é constante não ter aula. Pode-se contar que minha filha já ficou umas 23 vezes em casa de uns tempos para cá, porque é constante. É pontualmente operações na parte da manhã”, relatou a mãe de uma aluna.

Na Praça Seca, também na Zona Oeste, outros 590 alunos também ficaram sem aula nesta quarta-feira. A região enfrenta confrontos por causa da ação de traficantes, que bloqueiam ruas com barricadas com enormes pedras espalhadas pela Rua Doutor Bernardino, flagradas pelo Globocop, pela manhã.

A violência afeta diretamente o funcionamento das escolas na cidade, principalmente nas regiões de conflito. O RJTV teve acesso a um levantamento da Secretaria Municipal de Educação. Pelo calendário escolar, só este ano já foram 65 dias de aulas. Mas nesse período, a rede municipal funcionou integramente em apenas seis dias. Nos outros 59 dias, pelo menos uma escola ficou sem aulas por causa da violência. Isso significa dizer que mais de cem mil alunos já foram afetados pela violência. Cerca de 16% de todos os estudantes da rede municipal.

O levantamento mostra ainda que o bairro de Acari, na Zona Norte, foi o que mais teve escolas fechadas por causa da violência esse ano. A cada 15 dias pelo menos um colégio fechou as portas. Em segundo lugar vem o Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte, e em terceiro, o Conjunto de Favelas do Alemão, também na Zona Norte.

Maria Eduarda morreu baleada em colégio — Foto: Reprodução/TV Globo

Como esquecer do dia 30 de março. A Escola Daniel Pisa, em Acari, estava funcionando. A estudante Maria Eduarda só não imaginava que aquele seria o último dia dela no colégio. A jovem de 13 anos, foi morta durante uma operação da polícia. E o colégio ficou fechado até o dia 10 de abril, quando foi reaberto para o atendimento psicológico de professores e alunos.

As aulas na Escola Daniel Piza só foram retomadas em 24 de abril, com quase um mês de atraso no calendário escolar. Para a pesquisadora Ana Paula Pelegrino, do Instituto Agarapé, é necessária uma integração entre as autoridades de ensino e de segurança para enfrentar o problema.

“Acho que vale lembrar que no direito internacional de guerra, nos direitos humanos, o acesso à educação e à saúde são direitos que não podem ser suspensos nem em situação de conflito armado. Aqui, a gente não tem uma situação de guerra declarada, e aqui a gente não consegue garantir isso. Então, é preciso que todo mundo chegue, e não é só forças de segurança pública, mas educação, saúde, todo mundo junto, sente e comece a pensar nessas soluções. E nisso o município tem um papel primordial”, disse Ana Paula.

Como moradora de comunidade do Rio e funcionária de escola, uma mulher conta que vive de pés e mãos atados no meio do fogo cruzado.

“As crianças, coitadinha, ficam abaixadas quando tem tiro. A gente também fica com medo, porque fica arriscando nossa vida", disse a mulher que prefere não se identificar.

Mas como mãe, ela luta para que a violência não termine com os sonhos da filha.

“Minha filha falou que quer ser médica. Vai ser minha vitória, minha alegria ela conseguir isso. Um futuro melhor do que o meu, é isso que desejo para minha filha e para todos que querem conseguir algo melhor”, disse a mulher.

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