Só 14% das escolas públicas acessavam ambiente virtual de aprendizagem antes do COVID-19 - PORVIR
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Inovações em Educação

Só 14% das escolas públicas acessavam ambiente virtual de aprendizagem antes do COVID-19

Pesquisa TIC Educação 2019 revela que um em cada cinco alunos depende exclusivamente do celular para acessar a internet, o que limita possibilidades de aprendizagem

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 9 de junho de 2020

Professores sobrecarregados, alunos com dificuldade para organizar a rotina de estudos. Uma resposta para este problema pode ser encontrada na nova edição da pesquisa TIC Educação 2019, que identificou que apenas 14% das escolas públicas urbanas e 64% das particulares urbanas tinham acesso a ambientes virtuais de aprendizagem, ou seja, plataformas em que o professor pode distribuir atividades, estabelecer calendários de entrega, corrigir e avaliar o desempenho dos alunos ou se comunicar com as famílias.

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A pesquisa foi divulgada nesta terça-feira (9) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Realizada entre os meses de agosto e dezembro de 2019, TIC Educação investiga o acesso, o uso e a apropriação das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas escolas públicas e particulares brasileiras de ensino fundamental e médio, com destaque para o uso pessoal desses recursos pela comunidade escolar e em atividades de gestão, ensino e aprendizagem.

Em escolas urbanas, foram entrevistados presencialmente 11.361 alunos de 5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 2º ano do Ensino Médio; 1.868 professores de Língua Portuguesa, de Matemática e que lecionam múltiplas disciplinas (anos iniciais do Ensino Fundamental); 954 coordenadores pedagógicos e 1.012 diretores. Em escolas localizadas em áreas rurais, foram entrevistados 1.403 diretores ou responsáveis pela escola.

Apesar de ter olhado para um cenário pré-pandemia do coronavírus, a pesquisa ressalta problemas que foram agravados com a suspensão das aulas, no último mês de março. “As medidas que estamos vivenciando de distanciamento social fizeram com que as desigualdades no Brasil se tornassem ainda mais evidentes nesses últimos três meses” disse Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br., durante a apresentação dos resultados.

“A falta de acesso à internet e o uso exclusivo pelo celular pelas classes D e E e por famílias em zonas rurais coloca desafios importantes para políticas públicas”, disse. Ao comentar o que acontece em escolas rurais, o executivo do Cetic.br chama a atenção para o fato de que além da limitação do acesso à educação, famílias inteiras ficam impedidas de encontrar serviços públicos, porque muitas dessas unidades de ensino funcionam também como telecentros.

Apesar de não fazer recomendações para o que deve ser feito daqui em diante com relação ao ensino remoto, a apresentação do Cetic.br prevê dificuldades para a rede pública. “O que vai acontecer agora vai depender do perfil e da capacidade de resposta de cada governo e de cada município. Mas seja qual for a resposta, a gente sabe pelos dados que nas escolas públicas, o desafio vai ser muito maior porque plataformas de ensino virtual não estavam presentes e vai ser difícil incorporá-las nesse momento”, disse Fábio, coordenador de projetos de pesquisa do Cetic.br.

Dependência de celular

Apesar da pesquisa identificar que a maior parte dos estudantes é usuária de Internet (83%), para 18% o celular é o único dispositivo de acesso, o que limita o trabalho do professor e também os tipos de atividades possíveis de serem desenvolvidas no atual momento. O Porvir já ouviu professores que disseram só ter como chegar aos alunos por meio de WhatsApp e, por isso, precisam tirar fotos da própria tela para enviar material pedagógico, tamanha é a dificuldade para acesso de arquivos por parte dos alunos.

Em relação à presença de outros dispositivos de acesso à rede nos domicílios, 29% dos alunos de escolas urbanas contam com um tablet em casa, 35% com um computador de mesa e 41% com um computador portátil. Já entre os que frequentam a escola pública,  39% não possui nenhum destes dispositivos em casa.

“Grande parte das políticas públicas na área da educação têm como foco a conectividade na escola, agora o grande desafio é prover aos jovens conectividade nos domicílios, para garantir que tenham acesso à educação. O tipo de dispositivo, por exemplo, passa a ser um problema, uma vez que muitas crianças em domicílios de baixa renda só acessam a Internet pelo celular. Além da falta de recursos para o acesso à Internet nos domicílios, o fechamento das escolas gera vários outros impactos. No caso das áreas rurais, por exemplo, um quarto dos gestores de escolas que possuem computadores e Internet afirmam que os recursos de tecnologia da instituição estavam disponíveis também para uso da comunidade do entorno. Com as escolas fechadas, não só os alunos e professores, mas também a comunidade deixa de ter acesso”, explica Barbosa.

Tipos de atividades

Outro fator que colabora para a situação de tentativa e erro vivida por muitos professores é que além dos dispositivos e da falta de conexão via banda larga, o tipo de atividade que muitos precisam desenvolver neste momento também é novidade para os alunos, especialmente os mais novos.

A TIC Educação 2019 mostra que só 48% dos alunos conectados do quinto ano do ensino fundamental leram um livro, um resumo ou um e-book na Internet, 40% usaram mapas online e 63% compartilharam na Internet um texto, imagem ou vídeo, porcentagens que são maiores entre os alunos do 2º ano do ensino médio: 65%, 74% e 82%, respectivamente. No entanto, quando se fala em uma rotina estruturada de aulas, nem mesmo os estudantes de ensino médio tinham esse hábito: 16% afirmaram ter tido alguma experiência com cursos online.

Olhando para os dados e também para as dificuldades trazidas pela pandemia do coronavírus, Daniela Costa, coordenadora da pesquisa TIC Educação, ressalta um ponto positivo de todo esse processo que surpreendeu famílias, professores e escolas. “Ainda não sabemos como vai ser a nossa nova vida pós-pandemia e não podemos esquecer pontos de desigualdade revelados neste momento. Mas a gente não pode deixar de mencionar o movimento realizado por escolas, pais e alunos, em prol de uma aprendizagem para o uso dessas tecnologias. Isso vai deixar alguma herança. O fato dos professores estarem buscando novos conteúdos e novas formas para que a educação continue acontecendo também vai influenciar o acesso à educação pós-pandemia”.


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conectividade, ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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