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O pacificador, o justiceiro e o hipster

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Por Sílvio Ribas
Atualização:
Sílvio Ribas. FOTO: ARQUIVO PESSOAL Foto: Estadão

Os convites para a festa da democracia de 2022 ainda nem chegaram, mas os potenciais nomes que aparecerão na urna eletrônica como candidatos à Presidência da República já estão testando os perfis para as suas campanhas. Figuras colocadas como alternativa ao duopólio das pesquisas - Lula & Bolsonaro - extraem de suas trajetórias, de seus ídolos e de suas características mais conhecidas as respectivas marcas para conquistar os corações e as mentes do eleitorado.

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De uma longa lista de pretendentes da chamada terceira via, três personas já se postam de forma estruturada para capturar a atenção dos formadores de opinião, dos articuladores partidários e do público em geral. A trinca é formada pelo presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD), 44, no papel de "o pacificador"; pelo ex-ministro da Justiça e ex-juiz federal Sergio Moro (Podemos), 49, pintado para a guerra como "o justiceiro" contra os corruptos; e o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB), 36, evocando a condição de mensageiro "hipster" de tempos de diversidade e tolerância.

Pacheco, Moro e Leite começam a dar pistas aos marqueteiros como se apresentarão, incluindo frases de efeito e prioridades de governo. No prisma ideológico, estão situados, respectivamente, nas faixas de centro típico, centro-direita e centro-esquerda (com viés de centro).

Esses três políticos jovens, com menos de 50 anos, emulam símbolos, com os quais a política sempre produziu e contou para desenvolver a sua arte de convencimento. Em breve eles precisarão fazer uma calibragem nos seus discursos, além de agregar aspectos complementares aos seus planos. Mas a largada deles na corrida ao Planalto, efetivada em eventos partidários, começou a conectá-los a demandas presumidas dos brasileiros.

Em comum, Pacheco e Leite partilham do mesmo viés conciliador, próprio da escola mineira, enquanto o paranaense Moro, tal qual o paulista João Dória, carrega o estigma cunhado por suas posições explícitas e extremadas de antagonismo, tanto com Lula quanto com Bolsonaro.

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Assim, mesmo pontuando bem nas sondagens eleitorais de hoje, o ex-juiz tem contra seu desempenho no pleito do próximo ano, sobretudo em razão do voto útil no segundo turno, o ressentimento tanto da extrema esquerda lulista quanto da extrema direita bolsonarista.

Uma prova de que os três estão incomodando a dupla que polariza a briga está na ironia de Lula sobre o processo de escolha do nome de consenso contra ele, o comparando à Prova do Enem. Bolsonaro, por sua vez, critica duramente por meio de apoiadores as "traições" de Moro (apelidado de Marreco de Maringá) e de Pacheco (pejorativamente chamado de Pachequinho) e as políticas de controle sanitário de Leite, além dos comentários maldosos acerca da condição homossexual do governador.

Também revela a preocupação dos rivais contra o trio de aspirantes ao Executivo nacional a série de notas plantadas na imprensa sobre eventual derrota do tucano gaúcho nas prévias, sobre suposta indecisão de Moro entre Planalto e Senado e entre Paraná e São Paulo e, ainda, sobre hipotético acordo de bastidores para Pacheco vir a ser vice na chapa do PT.

Entre acertos, brigas e análises de cenário, a pergunta que todos os pré-candidatos se fazem (ou deveriam fazer) é: o povo vai quer agora? Em 2018, a população buscou alguém que fosse uma resposta contra tudo e todos. Com arrependimentos ou não, resta saber se o majoritário grupo nem-nem, que pede por uma terceira opção, encontrará nesses três o seu escolhido.

*Sílvio Ribas, jornalista, escritor, consultor em relações institucionais e assessor parlamentar no Senado Federal

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