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Sete de cada dez alunos relatam sinais de ansiedade ou depressão, diz estudo

01/04/2022 20h52

São Paulo, 1º - Um estudo realizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em parceria com o Instituto Ayrton Senna revela que sete em cada dez estudantes da rede pública estadual relataram sintomas de ansiedade e depressão durante a pandemia do novo coronavírus. Isso não quer dizer que eles tenham sido diagnosticados ou tenham alguma dessas condições, mas reportaram sinais que exigem alerta.

Os dados são do Mapeamento das Competências Socioemocionais do sistema de ensino do Estado, divulgado nesta sexta-feira, 1º. De 642 mil alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio no âmbito do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) que participaram do estudo, mais de 440 mil relataram problemas relacionados à saúde mental.

Dentro deste cenário, um em cada três alunos relatou dificuldade de concentração em nível alto ou moderado. Cerca de 20% afirmaram que se sentem totalmente esgotados e sob pressão. Além disso, 18,1% dos alunos disseram perder totalmente o sono por conta das preocupações. Outros 13,6% declararam a perda de confiança em si.

As competências socioemocionais são organizadas em cinco macrocompetências: abertura ao novo, autogestão, engajamento com os outros, amabilidade e resiliência emocional. O levantamento apresentou um cenário preocupante de dois grupos ligados mais diretamente ao aprendizado: autogestão, que envolve foco, determinação, organização, persistência e responsabilidade e amabilidade, que inclui empatia, respeito e confiança.

"São duas competências fundamentais à aprendizagem e ao clima escolar, pois estão relacionadas à capacidade do estudante em ser persistente, determinado e também mais propenso a um convívio social harmonioso", disse o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares.

Os dados revelam que em relação ao último levantamento feito em 2019, antes da pandemia, houve piora em todas as competências avaliadas, entre elas, curiosidade para aprender, responsabilidade, empatia, determinação e respeito.

"As perdas socioemocionais se agravaram mais na pandemia, algo que já esperávamos. Em 2021, mais estudantes se consideraram pouco capazes no exercício de todas as competências socioemocionais relevantes para o aprendizado que em 2019. A falta da escola piorou essa situação", afirmou o secretário.

Conforme Rossieli, em 2019, 37,8% dos jovens disseram que não tinham a competência classificada como ‘curiosidade para aprender’. "Esse número subiu para 43,8% dizendo que não tem esse interesse", disse.

"Uma competência associada ao aprendizado de Língua Portuguesa. Preocupados em recuperar o aprendizado, precisamos olhar para essas informações. Quando a gente lê esses dados, entende-se como um pedido de ajuda com relação ao desenvolvimento dessa competência", acrescentou Tatiana Filgueiras, vice-presidente de Educação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.

De acordo com a análise realizada em 2019, quando desenvolvidas de forma intencional na escola, a autogestão pode significar 3,5 meses letivos a mais de aprendizado em Matemática e a amabilidade pode significar 5,8 meses letivos a mais de aprendizado em Língua Portuguesa.

No caso da competência de ‘empatia’, que saltou de 27,3% para 41,8%, o cenário também é preocupante. "Não podemos afirmar, mas é muito provável que seja o impacto da falta das aulas. A falta da convivência e a convivência com os diferentes. Porque mesmo quando convive com irmãozinho ou amiguinho, conviveu apenas entre aqueles que tinha o costume. Não conviveu com a diversidade que é necessária dentro da escola. Vamos precisar olhar muito para a preparação dos nossos profissionais para cada vez mais dar esses passos para que isso possa ser avançado", avaliou Rossieli.

O desenvolvimento socioemocional pode promover resultados positivos para o estudante, seja diretamente sobre o aprendizado, seja em outros aspectos que também o influenciam como saúde mental, relações interpessoais, violência, educação e vida profissional e social.

"O aprendizado será uma consequência de uma política integrada, muito mais ampla, que olha o estudante como ser humano e não como aluno somente. E é muito difícil ter a coragem de fazer isso no contexto de pandemia ou pós-pandemia. Todos correm para fazer o conhecido e as redes que são inovadoras que conseguem entender como acontece em São Paulo, que não dá para começar a construir a casa pelo telhado", afirmou a vice-presidente de Educação e Inovação do Instituto Ayrton Senna.

Para ela, os dados alertam para a importância de entender que os alunos estão pedindo ajuda. "A avaliação ainda demonstrou que, quanto menores os índices de saúde mental do estudante, mais ele pode ter desafios de aprendizagem. Em contrapartida, avanços no fortalecimento da sua saúde mental podem significar até oito meses letivos a mais no aprendizado em Matemática prejudicado nesses últimos dois anos, por exemplo", avaliou Tatiana.

Na avaliação do secretário, a discussão precisa ser ampla em todos os âmbitos. "Os dados dão luz às competências que serão a base para promover o aprendizado e quantificam o impacto destes últimos anos na saúde mental. As questões socioemocionais impactam no aprendizado e também passam por pontos importantes, ligados à saúde mental, estratégias de aprendizagem e violência", acrescentou o secretário.

O levantamento também apontou que 5,7% dos estudantes relataram presenciar violência psicológica com muita frequência. Outros 3,8% disseram presenciar violência física em casa com muita frequência. Neste cenário, os estudantes mais acometidos são os do 5º ano do ensino fundamental.

Ainda neste cenário, aproximadamente 67% dos estudantes se declararam nada ou pouco capazes de exercitar a competência 'tolerância à frustração', relatando, desta forma, dificuldades para controlar e lidar com a raiva e a irritação diante de situações adversas. A 'autoconfiança' foi a segunda competência mais citada entre as quais há maior dificuldade no exercício.

Além disso, em 2021, os estudantes apontaram menos experiências com bullying do que em 2019, passando de 10,2% para 8,97% A redução, no entanto, é pequena, se considerado que as escolas ficaram fechadas em 2020.

Desta forma, observa-se que a prática repetitiva de atos de violência física e psicológica está presente em outros locais de convivência dos jovens, não somente nas escolas. "O bullying não é por causa da escola presencial, mas ele está presente no cyberbullying e em outros ambientes da nossa sociedade", avaliou Rossieli.

Diante dos dados apresentados no mapeamento, o Governo do Estado de São Paulo dará continuidade ao programa Conviva, que tem como foco ações de promoção do desenvolvimento socioemocional de estudantes e profissionais da educação.

Além disso, será mantido o atendimento realizado por mil psicólogos, que ocorreu que forma online no ano passado, para estudantes e professores. "Não é um acompanhamento clínico, porque esse o objetivo. Atendimento clínico sempre dever um encaminhamento para o sistema de saúde, mas atendimento dentro da educação, de acompanhamento dos alunos, de formação dos profissionais. De como trabalhar na mediação de conflitos, enfim, no desenvolvimento tanto dos profissionais, quanto dos alunos", explicou o secretário.

O estudo também trouxe informações sobre ações no combate à violência perto de redes estaduais de ensino. Sobre as 200 escolas que têm índices criminais nas proximidades, por estarem mais vulneráveis, elas terão acompanhamento de perto. "Vão ter atendimento especial. Estamos trabalhando com a Secretaria da Segurança Pública para melhorar e apoiar cada vez mais os procedimentos. E retorno de reuniões setoriais entre diretorias de ensino e comandos regionais da Polícia Militar", reforçou Rossieli.

O mapeamento de 2021 envolveu 5.056 escolas estaduais e 642.808 estudantes, já em 2019, foram 3.586 escolas estaduais e cerca de 110.198 estudantes. O objetivo é que o levantamento passe a ser realizado anualmente no âmbito do Saresp.

Renata Okumura