Serrapilheira vai formar divulgadores de ciência e treinar professores

Instituto dos Moreira Salles lança nesta segunda-feira (16) programa na área

São Paulo

Com o objetivo de melhorar a percepção pública da ciência no país e aproximar cada vez mais jovens da área, o Instituto Serrapilheira, primeira entidade privada de fomento à pesquisa no Brasil, lança neste mês seu programa de divulgação científica.

“O Serrapilheira foi, desde o início, concebido para ter dois braços, um de apoio à pesquisa e um de divulgação científica, e, para nós, o segundo é tão importante quanto o primeiro”, diz Hugo Aguilaniu, presidente do instituto. 

Hugo Aguilaniu, presidente do Instituto Serrapilheira, durante o lançamento da entidade, em março de 2017
Hugo Aguilaniu, presidente do Instituto Serrapilheira, durante o lançamento da entidade, em março de 2017 - Ricardo Borges/Folhapress

O programa é composto de três eixos: formar profissionais de divulgação científica, influenciar jovens a buscar uma formação científica e melhorar a comunicação de pesquisadores nacionais. 

O primeiro foi estruturado em torno de uma chamada pública que, dividida em duas fases, será lançada nesta segunda-feira (16).

Inicialmente serão selecionados até 50 divulgadores de ciência —cientistas ou não— para participar de um evento de quatro dias no Museu do Amanhã, no Rio. Na oportunidade, os escolhidos apresentarão seus projetos e participação de workshops internacionais, mesas-redondas e sessões de trabalho.

Depois disso, os participantes do evento serão convidados a propor projetos para serem financiados. O instituto irá disponibilizar até R$ 100 mil para cerca de 20 projetos.

“A intenção, ao propor assim a chamada, é mapear o que vem sendo feito no Brasil nessa área, pois, embora alguns divulgadores sejam bastante conhecidos, há milhares de pequenas iniciativas com alcance local espalhadas por universidades, escolas e ONGs de todo o país”, diz Natasha Felizi, diretora de divulgação científica do Serrapilheira.

A expectativa, segundo Felizi, é que a realização do encontro no Museu do Amanhã possa ensejar colaborações inesperadas entre os participantes, além de projetos mais robustos. “Pessoas de regiões diferentes podem encontrar afinidades entre as suas propostas e decidir propor um projeto conjunto ao Serrapilheira”, exemplifica.

JOVENS

Incutir em crianças e adolescentes o gosto pela ciência é um dos principais objetivos das novas ações do instituto carioca, segundo Hugo Aguilaniu. “Acreditamos que se mais jovens brasileiros passarem a se preocupar com ciência, isso vai se traduzir em uma sociedade melhor”, diz.

Para atingir a meta, o instituto começará a atuar em duas frentes: treinamento de professores e cursos voltados para os mais jovens, apoiando e estendendo iniciativas já em curso na cidade de São Paulo.

O trabalho se dará em parceria com o Instituto canadense Perimeter, que promove os workshops com professores de física do ensino básico, e o Instituto de Física Teórica da Unesp, que coordena a ação com os alunos e onde ocorrem ambas as atividades.

“O projeto do Perimeter é ensinar tópicos de física avançada, mas usando a física e a matemática do ensino médio. Assim, os professores podem, por exemplo, falar de matéria escura, mas por meio de conceitos que eles já usam normalmente na sala de aula”, diz Pedro Vieira, pesquisador tanto do instituto canadense como do paulista.

De acordo com Vieira, uma das vantagens dessa maneira de fazer divulgação é que ela permite um crescimento exponencial. “Você começa a treinar professores, que treinam outros professores, que treinam mais professores e a coisa se espalha como um vírus.”

Para Felizi, os docentes funcionam como multiplicadores de um conhecimento que vai chegar diretamente nos jovens. “Esperamos, assim, estimulá-los a buscar uma formação científica, seja para escolher uma carreira na ciência, seja para ter essa formação como uma cultura, uma fonte de interesses, uma maneira de ver o mundo.”

No último eixo, o de melhorar a comunicação de pesquisadores, o Serrapilheira pretende tanto torná-los mais aptos a divulgar suas pesquisas como melhorar a visibilidade deles e aproximá-los de jornalistas e público em geral.

A primeira ação nesse sentido será a produção de vídeos com cada um dos 65 cientistas selecionados recentemente pelo instituto em seu edital de apoio à pesquisa.

“Os pesquisadores gravarão três vídeos, apresentando a si e a sua pesquisa, cada um voltado para um público diferente: crianças, universitários e especialistas”, diz Felizi.

Esses vídeos serão divulgados aos poucos numa campanha de vários meses.

DIVULGAR É PRECISO

Aguilaniu acredita que robustecer e aprimorar a divulgação científica no Brasil é de suma importância, pois, por aqui, a percepção geral ou é a do cientista “nerd”, alheio à vida prática, ou simplesmente não existe.

“O investimento público em ciência nunca será prioridade se a população não tiver o sentimento de que isso é necessário para o Brasil crescer mais e se desenvolver”, diz o presidente do Serrapilheira.

Nesse contexto, segundo Aguilaniu, o cientista tem que assumir a responsabilidade de divulgar seu trabalho. “Na hora em que os recursos públicos caem, como agora, você vê pesquisadores na televisão reclamando do baixo investimento. Mas sem um trabalho anterior constante de divulgação de todos os avanços trazidos pela ciência, esses apelos não comovem ninguém”, diz.

Essa responsabilidade do cientista, contudo, não implica que ele se torne o próprio divulgador. “Não achamos que todo cientista tem de fazer a divulgação do seu trabalho”, diz Natasha Felizi, “mas acreditamos que todo cientista precisa se preocupar com a divulgação do seu trabalho”.

 
 
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