Sem variáveis sociais, Ideb esconde desigualdade do país, diz professora

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Campinas e São Paulo

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Futuro do Ideb

O ano de 2021 marcou o fim do ciclo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Os resultados foram divulgados no dia 16 de setembro de 2022 em ocasião dos 200 anos da independência do Brasil.

Assim como acontece com a política de cotas (que explicamos em outra edição), o futuro do Ideb ainda é impreciso. Ele pode ser mantido, reestruturado ou substituído por algum outro sistema de avaliação. Continue lendo para saber mais.

Ilustração mostra 3 crianças pensativas. A imagem retrata os efeitos indiretos na rotina das crianças da educação básica durante a pandemia.
Edson Ikê/SoU_Ciência - Edson Ikê/SoU_Ciência

Entenda o Ideb

O que é? O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica foi criado pelo Inep em 2007 para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino.

O indicador é calculado para cada escola, município e estado.

Como é feito? O índice, que varia de zero a dez, é calculado por dois fatores:

  1. Desempenho dos estudantes no Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica): provas de matemática e português são aplicadas a cada dois anos;
  2. Taxas de aprovação escolar.

Como evitar distorções no índice? O Ideb foi criado equilibrando duas dimensões (nota do Saeb e taxa de aprovação) para evitar que medidas pudessem alterar artificialmente o indicador.

Exemplo: se uma rede de ensino reprovar seus alunos com baixo desempenho para obter maiores resultados na avaliação do Saeb, o resultado fica prejudicado.

Imagem mostra um corredor de uma escola da capital paulista. Alguns estudantes passam por um mural onde se lê: "ninguém se educa sozinho". O mural mescla as cores verde e amarelo.
A Escola Estadual Professor Francisco de Paula Conceição Júnior, que tem 2583 alunos, no Jardim Mitsutani, no extremo sul da cidade - Bruno Santos/ Folhapress

O que a Folha tem

Conteúdos do jornal sobre o tema

O que dizem os dados do Ideb. Criado em 2007 com a meta de que o país tivesse pelo menos a nota seis nos indicadores em 2022. Isso não aconteceu. As médias atuais dos ensinos fundamental e médio no Brasil são de 5,1 e 4,2, respectivamente.

Entrevista com especialista


Conversamos com Zara Figueiredo Tripodi, doutora em educação e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP)

Caminhos para melhorar. Zara reafirma a importância da política de avaliação nacional para construir estratégias educacionais e induzir ações nas escolas, e diz que há espaço para aprimorar o Ideb ou um novo indicador.

Segundo ela, a inclusão das variáveis sociais é necessária. "Sendo um indicador sintético ele não traz uma variável socioeconômica e nem de raça. O resultado médio esconde os dados de desigualdade no país", aponta.

Mudanças no Saeb. Zara coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Política Pública de Educação na UFOP e sugere alterações no formato da prova.

No lugar das usuais questões de múltipla escolha com trechos de textos, ela propõe maior protagonismo para grupos de perguntas baseadas em um único texto dado na íntegra.

Zara explica que esse método provoca o estudante a relacionar a leitura com outros conhecimentos. Esse fenômeno é chamado pela educadora brasileira Magda Soares de leitura de textos autênticos.

A foto mostra um grupo de crianças lendo edições impressas da Folha.
Folhinha conversa com 43 alunos de idades variadas a respeito do jornalismo, do dia a dia numa redação e de temas atuais - Karime Xavier/Folhapress

Por qual motivo? Induzidas pelos resultados obtidos no Saeb, "as escolas passaram a assumir [nas avaliações] textos em que não forneciam elementos para os estudantes mobilizarem diferentes habilidades de leitura", diz.

Segundo a pesquisadora, a leitura de textos autênticos amplia e avalia melhor as habilidades dos estudantes, além de fornecer dados para estratégias mais eficazes de ensino.

Professores estão prontos para aplicar esse método? "Esse é um desafio. É necessário uma formação com qualidade para trabalhar dessa forma", diz a educadora.

A cada dez professores formados no país, seis fizeram graduação a distância. Para Zara, isso não é um problema, mas demanda atenção para a qualificação do profissional.

"Escolas também são espaços de segurança alimentar e física", afirma a educadora. O espaço escolar brasileiro lida com outros desafios além do ensino em si. A pandemia mostrou não só a importância estrutural das escolas, como também a influência emocional para estudantes.

Um grupo de dez pequenos barcos está estacionado em frente a um posto usado para desembarcar. Perto desse local existe uma escola que apresenta algumas avarias na infraestrutura.
Estado das escolas municipais da região do Arquipélago do Marajó, no Pará - Cézar Colares/TCM-PA

Desconectados

Chegou nesta quinta-feira (29), na TV Folha, o longa-metragem que acompanhou a rotina de estudantes e educadores da rede pública de ensino durante seis meses que antecederam a reabertura das escolas.

O jornalista Paulo Saldaña, um dos diretores do filme, relata: "vimos estudantes ficando alegres com a reabertura. Antes, estavam estressados e tristes em casa."

Também diretor do longa, o fotojornalista Pedro Ladeira conta que foi especial voltar à escola pública, onde se formou. "Ver as professoras indo na casa dos estudantes, mesmo sem suporte do estado, foi emocionante. Elas dedicam a vida a educação no Brasil", ressalta.

Assista ao filme gratuitamente aqui.

Opiniões no jornal sobre o assunto

Leia o que colunistas e repórteres escreveram

Anna Helena Altenfelder e Romualdo Portela de Oliveira dizem que os resultados do Ideb chamam a atenção para desigualdades na educação e cultura do fracasso escolar.

Priscila Cruz argumenta que descaso com analfabetismo infantil lembra conivência com a escravidão. Para ela, é fundamental cobrar atenção obsessiva à educação pública.

Alexandre Schneider explica como formar professores para reduzir desigualdades. E cita três pilares: avaliação diagnóstica e formativa, organização do currículo em ação e a oferta de devolutivas que apoiem a aprendizagem contínua.

Em debate

Discussões interessantes para levar para sala de aula

Nesta quinta (29), a morte do escritor Machado de Assis completa 114 anos. Veja abaixo alguns conteúdos.

A imagem mostra o escritor Machado de Assis. Ele é um homem negro com cabelos, bigode e barbas grisalhas. Está usando um monóculo e veste um terno preto.
Foto da campanha Machado de Assis Real, com imagem colorizada que representa o autor como negro. - Divulgação

O grito do Ipiranga. Machado questiona a autenticidade do evento político que marcou a Independência do Brasil e reforça a ideia de que "não houve nem grito nem Ipiranga".

Importância do voto. Nenhum assunto eleitoral ocupa tanto a pauta de Machado de Assis como a abstenção. Para ele, o grande mal das eleições "é a abstenção, que dá resultados muitas vezes ridículos". E sentencia: "Urge combatê-la".

Inédito de Machado de Assis. Um pesquisador brasileiro encontrou texto inédito de outubro de 1858, quando o autor tinha 19 anos. A novidade: Machado assina o texto apenas com um ponto de interrogação.

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