Brasil Educação Enem e vestibular

'Sem diretor de Tecnologia desde setembro, Enem corre risco até de ataque hacker', diz Maria Inês Fini

Ex-presidente do Inep afirma que mudança na presidência do Inep é fundamental para contonar atual crise
Uerj recebeu o Enem, prova aplicada pelo governo federal Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Uerj recebeu o Enem, prova aplicada pelo governo federal Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e uma das idealizadoras do Enem, a educadora Maria Inês Fini está apreensiva com o Enem 2021. Nesta semana, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) exibiu publicamente sua crise, com o pedido de exoneração de 36 servidores técnicos em uma semana, sendo 34 só nesta segunda-feira, após um longo processo de desgaste interno. Conhecido por ser responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o órgão tem ainda atuação central no desenvolvimento da educação no país.

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Considerando o histórico de problemas vividos no Enem desde 2019 e a debandada de servidores, o que esperar do Enem 2021?

Estou bastante apreensiva. Você não improvisa gestores para esse momento que estamos vivendo. Não é possível improvisar. Os coordenadores que abandonaram as lideranças estavam sendo capacitados durante anos para enfrentar esse momento.

O que pode acontecer de errado?

Nessa fase, acontecem inúmeros ataques de hackers ao sistema do Inep. É preciso de um diretor de Tecnologia que conheça as bases de dados do instituto, mas estamos sem ninguém nesse posto desde setembro. Também saíram especialistas em gestão de risco que têm larga experiência que analisa essa fase pré-aplicação.

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E no dia do exame?

Há um plantão interligado ao consórcio aplicador, às polícias Federal e Militar e à presidência do Inep que controla o exame em tempo real para garantir que não haja problemas. Se tem uma enchente, ele mobiliza a polícia, o prefeito, vê se tem condições de mudar de lugar ou se tem que suspender o exame e garantir que todos os alunos possam fazer a reaplicação. Uma série de coisas que não se pode prever e acontecem no dia do exame. Inclusive a detecção de alguém tentando fraudar de dentro da prova. É uma série de questões delicadas que vão, sem esses coordenadores experientes, poderão ficar pior.

Qual o papel do presidente do Inep durante a prova?

É fundamental. Eventualmente ele precisa ligar para o ministro, para o presidente. Nunca fiz nenhum exame sem ter o ministro comigo no Inep e às vezes até o presidente. É uma questão de respeito. É o líder, o chefe dessa equipe, ele que responde em última análise por tudo, orienta as tomadas de decisões. Mas é isso que ele não quer ser.

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Qual a solução, na sua avaliação, para essa situação?

A principal queixa dos demissionários é que o presidente não tem noção dessa operação e não ouve os servidores. Além disso, há a acusação de assédio moral. Assim fica extremamente difícil continuar com ele. A sugestão que faço é de que a forma mais correta de lidar com essa crise é afastar o presidente Danilo Dupas e nomear um decano. Sugiro o Carlos Moreno, diretor de Estatísticas Educacionais e servidor desde 1985. Uma pessoa agregador. Todo mundo assumiria suas funções imediatamente, garantiria os trabalhos desse ano, que ainda tem Enade e Saeb, e abririam as negociações para o futuro.