CONFLITO DE INTERESSES?

Secretário da Educação de Tarcísio fornece notebooks e até material médico para o governo

Empresa do secretário de Educação de Tarcísio, Renato Feder, vai receber R$ 76 milhões pela venda de 97 mil notebooks. A transação foi concluída uma semana antes de ele assumir o comando da pasta no governo de São Paulo

GOVERNO DE SP
GOVERNO DE SP

São Paulo – O secretário de Educação do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, o empresário Renato Feder, é um dos fornecedores da própria pasta que comanda. E também do Hospital do Servidor Público do Estado. Para a Educação, fornece notebooks. E para o hospital, insumos hospitalares.

A informação do jornal O Estado de S. Paulo chama atenção não só pelo fato de o secretário fornecer equipamentos necessários para a implementação de uma política educacional polêmica e desaconselhada por especialistas no tema, que é a dispensa dos livros didáticos do MEC para adotar material digital. Mas também pelo fato de que três contratos com o governo paulista foram fechados quando o empresário já fazia parte do governo do bolsonarista Tarcísio.

Segundo o jornal, a Multilaser venceu pelo menos três licitações no valor de R$ 243 mil, de janeiro para cá. E o maior negócio concluído neste período é para fornecimento de material hospitalar para o Instituto de Assistência Médica do Servidor Público Estadual (Iamspe), no valor de R$ 226 mil.

Firma de Feder fornece notebooks para a pasta que ele comanda

Boa parte da Multilaser (28,16%) é controlada pela offshore Dragon Gem, de propriedade do secretário empresário. Não é à toa que ele está na mira da Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo, que vê indícios de conflitos de interesses justamente por um outro contrato assinado dias antes de sua posse no governo. Sua firma, segundo o jornal, vai receber R$ 76 milhões pela venda de 97 mil notebooks.

Essa transação, aliás, foi concluída em 21 de dezembro de 2022. Apesar de Rodrigo Garcia (PSDB) ser o governador em final de mandato, já estava tudo certo que Feder seria o secretário da Educação. Na prática, isso significa que o gestor é quem determina os pagamentos para sua própria empresa, que já chegaram a R$ 83 milhões neste ano. E também quem fiscaliza o contrato.

Em março, quando o caso veio à tona, Feder se comprometeu a não contratar a própria empresa. Mas fechou o fornecimento para outras secretarias. Em 31 de julho, era fechado negócio com o hospital do Iamspe, vinculado à Secretaria de Gestão e Governo Digital. Está prevista a entrega de fita com área reagente para verificação de glicemia em método de leitura em monitor portátil. Segundo o governo de Tarcísio, a Multilaser cobrou 36,25% a menos que as demais 44 concorrentes.

Por muito menos, secretário foi demitido no governo Serra

A mesma empresa participou de pregão, neste mês, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Chegou a fornecer, em junho, insumos e materiais hospitalares à Faculdade de Medicina Veterinária de Botucatu. E fechou contrato de R$ 16 mil com o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, também vinculado ao governo paulista. Nesse caso, para fornecimento de seringas, que já foi pago.

Durante o governo do tucano José Serra , em 2007, o então secretário de Comunicação, Hubert Alquéres, foi demitido por sua participação no Instituto Japi de Ensino Superior. A empresa havia vencido três pregões para fornecer cursos de formação de professores de escolas estaduais, no valor de R$ 607 mil. A diferença é que os contratos foram celebrados com a Secretaria de Educação e não com a comandada por Alquéres, como acontece hoje com Feder no governo Tarcísio de Freitas.

Ao Estadão, o professor da Faculdade de Direito da USP, Marcos Perez, disse que a relação comercial de Feder com o governo do qual participa deveria ser investigada por conflito de interesses. Para ele, “não há nada que pague a sua reputação”. “Uma reputação construída ao longo de uma vida não vale um contrato de computador”.

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Redação: Cida de Oliveira – Edição: Helder Lima


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