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Entrevistas

Secretário conta os planos para a implantação do novo ensino médio

Rossieli Soares lidera uma frente no Conselho Nacional de Educação que auxilia na elaboração curricular da nova legislação para todo o Brasil

Publicado em 29/10/2020

por Laura Rachid

novo-ensino-medio-implantacao Quando ministro da Educação, homologou a BNCC do ensino médio (foto:Wilson Dias / Agência Nacional)

Em 3 de agosto, o Estado de São Paulo anunciou a homologação do currículo do novo ensino médio, o primeiro do país. Os itinerários formativos oferecem 12 opções de cursos estruturados em 1.350 horas. Somando com a formação básica, o currículo paulista tem 3.150 horas. A previsão é que algumas escolas estaduais implantem o novo modelo para seus alunos do 1º ano em 2021.

A nova lei, que inclui a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino médio, foi homologada em 2018 pelo então ministro da Educação e hoje secretário estadual de Educação de São Paulo, Rossieli Soares. O secretário também coordena a Frente Nacional de Currículo e Novo Ensino Médio do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). Confira, a seguir, a entrevista exclusiva com o secretário.

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novo ensino médio implantação

Quando ministro da Educação, homologou a BNCC do ensino médio (foto: Wilson Dias / Agência Nacional)

Qual o papel do senhor no Consed em relação ao novo ensino médio e como o conselho está apoiando para a reforma acontecer?

Atualmente, lidero a Frente Currículo e Novo Ensino Médio, uma das frentes de trabalho do Consed que tem como objetivo apoiar a elaboração dos novos currículos e a implementação do novo ensino médio. Desde 2012, o Consed tem um GT voltado ao ensino médio, o qual foi responsável por debates, seminários e coleta de evidências que culminaram na atual reforma. A frente, após a aprovação da lei e da BNCC, atua com formação aos técnicos das secretarias estaduais (coordenadores, equipe de currículo, entre outros) e apoio à gestão. Promovemos quatro encontros formativos presenciais e dois a distância, atingindo mais de 1.300 pessoas. Realizamos um acompanhamento nacional das ações, reuniões com as equipes técnicas para apoiar as equipes locais no processo de implementação e engajamos o grupo de secretários/as para a troca de experiências a fim de garantir um ensino médio voltado aos interesses e protagonismo dos jovens brasileiros.

Quais os principais desafios para o novo ensino médio ser implantado nas escolas brasileiras?

Dentre os desafios, a ampliação da carga horária para 1.000 horas/anuais, a adequação das avaliações como o Enem e dos livros didáticos e, principalmente, a garantia da flexibilização curricular. Implementar um ensino médio que dialogue com a realidade da juventude e se adapte às necessidades dos estudantes é diferente do que temos hoje. Enquanto a taxa de abandono nos anos iniciais é de 0.7% e nos anos finais 2.4%, no ensino médio isso sobe para 6.1%, ou seja, precisamos tornar a etapa significativa e relevante aos jovens.

As redes precisam elaborar novos currículos, formar os professores, rever os materiais e repensar a arquitetura, de modo a garantir o desenvolvimento do projeto de vida dos alunos, integração curricular por área do conhecimento e opções de itinerários formativos, que permitirão aos alunos a escolha com as quais mais se identificam e a possibilidade da formação profissional. Apesar dos desafios, a mudança é necessária e urgente.

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O aumento da carga horária implica um maior investimento no salário dos professores ou novos contratos. Já há um investimento maior pensando nisso? De onde virá o financiamento para a implantação da reforma?

Primeiro, a rede precisa realizar um bom diagnóstico das suas condições de oferta para verificar quais as possibilidades de rearranjo e alocação de professores para a implementação do novo ensino médio. Depois, estudar a arquitetura da implementação, pensar os cenários, firmar parcerias, entre outros. Em alguns casos, pode haver a necessidade de contratar mais professores; uma possível solução é criar um modelo em que o jovem poderá fazer parte da carga horária comum em uma escola e parte flexível, 1.200h, em outra. Isso tem capacidade de otimizar a oferta na rede e o investimento já alocado.

Em relação a desenvolver habilidades e competências e sair do foco apenas de conteúdo e, mais ainda, do professor se tornar um mediador, esse educador já formado precisa de uma formação continuada. Sabe como isso ocorrerá? De que forma o Estado de São Paulo já vem apoiando ou pretende apoiar os educadores e como está esse debate em nível nacional?

Isso precisa ocorrer. Recentemente tivemos a divulgação do Ideb 2019 e, apesar do avanço de 0.4, saindo de 3.8 em 2017 para 4.2 em 2019, o país ainda está distante da meta projetada de 5 pontos. Em âmbito nacional, por meio da Frente Currículo e Novo Ensino Médio do Consed que lidero, estamos apoiando as secretarias estaduais por meio de formações e apoio técnico para que criem bons planos de formação de professores para a implementação dos novos currículos.

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Autor

Laura Rachid


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