Valéria de Macedo e o marido transferiram o filho de 9 anos para a escola pública porqque ficaram sem recursos extras durante a pandemia — Foto: Valéria Aparecida de Souza de Oliveira Cordeiro de Macedo/Arquivo pessoal
Faltando dez dias para encerrar o período de matrículas da rede estadual de ensino no Paraná, 415 mil estudantes já garantiram as vagas para o ano letivo de 2021. São estudantes que estarão nos ensinos Fundamental, Médio, Técnico e do Ensino de Jovens e Adultos (EJA).
A Secretaria de Educação considera o número baixo, uma vez que neste ano as matrículas devem ser feitas de forma online até o dia 18 de dezembro. Pais ou responsáveis pelos alunos devem inserir a documentação necessária pelo site e não mais irem pessoalmente às escolas.
O governo espera a rematrícula dos 1 milhão e 70 mil alunos da rede e de outros 10 mil novos estudantes oriundos da rede particular.
Ao longo de 2020, segundo a Secretaria de Educação, 17 mil alunos de escolas particulares migraram para a rede estadual devido à pandemia do novo coronavírus. A maior parte mora na Região Metropolitana de Curitiba e nas regiões sudoeste e central do estado.
Dificuldades financeiras provocadas pela crise que se estabeleceu em alguns setores econômicos fizeram com que muitos pais mudassem crianças e adolescentes de instituição.
Extras se esgotaram
Esse foi o caso da Valéria Aparecida de Souza Oliveira Cordeiro Macedo, que é mãe de duas crianças e trabalha como supervisora de produção em uma fábrica de alimentos de Paranavaí, no noroeste do Paraná.
A família pagava a mensalidade da escola particular onde o filho de 9 anos estava matriculado com o dinheiro que o marido recebia de serviços extras.
"Para preservar a nossa saúde e dos nossos colegas de trabalho optamos por suspender esses trabalhos extras. Era com esse dinheiro que pagávamos as mensalidades. Com as crianças em casa, aumentaram outras despesas, como luz, água e mercado. A saída para evitar dificuldades financeiras foi transferir o Vitor para a escola pública", contou.
Valéria conta que o filho estudou por meio de apostilas e, ao longo do ano, aprendeu conteúdos novos. Quando não entendia algum tema, Vitor buscava explicações na internet e os pais passaram a se dedicar ainda mais pela educação do pequeno.
Já a filha mais nova, Maria Eduarda, de 4 anos, teve mais dificuldade de aprendizado e Valéria percebeu que a filha não evoluiu tanto quanto o esperado.
"Como não sabemos como será o ano que vem, não sabemos se teremos uma melhora financeira, o Vitor vai continuar na escola pública. Eu e meu marido esperamos que as aulas voltem a ser presenciais, claro que desde que todos tenham segurança, para eles voltarem a conviver com outras crianças e ter recordações na escola nesta fase. É na escola que fazemos os amigos que teremos para toda a vida", concluiu Valéria.
Planejando 2021
A diretora de Planejamento e Gestão Escolar da Seed, Adriana Kampa, afirma que a rede tem capacidade para absorver os novos alunos, mas pede que pais ou responsáveis pelas crianças não deixem para realizar as matrículas no último dia.
Quem faz a matrícula mais cedo pode ter mais chances de conseguir uma vaga em um colégio mais perto de casa e no turno que deseja.
“Temos uma constatação muito positiva sobre as transferências da rede particular. Há sim o motivo financeiro, mas, como as aulas são online em função da pandemia, todo mundo tem acesso e pode ver que o conteúdo é bom e tem qualidade. Esse comparativo foi muito importante e fez com que algumas pessoas colocassem isso na balança”, disse.
Desde o início de abril, o governo do Paraná passou a transmitir as aulas pelos canais digitais da TV aberta, lançou um aplicativo para conectar estudantes e professores, utiliza aplicativos do Google para analisar lições de casas e trabalho e também disponibiliza as aulas gravadas em canais do Youtube.
A Secretaria de Educação afirma que apenas 1% dos alunos matriculados na rede não está acompanhando as aulas ou fazendo as atividades propostas. O governo garante que tem feito um trabalho com as escolas e núcleos regionais de ensino para evitar a perda de aprendizado.
Ao longo dos últimos meses, educadores e professores criticaram as aulas remotas, afirmaram que muitos estudantes não estavam acompanhando e não tinham apoio pedagógico adequado.
Alguns pais também relataram preocupação com a forma de ensino adotada e com o futuro dos filhos em um ano sem explicações presenciais.
Muitas escolas particulares também precisaram se adaptar, comprar softwares e capacitar os professores para as aulas online.
Com o cancelamento de contratos, algumas instituições sentiram a pandemia muito mais do que outras. Professores tiveram os contratos suspensos e e ocorreu uma verdadeira disputa judicial para o retorno do ensino presencial, mesmo que de forma parcial.
Para 2021, o Sindicato da Escolas Particulares do Paraná (Sinepe) acredita que várias escolas ainda vão sentir os impactos econômicos de 2020, porém a expectativa é de que as matrículas voltem a ser efetivadas.
“Foi um ano extremamente difícil, mas me parece que o advento da vacina vamos reverter um pouco o quadro para 2021. Economicamente as escolas passaram por um ano difícil e precisam de recuperação. Acreditamos que a partir de janeiro as matrículas serão mais volumosas”, explicou o presidente do Sinepe, Douglas Oliani.
A previsão é de que o ano letivo, tanto para a pública quanto para a particular, comece em fevereiro de 2021.
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