Uma série de obras do poeta britânico William Shakespeare, entre elas clássicos como "Romeu e Julieta", foram banidas das escolas do condado de Hillsborough, no estado americano da Flórida, pelo excesso de conteúdo sexual. A medida foi tomada com base na Lei dos Direitos dos Pais na Educação, sancionada no ano passado pelo governador Ron DeSantis, pré-candidato às eleições presidenciais de 2024 pelo Partido Republicano.
A legislação proíbe qualquer debate de natureza sexual em sala de aula, exceto em disciplinas relacionadas à saúde. Na esteira da decisão, obras como "Hamlet" e "Macbeth" também tiveram trechos censurados. Em junho, a mesma lei foi usada como justificativa para banir uma versão ilustrada de "A Bela Adormecida".
De acordo com o distrito escolar de Hillsborough, os professores que não cumprirem as novas diretrizes serão alvos de processo disciplinar. No início do ano, uma professora foi demitida na Flórida por mostrar uma imagem da obra "David", de Michelangelo, durante uma aula.
No passado, as aulas de inglês na região exigiam que os estudantes lessem ao menos dois romances ou peças de teatro na íntegra durante o ano letivo, incluindo clássicos de Shakespeare. Atualmente, a obrigatoriedade foi limitada a um romance e fragmentos de cinco a sete livros ou peças de teatro, o que permite a censura de trechos considerados impróprios pela escola.
— Temos de nos certificar de que os nossos alunos estão estudando com material suficiente durante o ano para estarem preparados para as avaliações — afirmou a porta-voz do distrito escolar, Tanya Arja, ao Tampa Bay Times, sublinhando que a medida permite à escola retirar conteúdos impróprios a menores.
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Jessiva Vaughn, membro do conselho escolar local, criticou a iniciativa em seu perfil no Facebook, apontando que o comitê foi pego de surpresa com a decisão. Segundo ela, a Flórida também excluiu, novamente sem avisar aos pais, aulas de Psicologia Avançada da grade escolar após o conselho se recusar a excluir materiais sobre identidade de gênero e orientação sexual.
"Estou extremamente desiludida com o fato de a maioria dos nossos legisladores e o departamento de educação nomeado pelo governador [DeSantis] não estarem refletindo sobre os 'direitos dos pais' e imporem leis/regras educativas sem um feedback ponderado da comunidade", criticou Vaughn.
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"Sinceramente, parece que muito disto é intencional, para causar o maior caos possível no ensino público, para que o colapso do ensino público seja rápido e a agenda da privatização do ensino possa avançar com menos obstáculos", opinou Vaughn.
Em entrevista a um veículo local, um professor do condado classificou a medida como "absurda".
— Acho que o resto da nação, não, o mundo, está rindo de nós — disse o professor de literatura Joseph Cool. — Retirar Shakespeare na sua totalidade porque a relação entre Romeu e Julieta está de alguma forma explorando menores é simplesmente absurdo.