O Ministério da Educação finalizou uma portaria para suspender o cronograma de implementação do novo ensino médio. O documento deve ser assinado pelo ministro Camilo Santana nos próximos dias e interrompe a implementação no primeiro e segundo ano da etapa ainda em 2023, além de suspender a necessidade de adaptação do Enem ao novo modelo até 2024.
- Suspensão do novo ensino médio: entenda o que muda para os estudantes
- Famosos se posicionam: Luciano Huck defende Ensino Médio acima de 'ideologias' e Felipe Neto pede revogação imediata
Abaixo, dois artigos apresentam as principais correntes do que especialistas devem para corrigir os rumos dessa etapa escolar. De um lado, há os que apoiam a revogação completa para a construção de outro modelo. Do outro, os que apoiam ajustes estruturais e de implementação do novo ensino médio.
A reforma do ensino médio é indefensável, e deve ser revogada*
A reforma do ensino médio caiu sobre as escolas públicas do país como uma bomba. Pulverizou currículos, jornadas escolares, rotinas de trabalho e procedimentos administrativos de registro escolar e de atribuição de aulas.
Em escolas estaduais sem infraestrutura, estudantes e professores tentam dar sentido a centenas de novas disciplinas sem conteúdos e com ementas esdrúxulas. Apoiam-se mutuamente e fazem o possível para lidar, respectivamente, com a fadiga pela intensificação do trabalho docente e com o desalento pela aniquilação do acesso ao conhecimento via educação formal.
Já deveria ser óbvio que, a despeito do adjetivo, o “Novo” Ensino Médio é um retrocesso. É inclusive pior que o modelo anterior, como é possível constatar fazendo uma leitura honesta das pesquisas e escutando quem está vivendo o caos nas escolas públicas do país.
A revogação é a única possibilidade para uma reforma educacional de vastas proporções que não prevê a construção de uma única sala de aula, a melhoria de salários, carreiras e condições de trabalho docentes, nem uma política que garanta o acesso dos estudantes mais pobres às festejadas escolas de tempo integral. É uma reforma indefensável, deliberadamente desenhada para aprofundar desigualdades educacionais.
*Fernando Cássio é doutor em Ciências pela USP e professor da UFABC. Integra a Rede Escola Pública e Universidade (REPU) e o comitê diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. É o atual presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal do ABC (ADUFABC).
Freio de arrumação no Novo Ensino Médio é necessário, mas é preciso ir além**
É muito positivo que o ministro Camilo Santana tenha anunciado o adiamento das adequações do Enem ao Novo Ensino Médio, que deveriam ocorrer já no próximo ano. Professores e estudantes vêm apontando a urgência de respostas para problemas que estão nas salas de aula hoje. O momento exige mesmo um freio de arrumação.
Não podemos perder de vista que a essência do Novo Ensino Médio deve ser defendida e efetivada: a expansão da educação integral e a diversificação de itinerários com objetivo de aprofundamento do aprendizado dos jovens. Para isso, é preciso corrigir algumas normativas importantes, como a alteração do teto de horas na formação geral básica e a melhor definição dos itinerários. Além disso, para ser um verdadeiro novo Ensino Médio, é fundamental que o MEC assuma compromissos em relação a diversos outros pontos, como as melhorias substantivas na infraestrutura das escolas e maior apoio aos professores.
Ver o Ministério da Educação reassumindo a coordenação nacional sobre o tema, após quatro anos de descaso no governo Bolsonaro, é um alento.
**Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação