Descrição de chapéu
VÁRIAS AUTORAS

Retratos do Brasil: qual educação e para quem?

Urge formar pessoas comprometidas com a melhoria das condições de vida

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

VÁRIAS AUTORAS (nomes ao final do texto)

O acesso à educação é um dos fundamentos da desigualdade socioeconômica entre mulheres e homens. A combinação de muitos fatores explica essa desigualdade, como as diferenças regionais, de gênero, étnicas, de raça e de renda.

Pesquisas têm evidenciado a correlação entre a renda mensal média das pessoas entre 30 e 65 anos de idade e o número de anos completos de escolaridade. No Brasil, a lei 13.005/2014 sancionou o Plano Nacional de Educação (PNE), estabelecendo diretrizes, objetivos, metas e estratégias para até 2024.

Em 1989, Kimberlé Crenshaw, professora da Columbia Law School e ativista pelos direitos civis, cunhou o termo "interseccionalidade" para caracterizar o encontro de distintos marcadores sociais na produção de desigualdades. Segundo Crenshaw, pessoas que se encontram socialmente no lugar onde se sobrepõem discriminações de gênero, raça e classe são as que estão em maior desvantagem na hierarquia social.

Em estudo pioneiro de 1985, intitulado "Mulher Negra", a filósofa e ativista Sueli Carneiro demonstrou que as mulheres negras estavam em situação de desvantagem em relação às brancas em todos os aspectos avaliados, mas sobretudo no que diz respeito à situação educacional e à posição no mercado de trabalho (estrutura ocupacional e rendimento). Carneiro destacou a necessidade de se compreender as desigualdades tal como elas efetivamente se dão no Brasil, não bastando olhar apenas para classe social, gênero ou raça isoladamente, mas analisando a intersecção entre esses marcadores sociais e seus impactos. Esse permanece sendo um desafio atual, inclusive no âmbito da educação básica e no ensino superior.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação sinalizou a importância da manutenção do legado histórico, linguístico e ambiental para as gerações futuras. Nos últimos 20 anos, observa-se avanços no acesso e conclusão do ensino superior, em grande medida por conta das políticas de cotas raciais e sociais que começaram a ser aplicadas nas universidades brasileiras em meados dos anos 2000. Apesar dos avanços, os dados (Rais/2020) apontam que na última década as mulheres constituíram o grupo social com o menor vínculo empregatício formal, maior presença em contratos de regime parcial e menores níveis de remuneração em comparação ao grupo masculino.

Além do mais, há importante desigualdade de gênero nas ciências, pois as mulheres seguem predominantes nos cursos associados às tarefas de cuidado, como pedagogia, enfermagem e serviço social. Contudo, são minoria muito significativa nas áreas de STEAM (sigla em inglês para designar ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática), assim como na filosofia, áreas tradicionalmente vinculadas a habilidades consideradas, de maneira estereotipada, como masculinas.

Para reverter esse quadro, agentes políticos e as universidades precisam estabelecer políticas integradoras, articuladas entre si e voltadas para a cultura de cidadania, reconhecendo a centralidade da pauta das desigualdades e a necessidade incontornável de uma educação antirracista e antissexista em todos os níveis de ensino —do fundamental ao superior—, assumindo a responsabilidade de formar e capacitar pessoas comprometidas com a melhoria das condições de vida de todas as pessoas, especialmente daquelas que estão em piores condições na hierarquia social, ou seja, os grupos vulnerabilizados.

Jéssica Kellen Rodrigues
Doutoranda em filosofia (Unicamp)

Marcela Bonfim
Economista, fotógrafa e artista (Amazônia Negra/Madeira de Dentro)

Rafaela Mota Ardigó,
Doutoranda em tecnologia e sociedade (UTFPR/Getec)

Rosangela Hilário
Professora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR/RBMC)

Sueli Custódio
Professora do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA/RBMC)

Yara Frateschi
Professora da Unicamp

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​ ​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.