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O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), tem uma lista de problemas a enfrentar. No ranking do saneamento das cem maiores cidades brasileiras, organizado pelo Instituto Trata Brasil, a cidade catarinense mais bem colocada é Florianópolis, em 59º lugar, atrás de São Paulo, Curitiba, Brasília, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá, João Pessoa, Salvador, Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre. Santa Catarina também tem problemas nas estradas. Está em primeiro lugar em pontos críticos entre os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No ano passado, 120 pessoas morreram no trecho catarinense da BR-101, sinal de que o governo estadual deveria concluir mais rapidamente obras pensadas para desafogar a estrada federal. A educação também merece atenção. Na lista dos estados com o melhor desempenho no ensino médio, Santa Catarina está longe das primeiras colocações.

Com tantas urgências, o governo decidiu que sua prioridade era entrar nas famigeradas guerras culturais. Numa atitude que evoca os tempos sombrios da censura, a Secretaria de Educação catarinense tirou nove livros de circulação das bibliotecas de escolas. Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mello tentou assumir a posição — inconstitucional, é fundamental lembrar — de fiscal zeloso das ideias que circulam nas escolas.

Na lista de banidos estão romances já clássicos como “It — A coisa”, do americano Stephen King; “Laranja mecânica”, do britânico Anthony Burgess (transformado em filme por Stanley Kubrick) ou “Coração satânico”, de William Hjortsberg (também objeto de adaptação cinematográfica dirigida por Alan Parker, com Robert De Niro e Mickey Rourke nos papéis principais). Os livros retirados ainda incluem “O diário do diabo: os segredos de Alfred Rosenberg, o maior intelectual do nazismo”, de Robert K. Wittman e David Kinney, e “Exorcismo”, de Thomas B. Allen.

Ofício assinado por autoridades da secretaria determina que as obras “sejam retiradas de circulação e armazenadas em local não acessível à comunidade escolar”. Diante da repercussão negativa, o governo disse que os títulos seriam “redistribuídos, buscando adequar as obras literárias às faixas etárias das diferentes modalidades oferecidas na rede estadual”.

Censura é prática comum em regimes autoritários. Nas democracias, a regra é a livre circulação de ideias. A tentativa de agradar a determinados grupos de eleitores restringindo o acesso e a circulação de livros não passa de populismo barato e precisa ser repudiada com veemência. Bibliotecários e professores têm plena capacidade — e o dever — de indicar obras para cada faixa etária e de ajudar alunos na compreensão dos temas mais espinhosos ou sujeitos a controvérsia. Se está preocupado em proteger os jovens catarinenses, Mello deveria cuidar melhor do saneamento, das estradas, da qualidade do ensino e de todas as outras carências do estado.

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