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Responsável por projeto social na Maré mostra placas após oito mortes: 'Escola. Não atire'

Intenção, segundo a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, é chamar a atenção para o risco do uso de snipers durante operações em comunidade
A placa instalada no projeto Uerê Foto: Facebook / Reprodução
A placa instalada no projeto Uerê Foto: Facebook / Reprodução

RIO — No mesmo dia em que uma operação da Polícia Civil no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, deixou oito mortos e teve tiros disparados por agentes de um helicóptero , a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello compartilhou fotos de placas que instalou no Uerê, projeto social que desenvolve na comunidade. Ela mostrou os dizeres "Escola. Não atire", que ficam no teto e na frente do imóvel jovens e crianças que sofrem traumas por causa da violência são atendidos. A ação policial ocorreu última segunda-feira.

As fotos de Yvonne viralizaram nas redes sociais nesta sexta-feira. As placas, explica ela, não são novidade: foram instaladas há dois anos. Mas a artista plástica decidiu mostrá-las novamente porque, em suas palavras, "a situação não mudou, só piorou".

A placa no teto da sede do projeto Foto: Facebook / Reprodução
A placa no teto da sede do projeto Foto: Facebook / Reprodução

— Eu coloquei a placa dois anos atrás porque um helicóptero atirou no teto do Uerê. A situação não mudou, só piorou e a placa continua lá. Como um aviso do que acontece nas comunidades — disse Yvonne.

Segundo ela, a intenção da postagem é chamar atenção para o risco que representa o uso de snipers em ações policiais em comunidades:

— Estou chamando a atenção internacionalmente para o descalabro dessa política de legitimar snipers. Dessa política de matar indiscriminadamente.

No post feito nesta segunda-feira, Yvonne escreveu: "Por essas e outras que coloquei no teto e na fachada do Uerê para ver se não nos matam em dias de confronto. Uma vez um helicóptero metralhou a escola. A que ponto chegamos!".

'Operação caracterizada pela letalidade', diz ouvidor da Defensoria Pública

Um equipe da Defensoria Pública estadual esteve na Maré na terça-feira e ouviu relatos de moradores — que serão entregues ao Ministério Público para que sejam apurados eventuais abusos nos disparos feitos do helicóptero. Ao todo, 25 pessoas foram ouvidas por defensores no Conjunto Esperança e nas favelas Salsa & Merengue, Vila do Pinheiro e Vila do João.

Quem estava em casa se desesperou com os tiros do alto, que quebravam telhas, aumentando o risco de bala perdida. Imagens mostraram estudantes de escolas da região correndo, assustados, para se protegerem do tiroteio ou agachados em corredores e refeitórios das unidades.

Ouvidor da Defensoria Pública, Pedro Strozenberg disse que os moradores não souberam descrever os tipos de disparos, mas asseguraram que foram feitos do helicóptero da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

— Eles descreveram a ação, a chegada do helicóptero e dos carros blindados. Foi uma operação caracterizada pela letalidade. Nos informaram que era uma situação possível de rendição e que mortes poderiam ser evitadas. O que queremos saber é se essa ação foi marcada pela ilegalidade ou se foi uma dinâmica dentro dos marcos normativos vigentes — explicou Strozenberg, adiantando que será pedida perícia para os locais onde aconteceram os disparos, na Maré.

A operação tinha como objetivo prender o traficante Thomaz Jhayson Vieira Gomes, o 3N, do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, município da Região Metropolitana. Uma denúncia anônima indica que o criminoso está na Maré e, agora, pode estar ferido.