RIO - O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou em entrevista ao Sem Censura, da TV Brasil, que reitores das universidades federais não podem ser 'esquerdistas, nem lulistas'.
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— Alguns optaram por visões de mundo socialistas. Não precisa ser bolsonarista. Mas não pode ser esquerdista, nem lulista. Reitor tem que cuidar da educação e ponto final. E respeitar todos que pensam diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político; nem direita, muito menos de esquerda — defendeu.
Ribeiro afirmou que tem bom diálogo com cerca de 20 a 25 reitores, das 69 universidades federais, e contou que levou dez deles para conversar com o presidente Jair Bolsonaro.
— Se na lista tríplice já tem gente reclamando, imagina se a gente pudesse indicar diretamente. É uma expressão da vontade dos alunos e não me oponho a ela, nesse primeiro momento. Tem que saber conviver com isso. A autonomia universitária, vale lembrar, não é soberania universitária. Alguns entendem assim — afirmou.
O ministro ainda defendeu a educação técnica e afirmou que os institutos federais, com cursos profissionalizantes de nível técnico, serão as "grandes vedetes do futuro".
— A universidade, na verdade, deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade. Tem muito engenheiro dirigindo Uber — afirma.
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Pastor e ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ribeiro afirmou que não conhecia estruturas do MEC como a rede federal de educação técnica e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Ele acrescentou que pais de alunos da educação básica devem procurar o conselho tutelar se encontrarem conteúdo ideológico nos livros didáticos.
— Não posso fazer nada em relação a isso, mas os pais podem procurar autoridade pedagógica na cidade ou até mesmo o conselho tutelar — declarou Ribeiro.
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O ministro, titular da pasta há pouco mais de um ano, avisou que vai priorizar escolas sem água encanada, esgoto tratado e energia elétrica antes de resolver a falta da conectividade. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória que acaba com o prazo para o governo federal repassar R$ 3,5 bilhões a estados e municípios para garantir internet a alunos e professores da rede pública.
— Tenho 3.440 escolas públicas sem água, 8.527 sem saneamento, 3.817 sem energia elétrica. Isso não quer dizer que vou virar as costas para a conectividade. Mas tenho que ter prioridades e essas são as minhas. O aluno da grande cidade tem condição bem melhor do que as 54 mil escolas rurais que tenho no Brasil. Além disso, nosso sinal de internet é muito rústico. Imagine o povo no meio rural. Vai por o tablet de enfeite na prateleira. Não vão ter o que fazer — afirmou o ministro.
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O Brasil tem cerca de 138 mil escolas públicas. Milton Ribeiro afirmou ainda que entende que o Enem é muito democrático porque mais de 50% dos inscritos são gratuitas.
— O Enem é uma prova caríssima. Não é para todo mundo. Não dá. O Enem é uma prova caríssima. Queremos que ela seja uma prova bem feita. Mas tem muita gente que pela gratuidade nem comparece. E então a gente gasta com impressão, correção que já contratei, local de prova. Dinheiro público desperdiçado. Esses tiveram que pagar — afirmou.
Enem mais restrito
Dez partidos e organizações da sociedade civil entrarão no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira pedindo mudanças na regra para gratuidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para beneficiar candidatos pobres ainda em 2021. A expectativa do grupo é que a medida consiga incluir entre 1,5 milhão e 2 milhões de candidatos.
Até agora, PT, Rede, PSB, PC do B, PV, PDT, Cidadania, PSOL, PSTU e Solidariedade assinam a ação proposta pela Educafro, uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), em conjunto com a UNE, UBES, OAB e Frente Anti Racista.
O grupo quer derrubar a regra do Ministério da Educação que negou a isenção da prova àqueles que faltaram ao exame no ano passado por medo da Covid-19 e, por isso, perderam o direito ao benefício. Essa é uma das principais explicações para que o Enem desse ano tenha o menor número de inscritos desde 2005.
No Enem 2020, 55,3% (3 milhões de inscritos) faltaram às provas realizadas em janeiro de 2021. A ação argumenta que a situação da pandemia no momento em que a prova foi realizada era alarmante, com recorde de mortes desde julho do ano anterior.
“O registro de 29.555 mortes daquele mês só não ultrapassava os picos de junho e julho de 2020, com 31.627 mortes. O mês foi também, à época, o maior em número de novos casos, com 1.386.005 pessoas contaminadas pela Covid no país”, diz o texto.