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'Reitor de universidade federal não pode ser esquerdista', diz ministro da Educação

Defendendo ensino técnico, Milton Ribeiro afirmou ainda 'universidade tem que ser para poucos'
Atuação de Milton Ribeiro, titular da Educação desde julho de 2020, é criticada por falta de sentido de urgência Foto: Jorge William / Agência O Globo / 15-9-2020
Atuação de Milton Ribeiro, titular da Educação desde julho de 2020, é criticada por falta de sentido de urgência Foto: Jorge William / Agência O Globo / 15-9-2020

RIO - O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou em entrevista ao Sem Censura, da TV Brasil, que reitores das universidades federais não podem ser 'esquerdistas, nem lulistas'.

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— Alguns optaram por visões de mundo socialistas. Não precisa ser bolsonarista. Mas não pode ser esquerdista, nem lulista. Reitor tem que cuidar da educação e ponto final. E respeitar todos que pensam diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político; nem direita, muito menos de esquerda — defendeu.

Ribeiro afirmou que tem bom diálogo com cerca de 20 a 25 reitores, das 69 universidades federais, e contou que levou dez deles para conversar com o presidente Jair Bolsonaro.

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— Se na lista tríplice já tem gente reclamando, imagina se a gente pudesse indicar diretamente. É uma expressão da vontade dos alunos e não me oponho a ela, nesse primeiro momento. Tem que saber conviver com isso. A autonomia universitária, vale lembrar,  não é soberania universitária. Alguns entendem assim — afirmou.

O ministro ainda defendeu a educação técnica e afirmou que os institutos federais, com cursos profissionalizantes de nível técnico, serão as "grandes vedetes do futuro".

— A universidade, na verdade, deveria ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade. Tem muito engenheiro dirigindo Uber — afirma.

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Pastor e ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Ribeiro afirmou que não conhecia estruturas do MEC como a rede federal de educação técnica e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Ele acrescentou que pais de alunos da educação básica devem procurar o conselho tutelar se encontrarem conteúdo ideológico nos livros didáticos.

— Não posso fazer nada em relação a isso, mas os pais podem procurar autoridade pedagógica na cidade ou até mesmo o conselho tutelar — declarou Ribeiro.

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O ministro, titular da pasta há pouco mais de um ano, avisou que vai priorizar escolas sem água encanada, esgoto tratado e energia elétrica antes de resolver a falta da conectividade. Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória que acaba com o prazo para o governo federal repassar R$ 3,5 bilhões a estados e municípios para garantir internet a alunos e  professores da rede pública.

— Tenho 3.440 escolas públicas sem água, 8.527 sem saneamento, 3.817 sem energia elétrica. Isso não quer dizer que vou virar as costas para a conectividade. Mas tenho que ter prioridades e essas são as minhas. O aluno da grande cidade tem condição bem melhor do que as 54 mil escolas rurais que tenho no Brasil. Além disso, nosso sinal de internet é muito rústico. Imagine o povo no meio rural. Vai por o tablet de enfeite na prateleira. Não vão ter o que fazer — afirmou o ministro.

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O Brasil tem cerca de 138 mil escolas públicas. Milton Ribeiro afirmou ainda que entende que o Enem é muito democrático porque mais de 50% dos inscritos são gratuitas.

— O Enem é uma prova caríssima. Não é para todo mundo. Não dá. O Enem é uma prova caríssima. Queremos que ela seja uma prova bem feita. Mas tem muita gente que pela gratuidade nem comparece. E então a gente gasta com impressão, correção que já contratei, local de prova. Dinheiro público desperdiçado. Esses tiveram que pagar — afirmou.

Enem mais restrito

Dez partidos e organizações da sociedade civil entrarão no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira pedindo mudanças na regra para gratuidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para beneficiar candidatos pobres ainda em 2021. A expectativa do grupo é que a medida consiga incluir entre 1,5 milhão e 2 milhões de candidatos.

Até agora, PT, Rede, PSB, PC do B, PV, PDT, Cidadania, PSOL, PSTU e Solidariedade assinam a ação proposta pela Educafro, uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), em conjunto com a UNE, UBES, OAB e Frente Anti Racista.

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O grupo quer derrubar a regra do Ministério da Educação que negou a isenção da prova àqueles que faltaram ao exame no ano passado por medo da Covid-19 e, por isso, perderam o direito ao benefício. Essa é uma das principais explicações para que o Enem desse ano tenha o menor número de inscritos desde 2005.

No Enem 2020, 55,3% (3 milhões de inscritos) faltaram às provas realizadas em janeiro de 2021. A ação argumenta que a situação da pandemia no momento em que a prova foi realizada era alarmante, com recorde de mortes desde julho do ano anterior.

“O registro de 29.555 mortes daquele mês só não ultrapassava os picos de junho e julho de 2020, com 31.627 mortes. O mês foi também, à época, o maior em número de novos casos, com 1.386.005 pessoas contaminadas pela Covid no país”, diz o texto.