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Reforma ministerial tem disputa entre nomes do centrão e '02' de titulares

Ao menos 11 dos 23 ministros de Bolsonaro devem deixar suas pastas para disputar as eleições em outubro - Pedro Ladeira/Folhapress
Ao menos 11 dos 23 ministros de Bolsonaro devem deixar suas pastas para disputar as eleições em outubro Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Luciana Amaral e Lucas Valença*

Do UOL, em Brasília

09/02/2022 04h00

As articulações para a reforma ministerial do governo Jair Bolsonaro (PL) já envolvem disputas por espaço entre nomes indicados pelo centrão e secretários-executivos de ministérios que podem ser promovidos à vaga de seus chefes.

Na semana passada, o presidente afirmou que 11 dos seus 23 ministros sairão dos cargos para que possam ser candidatos nas eleições de outubro deste ano. A expectativa é que a debandada dos auxiliares seja oficializada em 31 de março. O prazo de desincompatibilização é no início de abril. O presidente não quis antecipar possíveis substitutos, e disse que os nomes só serão conhecidos quando publicados no Diário Oficial da União.

O esboço de como ficará a composição da Esplanada dos Ministérios já começou, assim como a cobiça pelo comando das pastas por partidos e políticos.

O UOL apurou que partidos do centrão, em especial o PP e o Republicanos, reivindicam o direito de indicar mais nomes ao primeiro escalão. As siglas fazem parte da base de sustentação do governo Bolsonaro no Congresso e acreditam estar sub-representadas no comando de ministérios.

O centrão é um grupo informal composto por partidos sem uma linha ideológica comum que costuma se aliar a quem estiver no poder no momento. Seus partidos miram os ministérios da Agricultura, da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional, responsáveis por tocar obras do governo — ainda mais em ano eleitoral — e com orçamentos polpudos. Essas legendas estão de olho também em pastas sob o comando da ala mais ideológica, ainda remanescente no governo federal, mas que vem perdendo força.

Para evitar uma "corrida de partidos" em busca de novos ministérios, o governo tem tentado convencer a base aliada de que parte dos secretários-executivos dos ministérios assumirá o controle das pastas. Na prática, os secretários-executivos são os principais auxiliares dos ministros e tidos como a segunda pessoa mais importante na hierarquia ministerial.

Há a possibilidade de que o governo alce a ministros os secretários-executivos da Infraestrutura e da Agricultura, Marcelo Sampaio e Marcos Montes, respectivamente.

Sampaio é tido como técnico e bem visto por parlamentares, além de ser genro do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos.

Marcos Montes tem apoio de membros da Frente Parlamentar da Agropecuária. No entanto, sua ligação com o PSD, comandado por Gilberto Kassab, que não quer o partido fortemente vinculado ao governo Bolsonaro, pode atrapalhar eventuais planos. O ex-deputado tucano Nilson Leitão é visto como opção.

A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, também não deve ser substituída por um político, apurou o UOL, embora não se saiba se o secretário-executivo entrará em seu lugar.

A estratégia do governo de tentar "proteger" alguns ministérios do centrão com a promoção de nomes, em tese, mais técnicos, porém, tem sido criticada internamente por alguns partidos, que aventam indicar políticos sem mandato ou senadores que não tenham a necessidade de se reeleger este ano.

Em ministérios já comandados pelo centrão, a tendência é que os novos ministros sejam indicados pelos mesmos partidos. Por exemplo, o ministro da Cidadania, João Roma, deve sair para tentar a eleição ao governo da Bahia e o Republicanos, ao qual é filiado, deve continuar a dar as cartas sobre seu sucessor.

A intenção de políticos consagrados no centrão é manter o prestígio de terem a oportunidade de "fazer um ministro", como ressaltou um articulador ligado a alguns partidos.

Ao mesmo tempo, não são todos os políticos, nem mesmo do centrão, que querem abraçar o governo e ter a imagem tão próxima a Bolsonaro por medo de que o presidente não consiga se reeleger ao Planalto. Parte dos parlamentares da base aliada do governo, por exemplo, conversa com adversários de Bolsonaro na disputa, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ao contrário do que acontece no Senado, todos os mandatos dos deputados federais vão se encerrar no início do ano que vem. Portanto, precisam se reeleger neste ano ou alçar outros voos.

Por isso, a tendência é que não haja deputados federais entre os novos ministros e que, quando estes não forem os secretários-executivos, sejam políticos sem mandato ou senadores que não dependam da reeleição à Casa.

Quem deve sair do governo

Veja quais são os ministros que devem sair do governo para tentar se eleger em outubro e os possíveis cargos aos quais concorrerão:

  • Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura: governador de São Paulo;
  • Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho e Previdência: governador do Rio Grande do Sul;
  • João Roma, ministro da Cidadania: governador da Bahia;
  • Rogério Marinho, ministro do Desenvolvimento Regional: senador pelo Rio Grande do Norte;
  • Fábio Faria, ministro das Comunicações: senador pelo Rio Grande do Norte;
  • Tereza Cristina, ministra da Agricultura: senadora por Mato Grosso do Sul ou vice de Bolsonaro;
  • Flávia Arruda, ministra da Secretaria de Governo: senadora pelo Distrito Federal;
  • Damares Alves, ministra dos Direitos Humanos: senadora por São Paulo ou Alagoas;
  • Anderson Torres, ministro da Justiça: deputado federal ou senador pelo Distrito Federal;
  • Gilson Machado, ministro do Turismo: deputado federal, senador ou governador de Pernambuco.

Cenário indefinido

Alguns ministros ainda avaliam se vão se manter no governo ou eventualmente para quais cargos teriam chances. São eles:

  • Marcelo Queiroga, ministro da Saúde;
  • Milton Ribeiro, ministro da Educação;
  • Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente;
  • Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia.

Quem deve ficar

Os seguintes ministros, em princípio, não devem sair para concorrer a cargos públicos nas eleições de outubro devido a interesses pessoais/profissionais:

  • Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil;
  • Paulo Guedes, ministro da Economia;
  • Carlos Alberto França, ministro das Relações Exteriores;
  • Walter Braga Netto, ministro da Defesa (embora também cotado a vice de Bolsonaro na tentativa de reeleição);
  • Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia;
  • Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
  • Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência;
  • Wagner Rosário, ministro da Controladoria-Geral da União;
  • Bruno Bianco, advogado-geral da União.

* Colaborou Carla Araújo, colunista do UOL, em Brasília.