Editorial
PUBLICIDADE
Editorial

A opinião do GLOBO

Informações da coluna

Editorial

A opinião do GLOBO.

Por

Gestores, políticos, sindicatos, entidades estudantis e pais debatem há anos as mudanças aprovadas em 2017 no ensino médio, guiados por suposições a respeito do que pensam os jovens. Deveriam ouvi-los. Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo movimento Todos Pela Educação mostra que a maioria dos jovens de 14 a 16 anos — ingressantes no ensino médio — defende alguma flexibilização no currículo, em sintonia com a reforma.

Os que reivindicam um currículo mais flexível somam 65%. Destes, 35% são favoráveis a uma escola que ofereça em parte do tempo as mesmas disciplinas a todos os alunos e, noutra, a oportunidade de aprofundar conhecimentos em matérias de maior interesse. Outros 30% defendem uma escola que combine disciplinas comuns e um curso técnico. Uma fatia de 35% é favorável ao modelo adotado antes da reforma: as mesmas disciplinas para todos os alunos.

O levantamento revela também que, embora o debate sobre as mudanças no ensino médio mobilize os meios educacionais e as redes sociais, a discussão ainda é tímida entre os estudantes. Apenas 8% dos entrevistados disseram estar “bem informados” sobre a questão, e 53% relataram não ter conhecimento.

O Ministério da Educação deveria dar atenção à pesquisa. Até agora, o governo, pressionado por sindicatos e grupos contrários, tem protelado a implantação da reforma aprovada no Congresso. Em abril do ano passado, o ministro da Educação, Camilo Santana, decidiu suspender o cronograma, sob o argumento de que as mudanças precisavam ser aperfeiçoadas. No fim do ano, foi enviado um Projeto de Lei ao Congresso, e lá permanece, porque o MEC se mostra incapaz de superar o impasse com os parlamentares em torno do tema.

É verdade que a reforma precisava de ajustes. Uma das críticas ao novo modelo é ele dedicar pouco tempo às disciplinas tradicionais e muito à parte flexível do currículo. Mas pequenas correções de rumo não podem servir de pretexto para jogar fora toda a reforma. O projeto que adormece no Congresso busca aperfeiçoá-la, mantendo os pontos positivos, como maior flexibilização, valorização do ensino técnico e currículos mais sintonizados com os interesses dos estudantes e as demandas do mercado de trabalho.

Governo e Congresso precisam entender que os próprios estudantes desejam ter liberdade para escolher o que querem estudar, evidentemente sem esquecer as disciplinas básicas. Estão em consonância com o espírito do novo ensino médio. É fundamental que o projeto avance, para que as mudanças sejam logo implementadas. Ganharão os estudantes, o mercado de trabalho e o Brasil.

Mais recente Próxima Inchaço do cadastro distorce Bolsa Família