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Por Editorial

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que começou a ser aplicado no último domingo e continua hoje em todo o Brasil, precisará ser recuperado pelo futuro governo. Nos últimos anos, mesmo levando em conta os efeitos da pandemia, ficou patente o esvaziamento da prova, esperança dos jovens para entrar numa universidade. Desprestígio que se revela não só na queda no número de inscritos, mas também na gestão claudicante do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame.

Embora os 3,3 milhões de inscritos neste ano representem um aumento em relação aos 2,2 milhões de 2021, o número está bem aquém do registrado no passado. Em 2014, 5,9 milhões se candidataram. Mais que constatar a queda, é preciso buscar os motivos que afastam os jovens da prova.

É evidente que a pandemia teve papel crítico (em 2021, o Enem registrou o menor número de inscritos desde que virou vestibular). O tempo demasiado que as escolas ficaram fechadas prejudicou os alunos, especialmente os de baixa renda. Como poderiam concorrer em igualdade de condições com quem teve acesso aos conteúdos? É preciso considerar também que, com o agravamento da crise econômica, muitos jovens tiveram de entrar prematuramente no mercado de trabalho, abandonando o sonho do ensino superior para ajudar suas famílias.

Mas o coronavírus não é o único culpado de tudo. A inépcia do Ministério da Educação no governo Bolsonaro e o aparelhamento de órgãos técnicos contribuíram para agravar a situação. Durante a gestão do ex-ministro Milton Ribeiro, que caiu em meio a denúncias de corrupção no MEC, o Inep se transformou numa fábrica de crises. No ano passado, às vésperas do exame, 31 coordenadores pediram exoneração denunciando o desmonte da autarquia.

O patrulhamento do Enem foi um capítulo à parte. Numa atitude inconcebível, o próprio presidente Jair Bolsonaro demonstrou intenção de interferir nas questões, vetando as que não estivessem alinhadas à ideologia bolsonarista. Bolsonaro negou ter tido acesso ao conteúdo com antecedência, mas disse que as questões começavam a ter “a cara do governo”. Felizmente, o corpo técnico do Inep resistiu às investidas, como comprova a escolha do tema da redação deste ano sobre os povos originários.

Espera-se que o Brasil vire essa página que mistura inépcia, negligência e aparelhamento. Entre outras medidas importantes, como a renovação do banco de questões que já está no limite, o novo governo terá de adequar o exame aos novos parâmetros da reforma do ensino médio já em 2024. E, claro, trabalhar para atrair mais inscritos e reduzir a abstenção (de 26,7% na primeira prova domingo passado). Os estudantes precisam se sentir estimulados e preparados para a prova. Não será tarefa fácil diante do desmonte da educação nos últimos anos.

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