Érica Fraga

Repórter especial, ganhou o prêmio Esso em 2013. É mestre em política econômica internacional pela Universidade de Warwick (Inglaterra).

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Receita de boa educação inclui caça a pais e reforço preventivo

Bater nas portas das famílias para evitar que faltas culminem em evasão

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Alunos em Sobral (CE), uma das primeiras colocadas na mais recente edição do Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira)
Alunos em Sobral (CE), uma das primeiras colocadas na mais recente edição do Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira) - Eduardo Anizelli - 8.nov.15/Folhapress

O ciclo escolar recomeçou nos últimos dias na maior parte do país e, com ele, ressurge o desafio premente de melhorar a qualidade da educação brasileira.

Nossos resultados gerais em testes de aprendizagem nos últimos anos não foram nada vistosos. Mas, como em muitos casos, as generalizações aqui não dizem tudo.

No debate crucial sobre o que precisamos melhorar —e, em um ano eleitoral, essa questão deve ser enfatizada—, deveríamos ressaltar também o que parece estar dando certo.

Alguns municípios brasileiros têm tido mais sucesso do que outros na oferta de uma boa educação.

É importante entender e discutir o que distingue Sobral e Frecheirinha, no Ceará, de Lamarão, na Bahia, e Marajá do Sena, no Maranhão.

As duas cidades cearenses foram as primeiras colocadas na mais recente edição do Ioeb (Índice de Oportunidades da Educação Brasileira), divulgada em dezembro pelo Centro de Liderança Pública; os outros dois municípios ocuparam as últimas posições do mesmo ranking.

Os pesquisadores Fabiana de Felício e Reynaldo Fernandes, idealizadores do Ioeb, buscaram respostas para essa questão por meio de entrevistas com 27 secretários municipais entre os cem melhores Ioebs do Brasil. Conversaram também com quatro representantes de cidades com alguns dos piores desempenhos.

É interessante notar que, mesmo que não exista uma bala de prata em educação, há práticas compartilhadas por municípios que vêm se destacando.

Igualmente relevante é a indicação de que bons exemplos, se bem copiados e adaptados, funcionam. Municípios do Ceará que se inspiraram no exemplo de Sobral e têm procurado adaptá-lo para suas realidades parecem corroborar isso. Não por acaso a participação das cidades do Estado nordestino entre as 30 primeiras do ranking do Ioeb saltou de 5 para 12 entre 2015 e 2017.

Muitos dos municípios bem-sucedidos —do Ceará e do resto do país— costumam começar com um bom começo. Isso significa garantir vagas para todas as crianças que precisam de creche. Outra diretriz é o máximo de esforço para manter todos na escola até o fim.

Para isso, esses gestores têm empreendido esforços que incluem uma verdadeira caça aos pais. Em Sobral, por exemplo, há parceria entre as áreas de educação, assistência social e saúde para ir atrás de gestantes cujos filhos poderão precisar de vaga na rede pública.

Em 62% dos 27 municípios cujos representantes foram entrevistados, as escolas vão atrás dos pais após 3 ou 4 dias de falta dos alunos. Em 31% deles, o rigor é ainda maior: a procura ocorre após uma ou duas ausências. É o caso de Nova Olinda, também no Ceará, onde um funcionário vai à casa da família para checar pessoalmente o que ocorreu.

Alunos que faltam menos na escola têm risco muito menor de evasão, e isso, consequentemente, melhora a aprendizagem.

Outra medida que os municípios ouvidos adotam é o uso de avaliações frequentes cujo objetivo é acompanhar o desempenho dos alunos de forma sistemática e identificar o quanto antes aqueles que enfrentam dificuldades.

Assim como bater nas portas das famílias para evitar que faltas culminem em evasão, essa é uma ação preventiva. As redes que a adotam costumam oferecer reforço para os estudantes com problemas antes que virem uma bola de neve difícil de ser freada.

O processo de indicação de diretores de escolas nesses municípios com melhores práticas não chega a ser uma maravilha, mas parece menos vinculado a critérios puramente políticos que no resto do país.

Levantamento feito pela Folha em setembro de 2017 apontou que, em 45% dos municípios brasileiros, o principal critério de seleção para esses profissionais é a mera indicação (os dados baseados em questionários não permitem separar apontamento político ou técnico, mas quem conhece bem a área garante que o primeiro filtro tende a prevalecer nesses casos).

Nas cidades com melhores resultados no Ioeb, a fatia que engloba indicação política ou técnica é de 35%, dez pontos percentuais menor do que a média brasileira.

O investimento em formação continuada dos professores —com foco em prática pedagógica e conhecimentos específicos da área lecionada— é outro ponto compartilhado por alguns municípios que têm oferecido educação de melhor qualidade.

Uma maior autonomia das secretarias de educação para administrar os recursos da área e a busca por outras fontes de dinheiro para investimentos também fazem parte do rol de medidas destacadas pelos idealizadores do Ioeb. Algumas redes têm ofertado ainda educação integral, aparentemente, com bons resultados.

Outras pesquisas internacionais e nacionais mostram a existência de correlação entre algumas das práticas identificadas nos municípios com Ioeb alto (como interesse dos pais na vida escolar dos filhos) e um bom desempenho de alunos em testes de aprendizagem.

Nenhum estudo traz uma receita fechada que possa ser copiada e adotada prontamente. Mas as pistas que eles apresentam podem ser um ponto de partida para o desenho de políticas promissoras.

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