Jovem quilombola consegue bolsa integral para estudar nos EUA
‘Para que eu pudesse ter oportunidades, muita gente do meu povo teve que se sacrificar’, esse é o relato do jovem quilombola João Pedro Haufes, de 18 anos, que conquistou uma bolsa integral para cursar Ciência da Computação e Linguística, na Duke University, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Quando recebeu o resultado da aprovação, a família não conteve a emoção. (Veja vídeo acima).
João Pedro nasceu e foi criado na comunidade quilombola Tia Eva, localizada em Campo Grande (MS). Ao g1, o jovem relatou que o sonho de estudar no exterior veio da vontade de promover mudanças tanto na sociedade, como em sua comunidade.
“Para que eu pudesse ter oportunidades, muita gente do meu povo teve que se sacrificar. Sempre quis contribuir com o lugar de onde eu vim, agora terei essa chance. Pretendo estudar ciência da computação, a tecnologia é o futuro!”, destacou.
Durante os próximos 4 anos, João Pedro estará na Duke University. — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
Igualdade racial
Aluno do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), João Pedro participou de diversos projetos sociais sobre igualdade racial e educação. Ainda no ensino médio, João Pedro criou sua própria pesquisa sobre aquisição de idiomas e desenvolveu um site para preservar a história e a cultura de seu grupo étnico.
A mãe de João Pedro é cabelereira e o pai é professor e sempre valorizaram a educação dos filhos. O jovem quilombola foi criado na Comunidade Tia Eva, que foi uma escrava que realizou diversos trabalhos como parteira, cozinheira, entre outras atividades e se tornou referência na região.
“A minha comunidade foi criada em 1905, desde então as pessoas lutam por educação, saneamento básico e outras questões para ter uma vida digna. Aqui todos vivemos em comunhão e sei que todos estão felizes por mim”, disse.
João Pedro conseguiu vaga em universidade dos EUA — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
Após o período de estudo no exterior, João conta que pretende retornar ao Brasil para aplicar os conhecimentos ao seu povo. “Preciso, como forma de respeito, honrar minhas origens. Meu objetivo é buscar experiências significativas para voltar para comunidade e ajudar o meu pessoal a se desenvolver”, destaca.
Dedicação
Para conciliar o processo de seleção para a Duke e o último ano do ensino médio, João Pedro estudou até doze horas por dia, de segunda a sexta, e também nos finais de semana, por videoaulas online, cursos e apostilas.
João Pedro Haufes, de 18 anos, é natural da Comunidade Tia Eva — Foto: Arquivo pessoal/ Reprodução
O jovem teve orientação do Programa Oportunidades Acadêmicas, uma iniciativa do EducationUSA, rede filiada ao Departamento de Estado Norte-Americano e parte da Missão Diplomática dos Estados Unidos no Brasil, para conseguir uma das vagas. Durante pouco mais de um ano, João Pedro realizou cursos, entrevistas e consultorias, que o auxiliaram no processo de seleção.
“Fui atrás de pessoas que poderiam me ajudar a realizar esse sonho, o programa custeou todo meu processo de candidatura para a universidade. Teve dias que passei mais de 12 horas trancado no quarto me preparando, hoje sei que valeu a pena”, celebrou.