Brasil Educação

Quase metade dos alunos que abandonaram as aulas afirmam que voltarão após vacinação, diz pesquisa

Estudantes de 15 a 29 anos foram ouvidos na pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, que teve apoio da Fundação Roberto Marinho
Escola Municipal Laudimiro Roriz, em Luiziânia, Goiás Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Escola Municipal Laudimiro Roriz, em Luiziânia, Goiás Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — Pesquisa que ouviu 68 mil jovens de 15 a 29 anos mostra que quase metade (47%) dos que abandonaram as salas de aula pensam em retomar os estudos após a vacinação no país. Além disso, 36% dizem que precisam de garantia de renda básica ou auxílio emergencial, aponta o levantamento  “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus (Covid-19)”.

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— Esses jovens estão falando: ajudem a gente a lidar com a crise sanitária e a garantir o nosso sustento que a gente volta — afirma Marisa Villi, diretora executiva da Rede Conhecimento Social.

O levantamento foi realizado pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho , Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial, ouviu 68 mil jovens de todo o Brasil entre os dias 22 de março e 16 de abril.

De acordo com a pesquisa, 43%  disseram que já pensaram em parar de estudar desde que suas rotinas foram alteradas pelo coronavírus. Na mesma consulta realizada em junho de 2020, esse número era de 28%. O estudo indica ainda que 6% dos jovens efetivamente trancaram a matrícula.

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Os principais motivos que levam jovens a interromper os estudos são financeiros (21%) e dificuldades com ensino remoto (14%).

— Após um ano de pandemia, os jovens ainda estão em situação bem complicada em termos de saúde mental. Seis a cada dez relatam ansiedade, cinco falam em exaustão, e quatro têm problemas para dormir — aponta Rosalina Soares, gerente de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho.

Lais Duanne, de 22 anos, viveu essa turbulência emocional. Aluna de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ela conta que passou 2020 praticamente inteiro sem aulas, que só retornarão no fim do ano.

— Tem sido bem desafiador. Os semestres foram encurtados, com o mesmo volume de conteúdo. Somos cobrados a ter uma entrega com muitas atividades. Nesse momento, se concentrar na tela do notebook, administrando tudo o que a gente tem vivido, com as emoções, angústias, medos, expectativas, é muito difícil — afirma.

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Os jovens participantes foram convidados a responder as questões pelo Conjuve e pelas instituições parceiras desta iniciativa e outras organizações da sociedade civil, coletivos juvenis, secretarias e conselhos estaduais e municipais de juventudes, educação e assistência social. Durante a coleta de dados, foi realizado um monitoramento com o objetivo de garantir a diversidade entre os respondentes.

Posteriormente, também foi feita uma ponderação nos dados para manter a coerência da amostra com a distribuição de jovens de 15 a 29 anos em todos os estados brasileiros, tendo como referência a Pnad Contínua 2020 (IBGE).

Na avaliação de Marcus Barão, presidente do Conselho Nacional da Juventude, uma série de direitos têm sido violados ou negligenciados.

— Todo este contexto que encontramos na pesquisa tem forte influência no processo de desenvolvimento da população jovem no Brasil. A situação é grave. Precisamos urgentemente de ações concretas, com real capacidade de promover mudanças, atendendo as demandas emergenciais e apresentando perspectivas de futuro — afirma.