Por Cristine Gallisa, RBS TV


Taxa de pobreza entre negros é duas vezes maior da de brancos no RS

Taxa de pobreza entre negros é duas vezes maior da de brancos no RS

No mês da Consciência Negra, um estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) revela que a população negra está mais presente entre os pobres do que entre os ricos. No estado, pretos e pardos somam 18,9% da população. No entanto, a proporção dessa parcela da sociedade muda conforme a renda.

Nos 10% mais pobres, negros somam 32,3%. Nos 10% mais ricos, pretos e pardos são apenas 8,2%.

"Na nossa história, os negros, tendem a vir de famílias com menos recursos econômicos, com menos recursos culturais. Isso vai ter impacto na trajetória social. Esse é o efeito de classe. Soma-se a esse efeito de classe o da raça em si, que é a discriminacao racial que os negros sofrem ao longo da sua trajetória", diz André Salata, coordenador do PUCRS Data Social.

População e renda no RS
2021
Fonte: IBGE

A desigualdade se reflete ainda nas taxas de pobreza e extrema pobreza. Para os negros, elas são quase o dobro da verificada entre brancos.

População e renda no RS
2021
Fonte: IBGE

Educação

Essas dificuldades de mobilidade social para os negros já começam no acesso à educação. Só 16% deles conseguem ingressar no ensino superior, contra 31% dos brancos. A pesquisa mostra que mesmo entre pessoas com a mesma escolaridade, a renda dos brancos é maior que a dos negros em 31%. Essa diferença atinge até mesmo pretos e pardos com ensino superior completo.

O advogado Jorge Terra chegou à faculdade de direito antes da existência da politica de cotas. Ele lembra que era um dos únicos negros na turma. Hoje é procurador do estado.

"Os gestores públicos não levam em consideração a importância institucional de haver diversidade no seio dos governos e no direcionamento de suas políticas. Não é raro nós encontrarmos formações governamentais com apenas uma pessoa negra ou sem nenhuma pessoa negra", comenta.

A partir da própria experiência, ele tem atuado também para motivar outras pessoas negras a vencerem as barreiras estruturais.

"Eu entendi que, em um dado momento, eu poderia ser mais efetivo reunindo um grupo de pessoas e criando um instituto, que se chama Instituto Acredite. Porque as pessoas precisam acreditar na possibilidade delas de mudar, assim como outras pessoas precisam acreditar que aquelas pessoas que estão se apresentando, que estão se preparando, elas são capazes de gerar mudança", comenta Terra.

Promover mobilidade para os negros na pirâmide social envolve ações para aumentar a participação dessa população, não só na educação, mas também nas empresas, com a criação de políticas públicas para geração de emprego.

"A gente precisa mudar isso com políticas estruturantes. A questão, por exemplo, do salário mínimo com ganho real, a questão do desemprego, a possibilidade de creches e uma melhoria na educação", afirma Felipe Teixeira, coordenador do Movimento Negro Unificado.

O especialista cita, como uma medida educacional, o estudo de pensadores negros para que o aluno preto ou pardo se reconheça e não deixe a escola.

Pessoas negras no Centro Histórico de Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

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