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Qualidade da educação está paralisada na América Latina, afirma relatório da Unesco

Estudo feito com 160 mil crianças de 16 países foi divulgado na terça-feira;
Criança espera pela cerimônia de abertura do novo ano letivo em Havana, Cuba Foto: ALEXANDRE MENEGHINI / REUTERS
Criança espera pela cerimônia de abertura do novo ano letivo em Havana, Cuba Foto: ALEXANDRE MENEGHINI / REUTERS

BUENOS AIRES — A educação na América Latina não tem feito progressos notáveis desde 2013. Mesmo um ano antes da pandemia da Covid-19, uma média de mais de 40% dos alunos do terceiro ano e mais de 60% dos alunos do sexto ano não atingiram o nível mínimo de habilidades básicas em leitura e matemática. Os dados fazem parte do Estudo Regional Comparativo e Explicativo (ERCE 2019), divulgado nesta terça-feira pelo escritório regional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para a América Latina, com sede em Santiago, realizado com mais de 160 mil crianças em 16 países.

— Os dados da ERCE 2019 nos dizem que, pouco antes da pandemia, a região estava, em média, praticamente presa a baixos níveis de realização naquelas habilidades que são a base para o aprendizado futuro — disse a diretora da Unesco Santiago, Claudia Uribe. — Isto fala de uma geração inteira em risco de não poder desenvolver todo o seu potencial. É por isso que medidas e reformas educacionais para melhorar o aprendizado desde os primeiros anos de escolaridade não podem esperar e devem ser priorizadas.

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O estudo coletou dados de Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai.

De acordo com a pesquisa, 44,3% dos alunos do terceiro ano estão no nível mais baixo de desempenho em literatura e 47,7% no nível mais baixo em matemática. No sexto ano, entretanto, 23,3% atingem o nível de desempenho mais baixo em leitura, 49,2% em matemática e 37,7% em ciência.

Os alunos do terceiro ano que tiveram um desempenho deficiente na literatura não conseguiram localizar as informações em um texto ou compreendê-las de forma completa.

No sexto ano, entretanto, os alunos não foram capazes de inferir informações quando tiveram que compreender globalmente ou conectar ideias secundárias ou específicas apresentadas em diferentes partes de um texto. No caso da matemática, os alunos da sexta série com o desempenho mais baixo não foram capazes de resolver problemas que exigem informações de interpretação ou que envolvem duas ou mais operações, incluindo multiplicação ou divisão.

Os resultados praticamente não mudaram desde a última avaliação, em 2013, embora a realidade não seja a mesma em todos os países estudados. O Peru, o Brasil e a República Dominicana foram os que mais melhoraram. As melhorias são "urgentes em um contexto de pandemia, no qual milhões de crianças e jovens não conseguem frequentar a escola há meses, o que sabemos está gerando mais contratempos no aprendizado e aprofundando as lacunas para os grupos mais desfavorecidos", disse Uribe.

Os resultados da ERCE 2019 também fornecem informações sobre fatores externos associados à aprendizagem. Por exemplo, metade das diferenças de aprendizado poderia ser atribuída às características da escola que o estudante frequentou, bem como ao nível socioeconômico do estudante: quanto maior o nível, melhores os resultados do estudo.

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O número de horas de aula também foi um fator determinante: aqueles que perderam mais horas de aula obtiveram resultados piores do que aqueles que foram regulares. O mesmo se aplicava àqueles que passavam pelo menos um dia ou mais por semana fazendo os deveres de casa fora do horário escolar.

Em lares onde os pais estavam mais envolvidos na educação de seus filhos, também foram registrados melhores resultados de testes.

— Precisamos voltar nossa atenção para o aprendizado fundamental e ter um plano para fortalecê-lo. Somente então poderemos, como região, avançar na realização do direito à educação de qualidade e não deixar ninguém para trás — disse Uribe.