Provão Paulista é incompatível com aulas do novo ensino médio, dizem alunos

Alunos do ensino médio ouvidos pelo UOL disseram que temas abordados no Provão Paulista, vestibular criado pelo governo de São Paulo, não foram ofertados em sala de aula.

O que aconteceu

Os estudantes afirmam que tiveram menos matemática, português e biologia em razão da nova grade curricular. Uma das mudanças da reforma foi a diminuição no número de horas nas matérias tradicionais.

Alunos da 3ª série disseram que têm apenas duas aulas de português e duas de matemática por semana. O restante da carga horária é voltado para o currículo chamado de flexível — disciplinas escolhidas pelos alunos.

O governo Tarcísio de Freitas disse que as questões do vestibular foram feitas pela Vunesp a partir do currículo paulista. "O exame busca avaliar as diferentes habilidades que os estudantes desenvolveram ao longo de todo o ensino médio exigindo do candidato interpretação de texto e questões contextualizadas", diz a nota enviada ao UOL.

São Paulo foi o primeiro estado implementar o novo ensino médio. A mudança começou ainda em 2021 com alunos da 1ª série à época. Hoje, o modelo está em discussão no Congresso.

Enquanto a decisão do Legislativo não sai, o governo paulista disse estar "atento às demandas" e fez mudanças no currículo. Entre elas, o aumento do número de aulas de matemática e português a partir de 2024.

Como você vai dar assunto de biologia para alunos que fazem itinerário em ciências humanas ou em exatas?
M.E.B, 17, aluno de escola na zona oeste de São Paulo. A reportagem ouviu outros sete estudantes

Sonho da universidade distante

A estudante J.S, também de 17, disse que o sentimento é de frustração após fazer o Provão Paulista. "A cada ano de ensino médio que se passou me senti mais afastada do sonho de entrar em uma faculdade", afirma.

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Ela conta que acredita ter acertado menos de 60% da prova. "Para pessoas como eu até escolher um curso é difícil, não podemos sonhar sem olhar para nossa realidade", diz. A aluna disse que trabalha em buffets aos fins de semana e nos contra-turnos das aulas.

O aluno L.M.S ainda não está na 3ª série do ensino médio, mas já não aprova as mudanças. "Do meu ponto de vista, o governo tentou dar um passo maior do que a perna implementando a reforma do ensino médio em 2017", disse.

Ele deseja cursar medicina veterinária e elogiou a proposta do Provão Paulista. "Com muito esforço e dedicação é possível, mas é algo realmente complicado por causa da quantidade de vagas, que são poucas", disse. Nessa edição, são 15 mil vagas em universidades públicas paulista — 400 mil estudantes da 3ª série de escolas públicas fizeram o exame.

Os alunos também reclamaram da falta de tempo para estudar e da falta de divulgação da prova. Uma aluna de uma escola da zona oeste disse à reportagem que ficou sabendo do exame três dias antes da aplicação.

O Provão Paulista é um vestibular seriado — que acumula a nota nos três anos do ensino médio. Para o governo, a proposta aumenta a oportunidade de alunos das escolas públicas de acessar o ensino superior público "em concorrência mais equitativa".

O que dizem os alunos

Esse sistema prejudicou muito mais as escolas onde não há infraestrutura para aplicar as áreas escolhidas pelo aluno [itinerários formativos]. Não conseguimos absorver nada e perdemos a carga horária das matérias tradicionais -- são elas que permitem a entrada em universidades.
L.M.S, 17 anos

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Não parecia uma prova de ensino médio, pelo menos não do novo ensino médio.
J.S, 17 anos

Como estudo em uma Etec acredito que tenha impactado um pouco menos do que para alunos de outras escolas públicas, mas não faço ideia de como vou fazer essa mesma prova ano que vem sem ter biologia, química, física e várias outras.
L.S.P, 17 anos

Comissão para investigar irregularidades

A Secretaria da Educação afirmou que formou uma comissão para investigar possíveis irregularidades. A decisão aconteceu após reportagem da TV Globo revelar a suspeita de vazamento do tema da redação (combate à fome) um dia antes.

O grupo será formado, segundo a pasta, por representantes das universidades e da própria secretaria. "Será de responsabilidade da comissão a investigação de possíveis falhas, incluindo os indícios de vazamento do tema da redação da 3ª série em três escolas participantes, e, assim, assegurar a integridade e a imparcialidade do processo seletivo da edição de 2023".

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