Propostas pedagógicas no ensino híbrido conversam com o desenvolvimento socioemocional - PORVIR
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Coronavírus

Propostas pedagógicas no ensino híbrido conversam com o desenvolvimento socioemocional

Relação de confiança entre professores e alunos, uso de metodologias ativas e dificuldades de acesso à tecnologia são os principais desafios envolvendo trabalho socioemocional durante a pandemia

Parceria com LIV

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 27 de maio de 2021

As vivências na educação a distância durante a pandemia proporcionaram que coordenadores, professores, estudantes e famílias compreendessem que, ao mesmo tempo em que algumas propostas pedagógicas podem ser adaptadas para o remoto sem perdas significativas, outras apresentam alguns desafios diante da falta de interação presencial, como é o caso do trabalho com as competências socioemocionais.

Neste ano letivo de 2021, escolas públicas e privadas se deparam com um efeito sanfona. Até experimentaram o ensino híbrido por um curto período, antes que houvesse uma interrupção das aulas presenciais seguida por nova reabertura. Aos poucos, os alunos começam a compartilhar vivências e aprender em um mesmo espaço físico enquanto parte da turma permanecia no virtual.

O ciclo da pandemia no país já mostrou que, quando possível e seguro, será necessária uma volta progressiva, com um ensino híbrido que combine o melhor da experiência online e presencial. Neste sentido, gestores devem traçar estratégias que incluam o componente emocional até para superar a barreira de aprendizagem encontrada ao longo de 2020, quando alunos e professores se mostraram esgotados tanto física quanto mentalmente.

Para Adolfo Tanzi Neto, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e um dos organizadores do livro “Ensino Híbrido: Personalização e Tecnologia na Educação”, lançado em 2015, o trabalho com as questões socioemocionais independe do meio. Ou seja, se o plano de aula do professor contempla essas discussões, isso pode acontecer com o aluno estudando em casa ou presencialmente na escola.

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Por isso, mais do que discutir se é possível trabalhar o socioemocional no ensino híbrido, ele reforça a importância de uma reflexão intencional sobre o modelo de aulas expositivas e como isso dificulta o espaço de vivência e protagonismo oferecido aos estudantes.

Qual o objetivo de estar enfileirado? É o silenciamento das subjetividades. Eu não consigo ser, não consigo aprender a aprender

“O que sempre falamos, e isso independe da pandemia, é que é muito difícil trabalhar questões socioemocionais em uma aula expositiva, com todo mundo sentado enfileirado em sala de aula, porque ali você não vê nada acontecer. Qual o objetivo de estar enfileirado? É o silenciamento das subjetividades. Eu não consigo ser, não consigo aprender a aprender. Vou aprender com o professor me dando o que é para aprender”, afirma Adolfo.

Esse direcionamento esmiuçado de todos os passos que estudantes devem seguir em propostas de atividades e pesquisas, por exemplo, está diretamente conectado a autonomia, que não encontra campo para ser desenvolvida, uma vez que, com todas as orientações como uma receita de bolo, estudantes não têm a oportunidade de serem criativos e inventivos.

Cynthia Sanches, especialista em educação integral do Instituto Ayrton Senna, explica que, ao combinar o presencial com o online, o ensino híbrido permite aos professores e estudantes usar as tecnologias digitais para reinventar o tempo e espaço de aprendizagem.

Essa mudança só proporcionará o desenvolvimento socioemocional em situações nas quais estudantes exercem um protagonismo. “Por isso, as chamadas metodologias ativas são essenciais para que os alunos possam aprender entre pares, pesquisar, realizar projetos, diversificar seus modos de aprender. As competências socioemocionais se desenvolvem na prática e na experiência, desde que haja um trabalho estruturado, intencional e contínuo.”

O papel do professor como mediador e sua capacidade de criar vínculos, engajar e motivar os estudantes são elementos estruturantes para a aprendizagem

Neste contexto, a mediação do professor é essencial. “O papel do professor como mediador e sua capacidade de criar vínculos, engajar e motivar os estudantes são elementos estruturantes para a aprendizagem tanto no modelo tradicional de escola presencial, quanto no ensino híbrido. A faceta online dessa modalidade também requer o desenvolvimento de competências socioemocionais dos estudantes e dos professores para ampliar o conhecimento de si, de outro, do mundo e de como se aprende”, explica.

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Os desafios do socioemocional no ensino online
Por mais que não seja realidade para todas as escolas, muitas já adaptaram suas práticas reconhecendo a importância de a aprendizagem ir além dos conteúdos tradicionais e envolver também reflexões e atividades sobre emoções, sentimentos e percepções pessoais dos alunos e professores, uma vez que as personalidades, gostos e preferências também se manifestam no ambiente escolar e nas salas de aula. Como é possível, entretanto, trabalhar essas propostas mediante uma tela ou, em muitos casos, por apostilas, no caso daqueles que não têm conexão à internet?

Para Cynthia, o acesso é um dos grandes desafios quando se fala sobre o trabalho com competências socioemocionais no ensino híbrido, uma vez que o Brasil é marcado por amplas desigualdades de diferentes naturezas, que passam por dificuldades de acesso a dispositivos e conectividade. Além disso, também mostram-se como variáveis desse cenário a questão do uso qualificado das ferramentas digitais de ensino e de novas metodologias, e a adoção de processos que vão na contramão de práticas como memorização.

“O desenvolvimento de competências socioemocionais de modo estruturado e intencional é um grande fator de impacto positivo para a aprendizagem, dentro e fora da escola. Os desafios para que o desenvolvimento socioemocional aconteça continuam os mesmos: a comunidade escolar saber o que e quais são as competências socioemocionais que serão objeto de desenvolvimento intencional, conhecer metodologias que favorecem a mobilização e o desenvolvimento dessas competências e envolver ativamente os estudantes nesse processo”, defende a especialista.

Outro grande desafio é o estabelecimento da interação professor-estudante. É intuitivo afirmar que o trabalho com as competências socioemocionais demanda essa conexão, afinal, é necessário uma relação de confiança e a criação de um espaço no qual a criança ou o jovem sinta-se seguro para compartilhar suas emoções e pensamentos sem receios, travas ou medos de ser julgado.

Para Cynthia, essa interação é fundamental e, antes mesmo de qualquer metodologia de ensino, é o relacionamento empático e aberto do professor que permite aos estudantes maior engajamento e motivação para aprender e se desenvolver.

Ferramentas
Por constituírem um conjunto de capacidades que as pessoas desenvolvem ao longo da vida a partir de experiências concretas e em ambientes variados, Cynthia defende que é possível realizar um bom trabalho com as competências socioemocionais no ambiente digital.

Além disso, apesar de algumas escolas elegerem um professor para trabalhar o desenvolvimento socioemocional em componentes curriculares como projeto de vida, qualquer docente pode realizar propostas nessa direção articuladas ao conteúdo que leciona.

“Um bom exemplo de uso de ferramentas digitais para estruturar o desenvolvimento socioemocional dos estudantes são aquelas que permitem registro e monitoramento desse desenvolvimento, oferecendo aos estudantes meios para estabelecer metas pessoais de desenvolvimento, para se automonitorar, rever e ajustar suas ações para alcançarem suas metas. Essas estratégias ainda oferecem aos professores informações organizadas que o apoiam no dia a dia, no planejamento de aulas e na mediação junto aos estudantes”, explica a especialista.

Além da entrevista com Adolfo Tanzi Neto, o e-book “Educação Socioemocional no Contexto do Ensino Híbrido”, organizado pelo LIV (Laboratório Inteligência de Vida), traz exemplos de aplicativos e plataformas que rodam diretamente no navegador e podem apoiar o trabalho no contexto online. Entre elas estão Padlet, site para construção de murais virtuais – que pode estimular o trabalho em grupo e colaboração entre estudantes; Miro, um quadro branco virtual que permite a produção coletiva de desenhos, textos, murais ou mapas mentais; e Mentimenter, que possibilita a criação de nuvens de palavras.

A publicação digital também apresenta outras dicas de dispositivos que ajudam em apresentações virtuais e em sorteios para decidir temas de trabalho. Uma ideia para trabalhar as competências socioemocionais em aulas híbridas é organizar os alunos que estão na sala de aula em formato de meia lua e projetar a tela do computador em frente a eles. Assim, eles poderão ver os colegas que estão online e vice-versa. A ideia é promover interação e contato visual que, no fim, também apoiam atividades que vão além do conteúdo tradicional.

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competências para o século 21, coronavírus, ensino híbrido, socioemocionais, tecnologia

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