Por Ana Carolina Moreno, G1


Eleições 2018 — Foto: Foto: Arte G1

Os dados do principal instrumento de avaliação da educação brasileira foram divulgados em setembro: trata-se da edição 2017 do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. Pela primeira vez, todos os estados brasileiros ficaram abaixo da meta no ensino médio – em sete deles e no DF, o Ideb 2017 foi ainda menor que o de 2015.

Um dos principais problemas para garantir o aprendizado dos estudantes é a formação de professores. Um estudo divulgado em julho mostra que metade dos professores não recomenda a profissão aos jovens de hoje por causa da desvalorização. Entre os estudantes universitário, os de pedagogia têm índices mais alto de matrículas a distância e quatro em cada cinco estudam em uma faculdade particular.

O G1 buscou representantes das campanhas dos cinco presidenciáveis mais bem colocados em pesquisas Ibope e Datafolha – Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) – para conhecer seus planos para a educação.

A série de reportagens vai abordar os seguintes temas:

05/10 - Crianças fora da escola

05/10 - Escolas de qualidade

As três perguntas sobre financiamento na educação foram:

  1. Como garantir que as escolas com alunos de nível socioeconômico mais baixo tenham ensino de qualidade compatível com as demais?
  2. Segundo o Censo 2015, 52% das matrículas em pedagogia eram de educação a distância (EAD), e 80% estavam em faculdades particulares. Como o governo pode garantir uma formação de qualidade para os futuros professores?
  3. Se o Congresso Nacional aprovar o "Escola Sem Partido", o senhor sancionaria a lei? Por quê?

Escolas de qualidade

Como garantir a equidade na educação? Como garantir uma formação de qualidade para professores? O senhor/a sancionaria uma lei do 'Escola sem Partido'?
Equipe Ciro Gomes (PDT) Aplicar modelos que mostram resultados positivos, como os do Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia e Goiás Criar, com as universidades públicas e privadas, um modelo de cursos de pedagogia para melhorar a formação inicial; firmar parcerias entre as universidades e as redes para garantir formação continuada Não, pois é incompatível com a concepção de educação de um modelo pedagógico das capacitações de análise e síntese sobre o domínio de qualquer elenco consagrado de conteúdos
Fernando Haddad (PT) *não enviou resposta *não enviou resposta *não enviou resposta
Equipe Geraldo Alckmin (PSDB) Analisar as melhores práticas brasileiras e internacionais e construir um regime de colaboração que permita que essas práticas possam ser replicadas em outros municípios Aumentar significativamente o salário, atrelar a progressão ao aprendizado dos alunos, construir um novo currículo de formação voltada para práticas de sala de aula, com ênfase em inovação e uso de tecnologia Será necessária uma lei equilibrada e sem viés ideológico para que o futuro presidente da República – que deve defender os interesses de toda a população brasileira – possa sancioná-la
Jair Bolsonaro (PSL) *não enviou resposta *não enviou resposta *não enviou resposta
Marina Silva (Rede) *não enviou resposta *não enviou resposta *não enviou resposta

*Assim como os demais partidos, as campanhas de Bolsonaro, Haddad e de Marina foram procuradas no dia 27 de setembro, mas não enviaram resposta dentro do prazo estipulado. As opiniões deles sobre os temas são as que constam nos programas de governo.

Equipe de Educação da campanha de Ciro Gomes (PDT)

  • Equidade na educação

"O Ceará já vem mostrando resultados no fundamental e agora começa a mostrar melhoras significativas no médio. Pernambuco, Espírito Santo, Rondônia e Goiás mostram também significativas melhoras nos resultados de ensino médio. Já sabemos muito do que precisamos fazer."

  • Formação de professores

"As universidades públicas e as privadas, especialmente as que participam do PROUNI e do FIES, serão convocadas para participar de um processo de construção de um modelo de cursos de pedagogia que possam efetivamente contribuir para qualificar sobejamente a formação inicial dos professores, visando a qualificação do ensino nas escolas brasileiras. Além disso, estas universidades serão parceiras de estados e municípios para um programa de formação continuada dos professores que estão em salas de aulas."

  • Escola Sem Partido

"Não sancionaria, pois é incompatível com a concepção de educação de um modelo pedagógico das capacitações de análise e síntese sobre o domínio de qualquer elenco consagrado de conteúdos. Não se adquire as habilidades necessárias para a vida num vazio de conteúdos críticos e analíticos."

Em seu programa de governo, o candidato diz que vai priorizar políticas voltadas ao ensino médio:

"Criação do Programa Ensino Médio Federal, que prevê uma repactuação federativa a ser implementada, entre outras, pelas seguintes ações: a) Maior integração entre a Rede Federal de Educação e a educação básica; b) Ampliação de vagas, fortalecimento dos campi e interiorização dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, de modo a propiciar maior acesso e mais oportunidades às juventudes, sobretudo aos jovens que vivem em regiões mais vulneráveis e com maiores índices de violência. c) Convênio com os Estados e o DF para que o governo federal se responsabilize por escolas situadas em regiões de alta vulnerabilidade"

Sobre a formação de professores, o programa de Haddad defende a ressignificação da carreira e o reforço da formação a distância, pela Universidade Aberta do Brasil:

"Vamos criar uma política nacional de valorização e qualificação docente, que dê início a uma profunda ressignificação da carreira e das estruturas de formação inicial e continuada dos professores, além de garantir o Piso Salarial Nacional e instituir diretrizes que permitam uma maior permanência dos profissionais nas unidades educacionais. Será reforçada e renovada a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e retomado o projeto Universidade em Rede dos Professores, assegurando o acesso direto dos professores e professoras concursados nas vagas disponíveis e ociosas na rede de Universidades e Institutos Federais de Educação Superior.

Será implementada a Prova Nacional para Ingresso na Carreira Docente para subsidiar Estados, DF e Municípios na realização de concursos públicos para a contratação de professores para a educação básica. A prova será realizada anualmente, de forma descentralizada em todo o país, para o ingresso dos candidatos na carreira docente das redes públicas de educação básica. Cada ente federativo poderá decidir pela adesão e pela forma de utilização dos resultados. Além disso, haverá forte investimento na formação de gestores escolares e na qualificação da gestão pedagógica. Será dada especial atenção à formação dos servidores escolares, por meio de novas ações e da retomada e ampliação do ProFuncionário."

O candidato ainda se diz contrário ao 'Escola sem Partido' e propõe um contraponto:

"Instituiremos o Programa Paz e Defesa da Vida nas Escolas, com a implementação de políticas voltadas à superação da violência e para a promoção de uma cultura de convivência pacífica nas escolas. Como contraponto ao Escola Sem Partido, nosso programa propõe a Escola com Ciência e Cultura, transformando as unidades educacionais em espaços de paz, reflexão, investigação científica e criação cultural. As ações de educação para as relações étnico-raciais e as políticas afirmativas e de valorização da diversidade serão fortalecidas; serão massificadas políticas de educação e cultura em Direitos Humanos, a partir de uma perspectiva não-sexista, não-racista e não-LGBTIfóbica."

Equipe de Educação da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB)

  • Equidade na educação

"Já temos evidências de que redes públicas com nível socioeconômico muito baixo conseguem enfrentar o desafio de melhorar a qualidade de suas redes, especialmente em municípios como Sobral, Teresina e Cocal dos Alves. Analisar as melhores práticas brasileiras e internacionais e construir um regime de colaboração que permita que essas práticas possam ser replicadas em outros municípios será uma estratégia para a melhoria da qualidade do ensino público no país. Neste sentido, em termos de financiamento, além de um novo Fundeb mais equânime na distribuição dos seus recursos no contexto estadual, criaremos o Fundo de Qualidade da Educação Básica, o QualiEdu. Ele permitirá que se possa replicar boas práticas e inovação de maneira aplicada às diversas necessidades dos municípios e redes."

  • Formação de professores

"As evidências apontam que em face da mudança demográfica que o país experimenta, ainda que estejam aumentando o número de aposentadorias de docentes da educação básica nos próximos anos, já estamos formando mais docentes que o país precisaria, o que abre uma janela de oportunidade para mudanças profundas na formação docente no país. O Governo Alckmin investirá na construção de um novo currículo de formação de professores que considere uma formação voltada para as didáticas e práticas de sala de aula, além de domínio dos conteúdos e habilidades necessárias para lecionar bem. Será dada também grande ênfase às metodologias inovadoras e uso de tecnologia. Além disso, é compromisso de Geraldo Alckmin uma transformação da carreira docente, aumentando significativamente o salário, atrelando a progressão dos professores ao aprendizado dos alunos e que permita que os jovens mais bem preparados do Ensino Médio voltem a sonhar com a carreira docente como sua profissão, desejada e valorizada pela sociedade."

  • Escola Sem Partido

"O tema é polêmico e deve ser alvo de intenso debate no Congresso Nacional. A polarização que o assunto gerou indica que o projeto de lei a ser aprovado deve necessariamente contemplar as diferentes visões sobre o tema, ou seja, será necessária uma lei equilibrada e sem viés ideológico para que o futuro presidente da República – que deve defender os interesses de toda a população brasileira – possa sancioná-la. Nossa posição é clara nesse debate: a escola não deve impor ideologias. O poder que os professores têm sobre os alunos é muito grande, por isso tentar influenciá-los não é o mais saudável. É importante mostrar para os alunos pontos de vistas diferentes em todas as questões, ajudá-los a fazer perguntas e formar as suas próprias opiniões."

O programa de governo do candidato propõe a integração das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) para melhorar a qualidade da educação, e o incentivo à educação a distância como alternativa para áreas rurais:

"As universidades públicas e privadas contribuirão, nesse novo modelo, na qualificação de alunos e professores nas áreas aonde existam carências. Será possível detectar e corrigir dificuldades no processo de formação de nossas crianças e jovens. Com isso acreditamos que todos os indicadores irão melhorar, na busca de um jovem melhor preparado para o futuro e para a vida", diz o texto.

"Educação à distância: deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma dogmática. Deve ser considerada como alternativa para as áreas rurais onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais."

O programa não detalha medidas específicas para a formação de professores. Ele também não cita o 'Escola sem Partido', mas defende a mudança do conteúdo e do método de ensino: "Mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce."

O programa de governo da candidata menciona proposta de apoio para lidar com as diferentes realidades do ensino brasileiro:

"Daremos apoio aos Estados para que as deficiências de implementação e de assistência técnica e pedagógica não penalizem os jovens e que o resultado seja, de fato, a redução da evasão escolar e a maior aproximação dos jovens com o mundo do trabalho, de um lado, e o devido preparo para a universidade para os que assim desejarem, de outro."

Há também menção à valorização dos professores:

"Adotaremos políticas para a valorização dos professores, com ações voltadas ao aprimoramento da formação pedagógica e dos planos de carreira."

O programa de Marina não cita o 'Escola sem Partido' diretamente, mas defende políticas de combate à discriminação:

"Criaremos políticas de prevenção e combate a todas as formas de bullying , violência e discriminação dentro do Plano Nacional de Educação para - como garante a Constituição – promover o bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, orientação sexual (LGBTIs), condição física, classe social, religião e quaisquer outras formas de discriminação."

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1