Exclusivo para Assinantes
Política

Proposta de Witzel de criar escolas militares é alvo de críticas de especialistas

Ensino em escolas militares custa três vezes mais do que em redes regulares
O que esperar do governo de Wilson Witzel na educação Foto: Editoria de Arte
O que esperar do governo de Wilson Witzel na educação Foto: Editoria de Arte

RIO — Uma das principais propostas do governador eleito Wilson Witzel (PSC) na área de educação é transformar 100 escolas de Ensino Médio em escolas militares . A medida, no entanto, é alvo de críticas tanto de especialistas em Educação quanto de Segurança Pública. Priscila Cruz, fundadora e presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação, afirma que o ensino em escolas militares custa três vezes mais do que em redes regulares. Ela atribui os resultados alcançados por unidades com ensino militarizado ao volume maior de recursos que recebem e aos alunos, em sua maioria selecionados, e não ao modelo militar em si:

— Num estado quebrado como o Rio não faz sentido a escola militar, é bem mais cara. Melhor seria olhar outros exemplos. Em Pernambuco, há exemplo de escolas de educação em tempo integral que que têm um custo 30% maior. O aluno fica nove horas, e não tem seleção, atendendo os alunos mais pobres. É um modelo de escola mais eficiente.

Ao dar mais detalhes sobre a ideia em entrevista ao GLOBO na semana passada, Witzel disse que policiais militares poderiam trabalhar nas escolas durante suas folgas, ganhando assim um complemento pelo trabalho extra. Não será simples executar essa parte, na avaliação do especialista em Segurança Pública e professor da Uerj, Ignácio Cano.

— O Rio já está usando o policial em suas folgas para complementar o policiamento — afirma o professor, lembrando que já há falta de contingente policial no Rio.

Outro ponto do programa de governo de Witzel controverso entre especialistas é o sistema de bonificação na rede estadual.

— Está provado que o sistema de bonificação não ajuda e que não produz resultados. Em São Paulo, esse sistema existe há quase 20 anos sem que tenha produzido um efeito positivo. É preciso valorizar o professor pelo conjunto de esforços para que eles possam criar e desenvolver novas formas de educação, incentivá-los e proporcionar a eles as condições para seu bom desempenho — afirma o especialista em políticas públicas em Educação Cesar Callegari, que já integrou o Conselho Nacional de Educação (CNE).

Queda no Ideb

O plano de governo de Witzel propõe ainda a expansão da rede de escolas profissionalizantes em parceria com a iniciativa privada.

— É positivo desde que as empresas assumam responsabilidades educativas e não só se aproveitem para ter mão de obra barata — acrescenta Callegari.

Embora abrangentes, ele cita como positivos os pontos do plano de governo que falam em promover maior envolvimento das famílias com a educação dos filhos e a implantação de projeto de preparação para o Enem nas escolas estaduais.

Na Educação, uma das medidas mais urgentes a serem tomadas pelo governo do estado, responsável pelo Ensino Médio, será a implantação de programas que melhorem a aprendizagem dos alunos. O Rio foi um dos cinco estados que tiveram queda no último Índice de Desenvolvimento Básico (Ideb). Em 2015, a rede fluminense teve índice de 4,0; em 2017, caiu para 3,9, abaixo da média nacional de 4,6.