Brasil

Projeto leva aulas interativas ao vivo a 150 escolas públicas

Parceria inovadora do MEC com a Fundação Roberto Marinho une turmas do ensino médio Brasil afora
Professores se preparam para iniciar uma transmissão a partir do estúdio do CNME, em Manaus Foto: Fabiano Rocha
Professores se preparam para iniciar uma transmissão a partir do estúdio do CNME, em Manaus Foto: Fabiano Rocha

MANAUS — Para chegar à Escola Estadual Raymundo Sá, em Autazes (AM), saindo do porto da Ceasa, na capital do Amazonas, é preciso pegar dois barcos, atravessar uma pequena parte dos rios Negro e Amazonas, além de percorrer mais de 100 km de estrada, em uma viagem de duas horas. Com pouco acesso a tecnologia, além de dificuldades na conexão de internet, os estudantes de ensino médio da instituição foram escolhidos para fazerem parte do Centro Nacional de Mídias da Educação (CNME).

Uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e do Consed (Conselho Nacional dos Secretários de Educação), em parceria com uma série de instituições, entre elas a Unesco, a TV Escola e a Fundação Roberto Marinho, o CNME une, desde hoje, os alunos de Autazes a estudantes de outras 149 escolas públicas de todo o país, conectadas por meio de aulas em teleconferências ao vivo.

Em Autazes, os alunos do ensino médio assistem às aulas obrigatórias do currículo na parte da tarde e, desde agosto, acompanham as sessões do CNME pela manhã. Com seis aulas transmitidas em tempo real, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h, as escolas têm autonomia para aplicar a ferramenta como bem quiserem.

— Toda nova oportunidade de conhecimento é válida para nós, especialmente por conta de nosso isolamento geográfico. Com as eletivas, eu me sinto atualizado sobre os temas discutidos. Nas aulas de Tecnologia, por exemplo, estudamos sobre bitcoin e comportamento na internet (tema da redação do Enem neste ano) — diz o aluno Josyan Cunha, de 16 anos.

ENSINO PRESENCIAL

Inspirado na experiência do Centro de Mídias da Educação do Amazonas, criado em 2007 para conectar Manaus a áreas mais afastadas do estado, o CNME vai chegar a 17 estados, com duas disciplinas eletivas: Tecnologia e Mundo do Trabalho. Com o auxílio de uma televisão, câmeras e acesso à internet, as salas de aula nas 150 instituições se conectam com um estúdio em Manaus onde professores capacitados para o uso da tecnologia ministram suas aulas, com interação permanente entre as escolas.

Com vídeos e explicações sobre temas atuais ligados às disciplinas, os estudantes se dividem em grupos para realizar atividades letivas no estúdio. O processo é sempre acompanhado por outro professor também em sala de aula, o que caracteriza o projeto como “ensino presencial mediado por tecnologia”.

Lourdes da Cunha, que leciona na Raymundo Sá há 17 anos e é a professora responsável pelas aulas do CNME na escola, passou por uma formação de uma semana até começar a usar a tecnologia. Ela classifica o projeto como um “desafio”, uma vez que nunca tinha se envolvido em iniciativa semelhante. Professor de português, o sergipano Fabiano Oliveira, que atua do outro lado da transmissão, concorda.

Em Autazes (AM), alunos participam de um momento interativo Foto: Fabiano Rocha
Em Autazes (AM), alunos participam de um momento interativo Foto: Fabiano Rocha

— Nas aulas de Tecnologia, focamos em temas relacionados ao futuro para formar cidadãos que percebam seu lugar em uma sociedade voltada para a tecnologia — diz ele.

O ministro da Educação, Rossieli Soares, destaca o fato de o projeto possibilitar a integração de áreas com difícil acesso à educação. O CNME planeja chegar a 500 escolas e incrementar o orçamento de R$ 28 milhões para R$ 72 milhões em 2019.

— Esses jovens já estão conectados, só que de outra forma. Agora queremos que isso aconteça pela educação. Imagine que há lugares na Amazônia onde a merenda demora até 90 dias para chegar ao seu destino. Este projeto representa muito em termos de conectividade — afirmou o ministro, de São Paulo, utilizando a transmissão do CNME.

Vilma Guimarães, gerente-geral de Educação da Fundação Roberto Marinho, lembrou que a tecnologia também pode ser usada, no futuro, para disciplinas obrigatórias, o que já é comum no projeto anterior, de 2007, do qual participou. À Fundação coube a formação dos professores que atuam no estúdio em Manaus, além da concepção dos planos de aula.

— Agora contamos com um projeto de âmbito nacional, que, claro, não vai resolver tudo sozinho. Ele precisa ser acompanhado por uma série de outras ações que irão garantir uma boa base educacional. A partir da experiência anterior em nível estadual, o CNME tem, sim, tudo para ter um futuro brilhante. — diz Vilma.

* Victor Calcagno viajou a convite da Unesco