Por Camilla Resende*, G1 Sul de Minas


Alunos do PMJ do bairro Itamaraty V participam da oficina "Teatro em Jogo: Lugar de arte é na Rua" — Foto: Camilla Resende/G1

Há duas semanas, os espaços públicos de Poços de Caldas (MG) são ocupados por alunos de escolas públicas e crianças que participam do Projeto Municipal da Juventude (PMJ). A ideia, executada por um ator, ganhou o nome de "Teatro em Jogo: Lugar de Arte é na Rua", e quer expandir o espaço destinado a pelo menos 200 crianças da cidade.

O ator Valber Rodrigues Franco promove as oficinas em diversas regiões do município. O projeto já atendeu alunos do bairro São José, passou pelo Itamaraty V, e chega ainda às crianças da Escola Municipal Wilson Edy Molinari. No segundo semestre, atende a escolas da zona rural e da zona zul da cidade.

“O meu desejo é poder transformar a praça a partir do uso que a gente dá para ela. Porque, de modo geral, as praças da cidade são lugar de passagem, um território sem dono, um espaço ocioso. O meu desejo é, através do teatro, fazer com que o entorno da praça tome conta dela”.

Crianças pintaram suas próprias máscaras em oficina de teatro — Foto: Camilla Resende/G1

Com risadas e brincadeiras, as crianças dão um novo significado às locações. O G1 acompanhou alunos no bairro Itamaraty V, parte da segunda turma do projeto. De máscaras desenhadas a próprio punho e a imaginação aguçada, o espaço da praça se transforma, pelo olhar das crianças, em montanhas, vulcões e colinas a serem explorados.

Envolvidos na história, os alunos corriam nas rampas de skate com o empenho de quem escala uma montanha. Entre um retoque de giz de cera nas cores das máscaras e mais uma corrida no entorno da praça, as crianças se preparavam para última atividade da oficina.

Valber adaptou exercícios de teatro para forma de brincadeira em oficina com crianças — Foto: Camilla Resende/G1

Mudança de planos

O projeto foi pensado como formação para adultos, mas tomou outros rumos para atender crianças quando recebeu apoio da Secretaria de Cultura e parceria da Secretaria de Educação.

“Eu precisei reformular os exercícios que eu ia trabalhar com as crianças pro formato de brincadeira. Existe um exercício no teatro que se chama Coro e Corifeu, que é um conjunto de atores que formam um só organismo. Para trabalhar com as crianças, eu trabalhei com o Siga ao Mestre, que de alguma maneira trabalha com as mesmas questões”, afirma Valber.

“Me interessa um teatro em que todos brinquem a mesma brincadeira, que todos joguem o mesmo jogo, que todos construam a mesma história, que todos resignifiquem juntos a praça, e não individualmente”

Crianças exploram o entorno da praça na brincadeira de Siga ao Mestre — Foto: Camilla Resende/G1

Com as crianças do bairro Itamaraty V, a missão foi cumprida. Para brincar de Siga ao Mestre, última atividade da turma, os pequenos se dividiram em grupos e deram uma lição de companheirismo.

Explorando os entornos da praça, o mestre da vez fazia mais do que guiar os colegas na brincadeira. A preocupação maior estava em reunir o grupo e não deixar ninguém para trás na hora de comemorar a chegada.

Desafios

Para fazer a adaptação ao mundo infantil, os desafios envolveram desde a linguagem usada, até o tempo das oficinas. A ideia original tinha quatro horas de carga horária, mas precisou ser dividida em duas aulas de duas horas cada para ser interessante aos pequenos.

Valber ensina exercícios de teatro para alunos de escolas públicas em Poços de Caldas — Foto: Camilla Resende/G1

“Eu percebo que elas entram muito mais na brincadeira se ao invés de eu dizer pra mexer a bacia circularmente para se aquecer, eu disser que é para eles brincarem de bambolê imaginário. Aos poucos o meu programa foi ficando mais criativo, porque eu precisei brincar também”, pontua Valber.

Formado no no Rio de Janeiro (RJ), o ator atribui às crianças uma espécie de nova graduação.

“Hoje eu percebo que a minha formação é ser o 'corifeu' dos meus projetos, é tomar cabeçada sozinho e aprender com as crianças, deixar com que o 'fazer' me ensine. Não tem outro jeito de aprender. É fazendo que se aprende teatro, é caminhando que o caminho se abre".


"Sinto que eu estou nesse momento da minha formação, de caminhar. Tomar uma cabeçada aqui e dar três passos pra trás. Tomar um baile das crianças e dar mais cinco passos pra trás. E então pegar um foguete imaginário e ir pra cima com tudo”, finaliza Valber.

Depois de manhã de brincadeiras, crianças posam para última foto da oficina — Foto: Camilla Resende/G1

Apesar dos dias difíceis, o ator foi embora contente depois da oficina com os alunos no bairro. As crianças, ainda eufóricas com a manhã de brincadeiras, vestiram suas máscaras e só deixaram a praça depois de distribuirem abraços e pedirem mais oficinas.

*sob supervisão de Fernanda Rodrigues

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1