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Programa público do Ceará espalha jovens por cinco capitais em intercâmbio social

Iniciativa envia voluntários para São Paulo, Rio, Manaus, Recife e Campo Grande; secretário diz que jovens aprendem sobre empreendedorismo e viram replicadores

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São Paulo

Seis jovens da periferia de Fortaleza escolheram São Paulo como opção principal para realizar um intercâmbio social de oito semanas, apoiado pela prefeitura da capital cearense.

Eles fazem parte de um grupo de 65 ex-alunos de escolas públicas, com atuação comunitária, que participam da primeira edição do Liderança Jovem Fortaleza, em que voluntários também são enviados para as cidades do Rio de Janeiro, Manaus, Recife e Campo Grande.

O programa tem o intuito de encaminhar jovens entre 18 e 29 anos, com renda familiar de até dois salários mínimos, a outros estados para uma troca de experiência profissional e cultural, segundo o secretário municipal da Juventude, Davi Gomes.

De acordo com Gomes, o programa nasceu após avaliação de pesquisas feitas em Fortaleza no ano passado para descobrir o perfil dos jovens na pandemia –o resultado mostrou que 40% deles querem ser empreendedores. A análise apontou ainda, segundo ele, que os jovens se tornaram mais engajados em suas comunidades em questões sociais, como meio ambiente, nesse período.

"Percebemos que os dilemas dos jovens da periferia de Fortaleza se parecem com os dos jovens das periferias de outras cidades, como São Paulo e Rio. Pensamos em como conectar isso e surgiu o intercâmbio social", afirma Gomes. "O programa, inédito no Brasil, busca trazer novo olhar aos jovens, para que eles sejam replicadores dessa experiência no seu entorno."

Ao redor de uma mesa cheia de roupas coloridas, um rapaz e cinco garotas vestidos de blusa laranja igual, jogam roupas para o alto, com destaque para um lenço verde claro que está caindo sobre eles
Os seis voluntários de Fortaleza trabalham em bazar da Liga Solidária, na região do Butantã, zona oeste de SP: Lemuel Santos, Giovanna de Castro, Marina Castro, Mar Pereira, Mariana Andrade e Ana Castro - Rubens Cavallari/Folhapress

Na capital paulista, um dos braços do projeto é a Liga Solidária, que desde 11 de março recebe os voluntários. Atualmente eles trabalham em bazar de roupas no Jardim Esmeralda, distrito do Butantã, na região oeste de São Paulo.

No complexo onde está a loja de roupas, há outras atividades para os quais os jovens voluntários podem ser designados também para variar o conhecimento adquirido.

"São Paulo é um polo de grandes oportunidades, com essa intervenção social tão rica. Tem sido um aprendizado e tanto", afirma a educadora social Mar Pereira, 27, que faz parte do grupo de voluntários.

Estudante de psicologia na UFC (Universidade Federal do Ceará), Mariana Andrade, 20, também colocou na bagagem sua experiência de projeto no qual atua no combate à pobreza menstrual, o Deixa Fluir, e viajou para São Paulo para aprender, entre outras coisas, sobre captação de recursos.

"No bazar, venho descobrindo estratégias de como conseguir parcerias e verbas. Vou levar isso para Fortaleza e aplicar no projeto para manter esse combate à desigualdade de gênero que tanto buscamos lá."

Estudante de gestão ambiental da UFC e de jornalismo em curso a distância, Lemuel Santos, 19, também atua no bazar e já usa seus conhecimentos para dar destino ecologicamente correto às roupas de doação que chegam à Liga Solidária todos os dias. Em Fortaleza, ele é ligado a organização que ajuda animais vulneráveis, a Adote um Cão Amigo CE.

"Está sendo uma troca ótima. Já trabalhei em bazares de bairro em Fortaleza, mas a estrutura daqui [de São Paulo] é diferente, muito maior. Levamos muito aprendizado", afirma o estudante.

Ele diz ainda que essa experiência vai permitir que tenha um desenvolvimento profissional e pessoal que vai somar a qualquer programa que atuar em Fortaleza. "Já penso num projeto para revitalizar praças e chamar os jovens para ocupá-las."

A autônoma Mariana Castro, 19, declara que todos eles também trouxeram suas experiências para trocar com as pessoas de São Paulo. "Aplicamos aqui o nosso conhecimento prévio. Ao mesmo tempo, vamos ter outra vivência e isso vai enriquecer nosso trabalho quando voltarmos para casa."

Os voluntários espalhados pelo país são destinados a tarefas variadas, como atendimento a refugiados, visitas a comunidades ribeirinhas, favelas e até conhecer o financeiro da empresa, segundo Rodrigo Reis, 37, diretor-executivo do Instituto Global Attitude, que encaminha os jovens para trabalhar nas ONGs.

"Eles vão aprender fazendo, serão os protagonistas dos seus aprendizados. Eles terão uma visão mais ampla e dinâmica de diversas áreas, e também terão uma troca cultural. A ideia é que voltem às suas comunidades com essas novas boas práticas."

De acordo com o secretário Gomes, Fortaleza investe por ano R$ 48 milhões em projetos voltados para a juventude, sendo que R$ 800 mil são direcionados para o Liderança Jovem.

No programa de troca de experiências, ele explica, cada um dos voluntários recebe uma ajuda de custo de R$ 2.000 para os dois meses do intercâmbio, além das passagens aéreas, hospedagem e plano de saúde no período.

Para Rosalu Fladt Queiroz, presidente voluntária da Liga Solidária, a parceria com Fortaleza "encaixou como uma luva" nos projetos tocados pela organização.

"O bazar tem uma pluralidade, é um exemplo desse desenvolvimento de consciência ambiental, solidária e social. A ideia é esse grupo nos acompanhar, entre outras atividades, em campanhas de doações e rodas de conversa que fazemos em visitas a favelas de São Paulo. É um embrião para o que eles vão aplicar em Fortaleza."

Rosalu afirma que não são só os voluntários que aprendem ou ajudam. "Eles são protagonistas de suas vidas e são capazes de mudar os seus entornos. E nós também ganhamos com a experiência que eles trazem de seus trabalhos em suas comunidades."

Todos os voluntários são egressos de escolas públicas de Fortaleza e estão em São Paulo pela primeira vez na vida.

Durante o tempo em que estão em São Paulo, a turma de voluntários decidiu fazer, também, um intercâmbio cultural pela cidade visitando museus e parques. Nesses trajetos, onde costumam circular de metrô, os jovens se depararam com diversos projetos sociais que pretendem sugerir em suas comunidades e, também, para autoridades cearenses.

Chamou a atenção, por exemplo, a distribuição de camisinhas no metrô, algo que, segundo notaram, não há em Fortaleza. "Outra novidade para nós foi uma ação para fazer testes rápidos de HIV em plena praça da República, bem acessível, atendimento completo", afirma Lemuel.

Segundo o secretário da Juventude, está prevista uma segunda edição do Liderança Jovem, que deve abrir inscrições em setembro deste ano.

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