O piloto do programa Aprender Conectado, que prevê levar internet em alta velocidade para as 138 mil escolas públicas do país, foi finalizado e, do ponto de vista operacional, teve bons resultados. Segundo Luiz Carlos Gonçalves, diretor de operações da Eace (Entidade Administradora da Conectividade de Escolas) - criada pelas operadoras para executar o projeto-, os testes indicaram velocidade média de 1,6 Mbps por aluno. A meta da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas Eenec), lançada pelo governo federal em setembro para universalizar a conectividade na educação básica e que vai articular políticas como a Aprender Conectado, é de pelo menos 1 Mbps.
Nessa fase foram contempladas 177 escolas de áreas urbanas, rurais, quilombolas e indígenas de dez municípios, dois em cada região do país. A rede chegou a 137 delas por fibra óptica. Outras 24 receberam sinal por rádio, em oito por tecnologia híbrida (enlaces de rádio e fibra na ponta) e sete escolas do Parque do Xingu (MT) tiveram conexão por satélite, segundo dados da Eace. Com duração de um ano, o piloto foi concluído em agosto. A Eace fez parceria com 11 provedores para efetivar a conexão. “Na rede interna adotamos cabeamento estruturado e wi-fi 6 para levar a conexão aos pontos de acesso”, afirma Gonçalves.
O Grupo de Acompanhamento do Custeio a Projetos de Conectividade de Escolas (Gape), criado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para coordenar o uso dos R$ 3,1 bilhões reservados na licitação da faixa de 26 GHz do leilão 5G para financiar a conexão em escolas públicas, já decidiu pela execução das fases 2 e 3, que preveem o acesso em banda larga a 7.486 escolas das regiões Norte e Nordeste. A medida ainda precisa passar pelo conselho diretor da Anatel para que a Eace inicie o planejamento para a implantação nas escolas das próximas duas fases.
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Na Escola Estadual Indígena Pedro Poti, com ensino fundamental e médio, a melhoria na velocidade da internet permitiu ao professor de física Severino Fernandes da Silva Neto levar novos conteúdos para a sala de aula. “Nem todos têm internet em casa ou celular. A internet na escola ajuda nas pesquisas e no uso de recursos como games em sala de aula. Com isso, podemos trabalhar de maneira lúdica, com figuras que facilitam a interação. Esses recursos dão outra dinâmica na sala de aula”, afirma.
Com 55 alunos matriculados, a escola fica na Aldeia São Francisco, em Baía da Traição (PB). O município foi um dos primeiros a serem contemplados com o piloto. Das suas 17 escolas participantes, 13 estão em áreas rurais. A Pedro Poti foi a primeira escola indígena a ser contemplada pelo programa.
As escolas do piloto têm diferentes perfis, para simular os desafios que serão enfrentados quando for ampliado o número de instituições atendidas. Muitas estão em áreas rurais, em alguns casos só com acesso fluvial, e outras não tinham energia elétrica. “Em duas, a solução adotada foi a energia fotovoltaica. Nas demais, levamos a energia comercial”, diz Gonçalves. Os custos nessa etapa foram de R$ 33 milhões, incluindo construção de redes, kits de informática e notebooks para alunos e professores e entrega do serviço por 36 meses.
O Aprender Conectado será inserido na Enec. A proposta é levar serviços de acesso em alta velocidade para as 138 mil escolas públicas do país até o final de 2026. Do total, 98 mil estão em áreas cobertas por redes de fibra - as demais 40 mil, que não estão em áreas com fibra, terão prioridade no programa.
“É a primeira vez que o país tem uma estratégia abrangente para educação, com locação de orçamento e papéis definidos por diferentes agentes, pensada com diferentes elementos - não apenas da rede, mas também com a formação de professores e criação de conteúdo para aplicação pedagógica”, diz o conselheiro da Anatel Arthur Coimbra.
Ele relata que programas anteriores eram realizados entre ministérios, enquanto o atual é um programa com desenho mais completo. “É o mais avançado em termos de política pública”, defende.
O comitê executivo do programa Enec está sob a coordenação do Ministério da Educação (MEC) e é composto por representantes de nove entes públicos, além da organização social RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa). O grupo vai definir os requisitos e as escolas que terão prioridade na política de conectividade significativa.