Por Elida Oliveira, G1


O programa EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta, recebeu um aporte de R$ 5 milhões do Google.org, braço filantrópico da empresa de tecnologia. A ideia é estender até 2023 as ações já desenvolvidas, que ensina jovens a navegarem na internet, identificarem informações falsas e produzirem conteúdo de qualidade. O recurso também ajudará a expandir o projeto, com ações voltadas ao público com mais de 60 anos e jovens eleitores. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (9).

A educação midiática está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que estabelece o que deve ter nos currículos escolares. Este conjunto de regras foi aprovado em 2017, para o ensino fundamental, e em 2018 para o ensino médio. A previsão é que todas as escolas tenham novos currículos em 2022.

Celular smartphone conectividade educação remota estudos on-line — Foto: Freestocks/Unsplash

Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, afirma que a pandemia expôs desigualdades já existentes na educação pública, como a falta de acesso à tecnologia, a exclusão digital, a falta de infraestrutura e a deficiência na formação de professores.

"A exigência de competências para viver em um mundo cada vez mais digital torna urgente a adoção de estratégias que preparem crianças e adolescentes para atuarem de forma plena na sociedade conectada", afirma.

Para ela, a educação midiática deve ser entendida como direito do estudante. Citando Paolo Celot, da Comissão Europeia, Blanco afirma que "não é mais uma vantagem ser educado midiaticamente; mais do que isso, é uma desvantagem debilitante não ser."

"A questão de ter educação midiática é fundamental para o processamento de informações que estão circulando na web aberta", afirma Marco Tulio Pires, diretor do Google News Lab no Brasil. Além do Brasil, há projetos sendo desenvolvidos no mundo todo, como Reino Unido, Canadá e Indonésia.

Capacitação de professores

O programa EducaMídia foi criado em 2019 para oferecer capacitação para professores ajudarem jovens a ter uma visão crítica sobre o conteúdo que chega a eles. No site educamidia.org.br há conteúdos para auxiliar professores a prepararem as aulas.

Segundo Blanco, um dos planos de aulas mais baixados até agora é o "Muito além das Fake News", com 33 mil downloads. "Isso mostra que o combate à desinformação é hoje urgente, necessário e fundamental para o exercício da democracia", afirma. Outro conteúdo disponível no site é um curso on-line de 30 horas sobre educação midiática e BNCC.

Treinamento feito em 2019 com professores dentro do programa EducaMídia, do Instituto Palavra Aberta. — Foto: Divulgação/Instituto Palavra Aberta

A ideia do programa é capacitar os professores para fazerem o "letramento informacional" dos alunos, uma espécie de alfabetização para navegar na internet. O programa também incentiva jovens a produzir conteúdos de qualidade nas redes sociais, indo além do compartilhamento de piadas e memes, por exemplo.

Ela citou uma pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que aponta que 67% dos estudantes de 15 anos do Brasil – quase sete a cada dez – não conseguem diferenciar fatos de opiniões quando fazem leitura de textos.

Na época da divulgação dos dados, Miyako Ikeda, analista sênior de Educação e Competências da OCDE, afirmou que "o enorme fluxo de informações que caracteriza a era digital exige que os leitores sejam capazes de distinguir entre fato e opinião" e que "estar on-line não resulta automaticamente em alfabetização digital".

Alfabetização digital

A falta de uma educação voltada às ferramentas digitais no país levanta ainda mais preocupação, quando analisada ao lado de outros dados que o relatório da OCDE, divulgado em maio, traz:

  • Houve aumento no acesso a ferramentas digitais em casa. No Brasil, em 2003 havia conexão em 20% dos lares destes alunos. O índice subiu para 60% em 2018.
  • Mas há diferença entre alunos de escolas em regiões mais e menos favorecidas. Em 2018, pouco menos de 30% dos alunos de escolas menos favorecidas tinham acesso a computador e internet em casa. Nas escolas mais favorecidas, o índice era de quase 90%.
  • Com computador e internet em casa, aumentou o tempo de conexão. O relatório aponta que, mesmo antes da pandemia, os alunos de 15 anos do Brasil passavam 36 horas por semana on-line (próximo à média da OCDE, de 35 horas), mas na maior parte do tempo a conexão ocorria fora do ambiente escolar. Em 2018, eram 31 horas on-line fora das escolas e 5h dentro. Na média da OCDE, eram 27 horas fora das escolas e 8 horas nas escolas. O relatório não traz dados atuais sobre o período de suspensão de aulas presenciais.

"É importante estudar mais a fundo como os alunos estão usando a Internet e que tipo de suporte ou treinamento eles receberam. Isso ajudará a informar as políticas e práticas que melhoram a alfabetização digital dos alunos. No Brasil, especialmente, isso seria importante, pois 31 das 36 horas online são fora das escolas, provavelmente sem qualquer supervisão ou orientação. Devido à atual pandemia, as horas on-line fora das escolas podem ter aumentado, embora não tenhamos dados comparáveis no momento", afirma Miyako Ikeda, da OCDE.

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