Por Gabriela Clemente, G1 RS


Uso de histórias em quadrinhos em salas de aula estimula alunos — Foto: Lisiane Machado

As histórias em quadrinhos, os videogames e as séries de TV são, normalmente, ferramentas de entretenimento usadas por muitos jovens. Mas um grupo de professores gaúchos, que aposta no método para uma melhor discussão com alunos em sala de aula, está investindo cada vez mais na mudança deste cenário.

“As narrativas produzidas dentro da cultura, de imagens e símbolos, são questões que povoam o imaginário infantojuvenil. Quando colocamos o professor em contato com isso, ele compreende a cultura que consome”, diz o professor da Universidade La Salle de Canoas, Renato Machado.

Para o também professor e escritor Gelson Weschenfelder, as histórias em quadrinhos podem auxiliar, e muito, a aprendizagem. “É um ganho em relação às didáticas. Além de fazer uma relação com a ficção, conseguimos usar ela para trazer belas discussões em um contraponto com a realidade”, opina.

HQ's aproximam jovens do estudo de matérias escolares — Foto: Lisiane Machado

Gelson pesquisa o tema há 12 anos, e tem dois livros publicados sobre o assunto: o Filosofando com os super-heróis e Aristóteles e os super-heróis. “As histórias de heróis são ótimas para discutir diversas questões em sala de aula. O Homem Aranha, por exemplo, tem uma frase norteadora que é ‘grandes poderes trazem grandes responsabilidades’, e a partir disso conseguimos iniciar uma discussão sobre questões sociais e justiça que atraem muito os alunos”, conta.

Outro herói muito utilizado por Gelson em sala de aula é o X-men. “Nesta história temos as questões de preconceito e discriminação, que também são ótimas para incentivar a discussão”, diz.

“Questões éticas e antropológicas estão muito presentes nas histórias em quadrinhos, porque elas trazem isso como pano de fundo.”

Gelson pesquisa HQ's há 12 anos e já tem dois livros publicados sobre o tema — Foto: Arquivo pessoal

“É maravilhoso poder usar uma paixão que tu tem como uma ferramenta didática. E incrível ver que as histórias em quadrinhos, mesmo com 80 anos de história, ainda são atuais e aceitas na cultura de hoje, vivenciada principalmente por jovens e adolescentes”, destaca Gelson.

Thiago Arcanjo sempre foi um leitor assíduo das HQ’s, e levou a paixão da infância também para as salas de aula. “Antes mesmo de ter um acesso fácil a livrarias, como temos hoje, eu já ia em sebos a procura de histórias. Quando entrei na faculdade de História comecei a enxergar a possibilidade de trabalhar este material como uma fonte histórica com os alunos”, conta.

Em estágios feitos durante a graduação, Thiago percebeu que os alunos se interessavam mais pela matéria através dos elementos visuais. “Eu pensei: por que um aluno consegue passar mais de 6 horas jogando um jogo de videogame ou muitas horas em um canal no youtube e não consegue passar 45 minutos em uma sala de aula? Esse tipo de mídia acaba sendo uma possibilidade dele criar, também na escola”.

“Comecei a trabalhar com eles em grupos na sala. Os que desenhavam bem, os que escreviam bem. E usava esse método para as revisões de provas, por exemplo. Pegava dois capítulos de conteúdo para que eles criassem uma história em quadrinhos.”

Thiago traz a paixão da infância para a sala de aula — Foto: Arquivo pessoal

Com o sucesso da experiência já comprovado, a meta agora é incentivar outros educadores a trabalhar as HQ’s em seus ambientes escolares. “Temos um princípio chamado mediação cultural, que significa que o professor, diante de questões culturais, precisa de chaves de leitura para compreender estas questões e traduzir pedagogicamente. O problema às vezes é no ofício em sala de aula, como integrar aquilo nas tarefas de ensino”, destaca Renato, que é o coordenador do projeto Universos Paralelos.

Segundo o professor, o Universos Paralelos é uma convenção de quadrinhos de baixo custo. “Ele é pensado para ser uma formação de professores, para que a gente consiga colocar ele em contato com o artista de quadrinhos, através de palestras, oficinas e salas temáticas”, diz.

“Nosso projeto é ensinar professores a como usar quadrinhos em sala de aula. Apresentamos as didáticas que criamos e deram certo”, diz Gelson. “Já tive alunos no ensino superior que gostaram tanto que levaram isso para suas formações acadêmicas, e isso também dá um ganho como professor”.

Já Thiago acredita que, além de beneficiar o aluno, o uso da ferramenta é uma forma de reciclar os professores. “O educador, pela quantidade de tempo que ele tem pra planejar aulas, corrigir provas, etc, acaba não conseguindo se reciclar. E esta ferramenta de trabalhar com HQ’s, filmes e séries acaba sendo uma forma de reciclagem, em um ambiente em constante mudança. Nós que trabalhamos com jovens precisamos nos modificar. Não precisamos ser um leitor de quadrinhos, mas saber como usar estas ferramentas para atrair o aluno”, destaca.

Gelson em ação na Feira do Livro de Esteio em 2016 — Foto: Divulgação/Feira do Livro Esteio

O evento Universos Paralelos começou na quinta-feira (4) e vai até sábado (6), na Universidade La Salle, em Canoas. As atividades são gratuitas e voltadas para educadores e público em geral com interesse no tema. A programação pode ser conferida pela internet.

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1