Por Cristine Gallisa, RBS TV


Responsabilidade pela educação de alunos deve ser compartilhada pelos pais e sociedade

Responsabilidade pela educação de alunos deve ser compartilhada pelos pais e sociedade

Diz a Constituição Federal, que a educação é um direito de todos, e um dever do Estado e da família. Embora esteja claro na lei, essa responsabilidade nem sempre é compartilhada.

Especialistas, no entanto, reforçam a importância da família na formação dos jovens e concordam que é papel da escola reforçar e estimular essas boas práticas iniciadas em casa para uma sociedade melhor.

Ao mesmo tempo, educadores se empenham em tentar afastar do crime os meninos e meninas mais vulneráveis. Mas nem sempre esses exemplos ganham apoio.

Desde segunda-feira (7), o RBS Notícias exibe a série de reportagens "Educar para mudar", sobre a relação da educação com a violência.

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Uma atitude do professor Rivaldo Araújo da Silva causou polêmica em uma escola de Samambaia, a 30 quilômetros de Brasília, na periferia do Distrito Federal. O colégio atende mais de 1,5 mil estudantes do ensino fundamental.

No início do ano passado, ele percebeu uma certa agressividade entre os alunos e decidiu relembrar os pais sobre a importância do papel deles na educação dos filhos.

"Nós começamos a ver que o comportamento dessas crianças era muito agressivo, de bater no outro, de xingar os professores", relata ele. "Se eles fossem alertados em casa, talvez não ocorresse em um número tão grande aqui na escola", analisa.

O professor espalhou cartazes pela escola. A iniciativa dele chegou até as redes sociais. Foram mais de um 1 milhão de compartilhamentos e 7 mil comentários.

"É em casa que se aprende as palavras mágicas: 'bom dia', 'boa tarde', 'por favor', 'com licença', 'desculpe' e 'muito obrigado'", dizia uma das mensagens. "Aqui na escola ensinamos matemática, português, história, ciências, geografia, inglês e educação física, e apenas reforçamos a educação que deve ser adquirida em casa", constava em outra.

Muita gente criticou o professor. "Me diziam que os professores não queriam fazer nada, que o professor está fugindo da sua responsabilidade, que, realmente, isso é responsabilidade da escola, e não dos pais", conta Rivaldo.

Porém, a campanha do professor venceu as críticas e hoje mostra os resultados. Segundo a diretora da instituição, a participação dos pais aumentou bastante depois da colocação dos cartazes.

"Isso foi notável. Deve ter aumentado em torno de uns 60%, 70% o comparecimento deles", afirma a diretora Cássia Coelho.

A história da professora Maria Denise Bandeira também gerou polêmica nas redes sociais, mas em 2009, quando ela era vice-diretora de uma escola estadual em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Na época, ela mandou que um aluno limpasse a parede que ele tinha acabado de pichar.

Isso aconteceu logo depois de um projeto que envolveu toda a comunidade na pintura do prédio, que sofria com atos de vandalismo.

"Fizemos um projeto para que eles entendessem o que eram essas taxas, o que eram esses impostos que teriam que ser revertidos em educação, saúde, segurança, mesmo não sendo da forma que a gente gostaria, mas isso que era para acontecer, que a escola é pública e não gratuita, ela não é de graça", observa.

Ao mandar o aluno reparar o dano, Maria Denise fez o que previam as regras da escola. Mesmo assim, ela foi processada por um promotor de justiça e teve que pagar uma multa de meio salário mínimo.

A professora também teve que prestar depoimento em outra ação judicial, movida pela mãe do aluno. A mulher processou o Estado, pedindo uma indenização por danos morais, alegando que o filho tinha sido humilhado.

A mãe ganhou a ação, mas em novembro passado, a indenização foi cancelada pelo Tribunal de Justiça. Na decisão, um dos desembargadores fez um desabafo.

"Em verdade, o que esta sociedade está precisando mais é justamente de atitudes como a dessa professora, que resolveu enfrentar uma situação lamentável que hoje vemos, em especial nas escolas públicas, onde não há mais respeito algum à autoridade da professora ou da coisa pública. Professores, aqueles que efetivamente podem mudar esse mundo, transmitindo ensinamento, hoje são vítimas de uma estrutura estatal absolutamente defasada, ganhando pouco para trabalhar, por vezes, em escolas sem um mínimo de condições", escreveu o magistrado.

Por causa da repercussão do caso, a professora pediu licença e parou de trabalhar naquela escola. Mas ela não desistiu de acreditar no poder da educação e voltou para a sala de aula.

Maria Denise foi lecionar para meninos e meninas que cumprem medida socio-educativa na Fase, na capital.

"Existem três instâncias que são responsáveis pela formação de um cidadão, de um ser humaninho que está vindo. A primeira é a família, a segunda é a escola e a terceira é o Poder Público. Infelizmente, as famílias estão desestruturadas", diz ela.

Especialistas consultados pela reportagem da RBS TV concordam com a opinião da professora. A responsabilidade sobre educação precisa ser compartilhada por toda sociedade, mas, segundo eles, principalmente pela família.

O investimento precisa aumentar e começar cada vez mais cedo, já nas creches e pré-escolas. Tem que estar aliado a políticas de assistência social nas periferias e é necessário criar oportunidades para os jovens.

"A educação é muito importante, mas não é qualquer educação, ela tem que ser considerada investimento humano, investimento social e não simplesmente um gasto e formação de mão de obra", sustenta a educadora Carmem Craidy, que é membro do Conselho Estadual da Educação.

Os resultados dessa combinação de esforços só vão aparecer a longo prazo, mas é preciso começar o trabalho cedo.

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