Por Pâmela Ramos, g1 Sorocaba e Jundiaí


Fabiana Berger é professora desde 1997 — Foto: Pâmela Ramos/g1

Todos têm na memória ao menos um professor que foi marcante no decorrer da vida. São aqueles profissionais que estão todos os dias enfrentando as salas de aula, sempre dispostos a ensinar ou até mesmo a oferecer um ombro amigo, ainda que as dificuldades parecem se sobressair.

O Dia dos Professores é celebrado neste sábado (15) e o g1 conversou com três professoras da escola estadual José Roque de Almeida Rosa, na zona norte de Sorocaba (SP). Elas falaram sobre a realização de sonhos, os desafios da profissão e o amor que impulsiona a continuar na carreira.

Na entrada da escola, Eula Toledo, de 40 anos, recebeu a reportagem. Ela começou a trabalhar na unidade como educadora em 2001 e lecionou em sala de aula até 2014. Depois, passou pelo cargo de coordenadora diária e, atualmente, está à frente da vice-direção.

Ao g1 ela falou sobre os projetos da instituição que ajudam a guiar os alunos na escolha de uma profissão no futuro. Desde pequenos, eles são apresentados às possibilidades de carreiras e vão construindo uma opinião sobre o que querem ser, algo que têm sido benéfico para os estudantes.

"A gente chega a acreditar que a educação é a salvação de tudo. Se não tiver educação, não existe mais nada. Tudo passa pela mão de um professor, não desmerecendo nenhuma profissão, mas outras que se destacam tanto, também passaram pela nossa base", destaca Eula.

Eula Toledo, vice-diretora da escola estadual José Roque de Almeida Rosa, em Sorocaba — Foto: Pâmela Ramos/g1

Neste ano, no entanto, não houve alunos que escolheram seguir a carreira de professor durante as mentorias de projeto de vida que são realizadas na escola, algo que entristeceu a professora de artes da escola, Camila Simões, de 45 anos.

"Vai faltar professores porque eles estão sucateando. Pela primeira vez eu vi salários de professores serem diminuídos. Então, tem aí a crise econômica, os professores passando dificuldade e você vê os salários sendo enxugados. Acho isso uma violência contra o próprio ser humano", afirma.

Uma pesquisa do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), divulgada no fim de setembro deste ano, apontou que até 2040 o Brasil poderá ter uma carência de 235 mil professores de educação básica.

Mesmo com as dificuldades, há educadores que buscam se dedicar à formação dos estudantes por acreditarem na profissão e pelo amor em ensinar. Alguns deles estão nos trechos a seguir.

'Não é só passar o conhecimento'

Elizane Cristina Leite, de 50 anos, precisou parar de estudar aos 16 anos, quando o pai dela sofreu um acidente. Seu maior sonho era poder lecionar, mas esse objetivo foi deixado em segundo plano até ela completar 35 anos, estar casada e ser mãe de dois meninos.

"Voltei a estudar com 35, com alunos de 15 e 16 anos, no ensino médio. No início, não fui aceita porque era a mais velha. Aí, eles criavam algumas situações, me enfrentavam, me diminuíam, achavam que eu não era capaz, mas aí eu fui fazendo amizade, tinha aquele lado mãe", lembra.

Elisane Cristina Leite, professora de história em Sorocaba — Foto: Pâmela Ramos/ g1

Na cidade onde Elisane morava, no distrito de Ibaiti, no Paraná, não havia a possibilidade de fazer um supletivo. Então, ela fez o ensino médio com pessoas mais novas e depois iniciou a graduação de licenciatura em história.

Atualmente, Elisane é professora na Escola Estadual José Roque de Almeida Rosa. De cinco irmãos, ela foi a única a conquistar um diploma acadêmico.

"Estar, hoje, passando conhecimento, muitas das vezes supera toda a dificuldade da profissão porque é gratificante. Eu sempre falo para os alunos não desistirem. Se sentir professor, não é só passar o conhecimento, é fazer parte da vida dos alunos."

'Sempre me encantou a educação'

Ser professora não era a profissão que Camila Simões havia escolhido de início, porém, lecionar sempre foi uma paixão para ela.

“Quando entrei na área artística, para atuar, [eu adoro o cheiro do palco], logo percebi que eu gostava de dirigir. Então, por exemplo, a pós em pedagogia do teatro que fui fazer foi por conta de direção teatral, mas já estava lecionando. Sempre me encantou a educação.”

Camila Simões é professora de artes há 24 anos — Foto: Pâmela Ramos/g1

Ela começou a trabalhar na escola estadual José Roque de Almeida Rosa há 20 anos. "Minha vida tomou um rumo que eu não escrevi, mas ela tomou um rumo que eu sou apaixonada. Eu falo para os meus alunos que eu faço aquilo que eu amo, porque eu ensino aquilo que eu realmente gosto."

Para Camila, ser professora é algo precioso. É acompanhar a formação de alunos que continuam com um apreço por ela até a fase adulta, é presenciar a alegria e espontaneidade da criança ao aprender algo novo.

“Acho que o grande diferencial dos profissionais da educação é ver o aluno como aluno, como ser humano provido de capacidade intelectual, conflitos, medo, insegurança, dotado de alegria. É ver a pessoa, como pessoa.”

Camila Simões é professora há mais de 20 anos na rede estadual — Foto: Arquivo Pessoal

Durante a entrevista, Camila falou sobre o curto tempo para lecionar artes, desvalorização dos professores formados em artes cênicas e mudanças na aposentadoria.

"Dentro de uma escola você não ensina a pessoa a ser artista, não é isso. Você ensina o conceito do que é arte, ensina que a arte é o reflexo da sociedade."

'É muito gratificante'

Fabiana Berger, de 49 anos, começou a dar aula para crianças em 1997, em uma escola particular de Alumínio (SP), onde trabalhou por dez anos. Em um determinado período, ela passou a substituir professores para dar aulas de inglês.

Mais tarde, Fabiana chegou a trabalhar na secretaria de uma escola de cursos preparatórios até ser convocada para trabalhar na escola estadual José Quevedo, no Cajuru, em Sorocaba, como professora de inglês.

"Em 2017 eu sofri um acidente de trabalho, caí da escada, fraturei meu tornozelo e fui readaptada. Então, nesse período, do final de 2017 até 2018, fiquei em casa. Quando retornei, me vi fora da 'casinha' e procurava o que fazer."

Fabiana Berger trabalha na sala de leitura da escola estadual José Roque de Almeida Rosa — Foto: Pâmela Ramos/ g1

Em 2020, Fabiana passou a trabalhar na biblioteca da escola José Roque de Almeida Rosa. Com a pandemia, tudo precisou ser readaptado para a internet, até as indicações literárias.

"Tive que fazer blogue porque não tinha como incentivar a leitura de outra forma. Só que também tinha aquela problemática do acesso à internet, porque não eram todos os alunos que possuíam em casa."

Com a volta das aulas presenciais, alguns alunos não tinham sido alfabetizados. Foi então que Fabiana começou a ensinar os estudantes a ler e escrever.

"É muito gratificante. Eu achava que a minha passagem pela sala de leitura não ia ter esse impacto na vida dos alunos. Para mim, tem sido um incentivo. Essa parte da alfabetização, eu achava que era uma página virada na minha vida."

Admiração

Estudantes falam da admiração pelos professores — Foto: Pâmela Ramos/g1

A admiração pelos professores se estende aos mais novos. Ao g1, as estudantes Manoela Leandro, de 14 anos, e Laura Ramos, de 13, falaram sobre o período de readaptação com a volta das aulas presenciais e da importância do profissional de educação.

"Eu admiro muito os professores e alguns eu tenho como apoio em várias circunstancias. Me ajudam bastante quando eu estou mal e estão sempre procurando fazer o máximo deles para ajudar a gente a melhorar o nosso desempenho", conta Laura.

"Os professores sempre se preocupavam se a gente não fazia as atividades, até ligavam para a gente. Na retomada eles ajudaram bastante porque revisaram todo o conteúdo", relatou Manoela.

Veja mais notícias da região em g1 Sorocaba e Jundiaí

VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!