Brasil

Professores erguem livro de Paulo Freire em foto com ministro da Educação

Durante reunião com docentes vencedores de prêmio, Abraham Weintraub voltou a criticar o educador: 'Ninguém quis copiá-lo'
Os vencedores do prêmio Professores do Brasil, organizado pelo MEC, que se encontraram com o ministro Foto: Ana Paula Ribeiro
Os vencedores do prêmio Professores do Brasil, organizado pelo MEC, que se encontraram com o ministro Foto: Ana Paula Ribeiro

SÃO PAULO — O ministro da Educação, Abraham Weintraub , voltou a criticar o pensador Paulo Freire , questionando a eficácia de sua metodologia no ensino. Ele fez isso logo depois de posar para uma foto cercado de professores. Enquanto se reuniam ao redor de Weintraub para aparecer na imagem, alguns docentes ergueram livros de Freire , o filósofo Patrono da Educação Brasileira, cujas ideias são alvo constante de membros do governo de Jair Bolsonaro .

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— Ninguém quis copiar Paulo Freire e os nossos resultados (em rankings de avaliação) são ruins. Se isso é sacrossanto e não pode ser dito, então podem atirar pedra. Não tem problema — disse Weintraub após se encontrar com os vencedores do prêmio Professores do Brasil, organizado pelo MEC.

No encontro com os 30 ganhadores do prêmio, todos da rede pública de ensino, o ministro ouviu relatos sobre os projetos vencedores, que muitas vezes envolviam realidades locais (protagonismo de jovens negros, identidade dos índios nos livros pedagógicos e violência na sociedade).

Dos docentes, ouviu também um apelo para que a profissão fosse valorizada e que o professor não fosse colocado como inimigo do povo. Alguns ainda argumentaram que é a universidade que produz conhecimento e faz a formação de docentes para que eles possam trabalhar na educação fundamental e no ensino médio.

Objetivo era estimular o diálogo, mostrar a importância de Paulo Freire e o risco do corte de verbas nas universidades

Uma das professoras que participou do protesto silencioso de erguer livros, Ana Beatriz Maciel, afirmou que a manifestação foi respeitosa e que o objetivo é estimular o diálogo, mostrando a importância de Paulo Freire e o risco do corte de verbas nas universidades.

— Não viemos armados. Viemos para dialogar. Não sabemos dos efeitos (das políticas que podem ser adotadas) para daqui seis, sete meses — disse a professora de Angicos (RN), cidade em que Paulo Freire desenvolveu seu método de alfabetização de jovens e adultos a partir das realidades locais.

Os docentes embarcam nesta noite para o Canadá, onde farão uma imersão de duas semanas no sistema local de educação. A viagem está sendo paga pelo Colleges and Institutes Canadá (CICan), parceira do MEC na premiação.

No Twitter, Weintraub publicou uma foto ao lado dos docentes. E escreveu: "Ouvi cada projeto inovador importante que vai muito ao encontro do que defendo! Precisamos investir na educação básica, valorizar nossos professores".

Crítica aos salários dos professores

No encontro, Weintraub negou que queira acabar com a graduação pública, mas afirmou que quer transparência nos gastos das universidades federais e defende conhecer modelos de ensino adotados em países que possuem um desempenho melhor que o brasileiro. Ele voltou a criticar os salários dos professores de universidades federais, uma vez que alguns chegariam a mais de R$ 30 mil.

— Hoje gastamos R$ 15,5 bilhões com professores universitários aposentados e R$ 15 bilhões em transferências para a educação básica. Eu só quero transparência. Quero que (as universidades) mostrem os números. O recurso é limitado — disse.

O ministro afirmou ainda que é preciso trabalhar a educação nas séries iniciais para estimular o aluno a melhorar a capacidade de interpretação de texto para, ao chegar na adolescência, ser um "autodidata".

— A capacidade depois do jovem interpretar um texto, ser autodidata. O objetivo final qual é? Uma pessoa com 14, 15, 16 anos ser um autodidata. Uma pessoa que consiga pesquisar e ver as coisas, ler e fazer contas — disse.

Weintraub afirmou ainda que está sendo feita uma narrativa contra ele que o coloca como inimigo dos professores. Lamentou ainda o fato de já ter sido chamado de nazista. Seu avó ficou mais de dez anos preso em um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

— Não consigo achar nada mais horroroso do que chamar alguém que teve familiar que foi para campo de concetração de nazista. É igual chamar um negro de macaco — afirmou.