Cultura
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Por Talita Duvanel

Pouco depois do início do “Big Brother Brasil 23”, a mineira Carolina Pereira, de 35 anos, fez um vídeo no Instagram sobre o participante Fred, ex-namorado da influencer Bianca Andrade, conhecida como Boca Rosa. O título era “Boco Roso”, um pretexto para falar sobre gênero e língua portuguesa. Ela é dona do “Português é legal” (@portugueselegal, com 245 mil seguidores) e faz parte de uma nova geração de influenciadores que dá protagonismo ao idioma de forma não dogmática. Com roupagem pop e alguma crítica, seguem a cartilha de usar redes sociais para combater preconceitos linguísticos.

— A minha intenção é ensinar a regra explicando contextos. Em que momentos não somos obrigados a usá-la e em quais não se usa de jeito nenhum? — diz Carol, como é mais conhecida, que é de Pedralva (MG) e graduada em Letras.

Adequar o vocabulário ao cenário também é a lição dada por Simone Porfíria, de Guapimirim (RJ), professora da rede pública estadual e do município de Duque de Caxias. Ela é um fenômeno no TikTok (@simoneporfiria), onde tem mais de 240 mil seguidores.

—Quero que eles vejam as palavras da língua portuguesa como se fossem roupas. Para cada ocasião, há uma para vestir — explica a professora, formada em Letras, de 41 anos.

Simone entrou neste universo no início da pandemia, com objetivo de estimular alunos ociosos e se automotivar a dar aulas. Hoje, o ensino presencial voltou, mas ela nem pensa em abandonar os “alunos” do Brasil inteiro, que recebem explicações sobre como “brabo” e “bravo”, por exemplo, são sinônimos e têm pouquíssimas diferenças no uso prático.

— Várias pessoas passam a vida achando que usam a língua portuguesa de forma errada, mas nem sempre é o caso — explica Simone, que dedica dez horas dos sábados para criar os conteúdos postados ao longo da semana. — Existe o caminho da norma culta, que realmente cai numa prova, no Enem, num concurso. Mas a maneira como se fala não é errada.

Esta é uma das abordagens da linguística, ciência que estuda todos os tipos de linguagens. Carol, por exemplo, faz também conteúdo sobre línguas de sinais.

—No mundo acadêmico, essa discussão sobre a gramática normativa ser só um pedacinho da língua é forte. A linguística é avançada. Mas, quando você sai da academia, esse discurso é muito frágil — diz Carol, que começou no YouTube, em 2012, mas agora chama a atenção mesmo é no Instagram e, desde outubro do ano passado, aportou no TikTok. — O meu conteúdo mais comentado lá é um vídeo de nove minutos sobre interpretação de texto! Pessoas que não eram seguidoras comentaram: “Nossa, entrei para me divertir e acabei de assistir a uma aula.”

Professor de Psicolinguística da Unicamp, Thiago Motta é seguidor desse tipo de perfil e comemora o sucesso das postagens.

— As crianças chegam à escola falando português. Ninguém está indo para aprender, porque elas já sabem, já se comunicam — diz Thiago. —Mas, se o que elas estão levando não estiver perto do que é mais aceito, vira uma questão de autoestima. É importante aprender o que acontece com a língua das pessoas e não desprezá-las por isso.

‘BBB’ é estratégia

Para vencer os preconceitos linguísticos, o jovem catarinense Vitor Hochsprung, de 24 anos, trabalha pesado em cima da cultura pop. Dono do Instagram @vitorlinguistica, criado no início da pandemia e hoje com quase 14 mil seguidores, ele usa como material o que anda bombando na TV e na música.

Já passaram pelo feed “Stranger things”, K-pop e até uma análise da ligação entre o influenciador Luva de Pedreiro com a morfologia. Seu primeiro hit no perfil foi a explicação da pronúncia do plural de miojo (por que se fala miôjos e não miójos?), palavra colocada em evidência por Felipe Prior, no “BBB 20”. No início do ano, inclusive, o reality show da TV Globo é o programa que lhe rende mais pauta.

— Acompanho “Big Brother” desde 2010, com muita felicidade. Levei um pouco da minha identidade de jovem brasileiro para o meu conteúdo — diz ele, que está preparando novas aulas sobre o uso do português no programa de inteligência artificial IA ChatGPT.

Vitor não esconde, no entanto, ter tido receio, como jovem acadêmico, do que os pares iriam pensar da sua abordagem.

— Tinha medo de pensarem que eu estava infantilizando a área. Mas a academia abraçou de um jeito positivo — diz o rapaz, nascido em Brusque (SC), que já ganhou um prêmio da Associação Brasileira de Linguística por seu trabalho.

Quem também trafega com naturalidade entre os ambientes formais e informais é Jana Viscardi. No Instagram, seu perfil @janais tem uma audiência de mais de 80 mil pessoas. Formada em Linguística e com doutorado na área, ela aborda o assunto com humor peculiar e crítico. Há duas semanas, postou um vídeo em que faz a voz de algumas frutas comentando o “absurdo do uso de truce e menas” (em vez de “trouxe” e “menos”). “Já pararam para se perguntar por que vocês ficam tão incomodadinhas com isso?”, diz ela.

— Fico feliz que o meu conteúdo volte para as escolas e universidades — diz a paulista de Votuporanga, de 42 anos. — Mas o que me deixa contente mesmo é saber que estou conseguindo conversar com pessoas que não são da minha área, com outros entendimentos e em diferentes lugares do Brasil.

Assunto de todes

Um dos assuntos sobre o qual volta e meia Jana Viscardi e os outros perfis fazem posts é o uso do gênero não binário, ou linguagem neutra. O famoso todes, alunes, jornalistes etc. Não existe consenso na nomenclatura dessa nova forma de falar e escrever, que busca uma alternativa ao masculino e ao feminino padrões.

Os influenciadores ouvidos pelo GLOBO passam longe de dizer o que consideram certo ou errado neste assunto. Preferem discutir as motivações dessa forma de comunicação, que, muitas vezes, é classificada como algo que fere a língua portuguesa.

— Quando dizemos que algo não existe na língua , ignoramos novidades que aparecem, tanto na fala quanto na escrita, por causa de um entendimento que considera tudo no português como uma coisa só — diz Jana. —Para mim, falar sobre a linguagem não binária é mostrar para as pessoas que essas formas existem porque são empregadas por diferentes comunidades. Se isso vai se manter ou não, ninguém tem bola de cristal para saber.

Questão interdisciplinar

O assunto está na ordem do dia. No início do mês, a linguagem neutra foi parar no STF. A maioria do ministros derrubou uma lei estadual de Rondônia que proibia seu uso em escolas e concursos. Oito ministros acompanharam o argumento do relator, Edson Facchin, de que os estados “devem obedecer às normas gerais editadas pela União” e que o uso dessa linguagem visa a combater preconceitos.

Desde a posse do governo Lula e da inserção do todes em discursos oficiais, Carol, do “Português é legal”, é frequentemente questionada por seguidores sobre o tema. Carol busca explicar que ninguém será obrigado a mudar a forma de falar e escrever:

— Há vários ruídos, informações mal interpretadas. As pessoas se queixam muito nas minhas redes: “Membros do governo estão usando todes, isso significa que, em breve, a gente vai ter que usar.” Na língua não existe imposição, a não ser em contextos específicos, como em concursos.

A influenciadora sugere que outras áreas do conhecimento entrem no debate:

— Não é uma mudança meramente linguística. A gente está falando de uma discussão de cunho social. Adoraria ver essa conversa acontecendo entre cientistas políticos, psicólogos, para tentar entender o incômodo. Novas formas linguísticas surgem o tempo inteiro, e a gente não sente que elas estão corrompendo a língua. Qual é a gravidade desse tema especificamente para que ele gere uma resistência tão forte? Não parece ser de fundo linguístico.

A professora Simone Porfíria tem a mesma sensação:

— Num dos vídeos sobre o assunto, usei vários exemplos de palavras que foram inseridas no português ao longo desses anos todos. Falo abertamente que isso não é sobre gramática.

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