Por Amanda Lima


Camila com alunos — Foto: Camila Roseno/ Arquivo Pessoal

A maioria das crianças já foi questionada sobre o que gostaria de ser quando crescesse. A decisão profissional quase sempre é bem diferente do que imaginado na infância. Com a professora contratada da Universidade de Pernambuco (UPE) campus Petrolina, no Sertão do estado, Camila Roseno, a escolha foi motivada por um motivo doloroso, a lesbofobia.

Este é o tipo de preconceito pelo fato de ser lésbica. "O meu primeiro relacionamento lésbico ocorreu no terceiro ano do ensino médio. Após boatos que eu estava ficando com outra aluna do colégio passei a sofrer situações de violência. Fui constrangida uma série de vezes, tive meu nome riscado no quadro da sala com o dizer “sapatão”, além dos olhares, piadinhas e risos quando eu passava pelos corredores. Pensei em desistir, cheguei a faltar muitas vezes, tinha vergonha, medo, culpa, foi um processo bem doloroso".

Para Camila, que também é professora da rede municipal de educação de Remanso-BA, a escola é um ambiente onde preconceitos são mantidos pela falta de diálogo e formação pedagógica. Por isso, ela, que atualmente ministra aulas de História; Identidade e Cultura; e Cidadania, além de História e Gênero, optou por tentar através da sua formação construir uma nova realidade. "Resolvi estudar as relações de gênero na escola e também de sexualidades. No meu trabalho eu observo o crescimento de políticas públicas na última década e como as ações feitas através dessas políticas reverberam em uma escola com uma educação não-sexista, não-homofóbica, não-lesbofóbica."

"Precisamos democratizar o ensino e o acesso a todas e todos na escola. Não podemos limitar a vida das mulheres e meninas dentro da escola devido a uma construção hierárquica".

Um dos resultados dessa luta é o documentário produzido pela professora no final da Dissertação do Mestrado em Educação pela UPE. Entitulado "Transgredir", ele aborda as políticas educacionais em gênero e diversidade sexual, além do atual movimento “Escola Sem Partido”.

Camila durante defesa de Dissertação do Mestrado — Foto: Camila Roseno/ Arquivo Pessoal

Nesta terça-feira (29), Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, Camila acredita que os motivos para comemorar sejam limitados, já que a lesbofobia continua sendo vivenciada no cotidiano. Mas reconhece avanços. "Sobre nós lésbicas ainda é difícil essa de se “assumir” em nossos locais de trabalho, principalmente pelos valores religiosos que são permeados uma boa parte desses. Mas atualmente vemos ações como a que está ocorrendo na Universidade Federal de Juiz de Fora que devem ser celebradas. É uma campanha linda!"

Dia Nacional da Visibilidade Lésbica

Comemorada nos dia 29 de agosto, a data foi criada em 1996, no 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE). O objetivo do dia é possibilitar a visibilidade dos direitos da mulher lésbica.

Apoio a vítimas de lesbofobia

Em Petrolina, com onze meses de funcionamento, a Associação Sertão LGBT Vale do São Francisco oferece apoio a vítimas de lesbofobia. "A Associação oferece apoio jurídico. Fazemos um primeiro contato conversando com a vítima e oferencendo nosso apoio. Caso a vítima aceite, a acompanhamos à delegacia da mulher, procuramos psicólogos e se for o caso a Secretaria da Mulher", explicou a jurista e Vice-Presidenta da Associação Sertão LGBT Vale do São Francisco, Abinéia Miranda.

A ativista ressalta a importância de denunciar casos de violência e preconceito. "É preciso procurar as autoridades locais para prestar a queixa-crime. A LGBTfobia ainda não é tipificada como crime, mas a denúncia serve até para quantificar os crimes e mapear os locais que precisam de segurança".

Os telefones para contato com a Associação são: (87)9 9628-9731 e (87)9 8831-2694.

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1