Por Augusto Sobrinho, g1 Goiás


Camiseta com a frase "Seja Marginal, Seja Herói", fazendo alusão à obra de Hélio Oiticica — Foto: Arquivo pessoal

A professora de história da arte demitida após o deputado federal Gustavo Gayer (PL) criticá-la por usar uma camiseta escrita ‘seja marginal, seja herói’ afirma que recebe apoio de professores e estudantes. O caso repercutiu nas redes sociais depois que o parlamentar publicou um vídeo comemorando a demissão da professora, que, segundo ele, faz apologia a ser “marginal”.

O g1 conversou com o deputado, porém, quando questionado sobre o caso da professora, o parlamentar não respondeu as mensagens. Também entrou em contato com o Colégio Expressão, que afirmou que já se posicionou sobre o caso nas redes sociais. Em nota, a instituição afirma que "escola não é lugar de propagar ideologias políticas, religiosas ou preconceituosas".

A expressão na camiseta faz alusão à obra 'Seja marginal, Seja herói', de Hélio Oiticica (1937-1980), um importante artistas brasileiros a partir de 1950 e que a professora trabalha em sala de aula por ser tema de questões de vestibular. "Sempre uso camisetas com obras de arte. É um jeito que tenho para conversar sobre arte com os alunos, de forma despretenciosa", explica a professora.

Exausta

Ao g1, a professora alega que está exausta e que a publicação do parlamentar não é um ataque pessoal, mas a toda a classe. “Estou em desespero e, extremamente exausta. Eu não como e não durmo, pois isso é muito cansativo. É um absurdo, ele me usou para fazer uma atrocidade que atinge todo mundo que trabalha com educação no país e no estado”, afirma.

A professora, que prefere não se identificar, destaca que este não é o primeiro episódio em que o deputado “ataca” os professores. “Este é o quarto ou quinto caso e estão todos indignados. O meu caso mexeu com todos os professores. Estou recebendo apoio unânime de colegas da rede pública e privada e todos dizem que está impossível dar aula”, destaca.

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Além do apoio de outros professores, estudantes também têm homenageado a professora e repudiado a demissão dela em publicações nas redes sociais. “Todos os santos dias eu recebo uma avalanche de mensagens dos meus alunos falando sobre o caso, pois eles também estão comovidos com o que aconteceu comigo”, alega a professora ao destacar a publicação de uma aluna.

Na postagem, a estudante afirma que a escola é um espaço para promover o pensamento crítico e diz ser “revoltante” a situação que a professora está passando. Ela também alega que a demissão faz com ela e os colegas pensem que os ensinamentos de sala de aula são “errados”, pois não poderiam, por exemplo, debater a obra de Hélio Oiticica de forma “crítica”.

Ação

O advogado que representa a professora, Alexandre Amui, afirma que ajuizou na sexta-feira (5) uma ação contra o deputado federal Gustavo Gayer (PL). Ele explica que pediu uma indenização moral à professora, que foi demitida após o parlamentar publicar a foto dela com a camiseta nas redes sociais, o que a defesa alega ser um abuso.

“Alegamos que há um abuso cometido por ele e que a liberdade de expressão encontra limites, ou seja, não é absoluta. Quando o direito de um começa o do outro acaba”, afirma. Amui detalha que a ação também obriga o deputado a excluir os vídeos contra a professora ou as publicações marcando a escola, além de impedir novas postagens.

Nesta segunda-feira (8), o parlamentar ainda usou as redes sociais para comentar a repercussão do caso. Nos stories, Gayer zomba do apoio dado à professora pela Associação Nacional de História (ANH). “Agora nem durmo mais”, afirma. Além disso, ele alega que os jornalistas goianos estão defendendo “essa porcaria”, escreveu.

Relembre

Ao g1, a professora contou que trabalhava no Colégio Expressão, localizado em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, desde janeiro e que seu contrato finalizaria em dezembro deste ano. Porém, ela foi demitida por ligação na sexta-feira (6) após a repercussão da publicação do deputado federal. Segundo ela, inicialmente, a escola faria um acordo.

“Eu não esperava por isso, pois normalmente as escolas não dispensam os professores no meio do semestre e piorou no meio do mês. Eu acreditei que a escola não fosse me demitir, pois na quarta-feira (3) eles conversaram comigo e disseram que iríamos resolver a situação por meio de nota informativa e de uma evento para debater o tema com os alunos ", finaliza.

Nota divulgada pela escola na íntegra:

O Colégio Expressão e o Colégio Expressão Jr. têm o compromisso de oferecer uma educação de qualidade, pautada pela ética, respeito e diversidade. Por mais de 23 anos, nossa escola jamais induziu, militou ou abordou temas políticos, religiosos ou de gênero, pois acreditamos que essas escolhas devem ser respeitadas e discutidas no âmbito familiar.

Nossa missão é proporcionar aos nossos alunos uma formação integral, que prepare não apenas para o ingresso no mercado de trabalho, mas também para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Para isso, trabalhamos com um conteúdo pedagógico atualizado e alinhado com as exigências do Enem.

Ensinar conteúdos polêmicos em sala de aula pode ser um desafio para nós educadores. Porém, como profissionais da educação, temos a responsabilidade de apresentar esses temas de forma imparcial e crítica, sem tomar partido ou influenciar nossos alunos. É importante destacar que a escola não é lugar de propagar ideologias politicas, religiosas ou preconceituosas. Nossa missão é formar cidadãos conscientes e éticos, capazes de compreender e respeitar as diferenças culturais e ideológicas.

Reconhecemos que essa é uma tarefa complexa, mas estamos comprometidos em buscar constantemente o aprimoramento para oferecer um ensino de qualidade.

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