Por Pâmela Fernandes, G1 Ji-Paraná e Região Central


Educadora usa fantasias para educar alunos em Ji-Paraná — Foto: Pâmela Fernandes/G1

Por trás das perucas coloridas, saias brilhantes, meias em cores neon e tênis com rodinhas estão a professora Barbara Megg Mezzaroba Benites Olkoski. Por motivos bem aparentes, a educadora recebeu o título de “Professora maluquinha” em uma escola particular de Ji-Paraná (RO), Região Central.

Há 8 anos na profissão, a professora conta ser apaixonada pelo que faz e já vê os resultados de ser “diferente” para os alunos.

Formada em pedagogia, Barbara leciona matérias variadas para as turmas do 2° ao 5° ano do ensino médio. Dentro de sala, não é apenas a matéria que conta.

Com seu jeito “diferente” de dar aula, a professora se tornou uma grande motivadora para os estudantes, que se interessam e se envolvem mais nas aulas e, consequentemente, também aprendem mais.

Professora diz que alunos aprendem além da matéria — Foto: Pâmela Fernandes/G1

Escolha da profissão

Barbara conta que desde criança brincava de “escolinha” e tinha como único aluno o irmão. Usava o guarda-roupa como lousa e pegava os pedacinhos de giz que os professores descartavam na escola. Já na adolescência, começou a lecionar na igreja, como catequista.

“Então, senti aquelas ‘borboletas no estômago’. Aquelas que te mostram quando você encontrou o caminho certo. Estar diante de um grupo de crianças com aqueles olhinhos brilhantes e curiosos... era aquilo que eu queria para o resto da minha vida. Aquilo me completava”, relembra a professora.

Ao longo da vida, ela relata que teve muitas inspirações. Foi criada em uma cidade pequena, Alta Floresta do Oeste (RO). Com menos de 25 mil habitantes, era inevitável que os próprios professores fossem amigos da família e morassem próximos dos alunos.

“Os professores eram amigos. Aqueles que moram na mesma rua e que têm a mangueira com as frutas mais saborosas do universo, que as casas eram invadidas por bolas de futebol. Então tive lindas inspirações ao longo da vida. Eu amava e admirava muito meus professores”, relembra.

Professora Barbara durante aula com alunos — Foto: Arquivo Pessoal

Já na faculdade de pedagogia, as inspirações continuaram e foi lá que perdeu totalmente o medo de arriscar no diferente.

Um professor em especial, exigia muita criatividade e perfeição de Barbara que, aprendeu, com bastante sofrimento como utilizar o lúdico.

“Despertou em mim um potencial que eu até então desconhecia. Me fez amar ainda mais o ofício e “me jogar” no ‘diferente’ sem medo de errar”, conta.

A professora se formou em uma faculdade particular e durante o curso optou por iniciar os estágios ainda no terceiro semestre.

Porém, Barbara tinha bolsa integral por um programa do governo. “Eu não precisava do desconto. Mas me interessei pela oportunidade. Pude vivenciar diferentes contextos dentro e fora das salas”, relembra.

Ela colou grau em dezembro de 2009, mas, já estava contratada em agosto do mesmo ano.

Fantasias

A professora conta que desde muito pequena já gostava de grupos de teatro. Barbara explica que cada fantasia tem um objetivo e uma mensagem específica com o tema ou aula que será abordada no dia.

Professora diz que sempre sonhou estar na educação — Foto: Pâmela Fernandes/G1

“A fantasia me torna mais acessível ao universo encantado que cada um de “meus pequenos” traz dentro de si. Ela é um sinal de luz que chama da atenção deles para algo que precisam assimilar e aprender”, explica.

A montagem dos personagens, não tem nenhum segredo. Barbara conta que pega uma peça ou outra do guarda-roupa. Às vezes compra alguma outra peça que viu em um brechó, ou loja da cidade.

Quando chega à escola, passa de sala em sala e pergunta aos alunos qual será o nome daquela personagem.

“Vou ouvindo as opiniões dele e depois, escolho o nome que considerei o melhor. Hoje, estou de Limoranga, pois disseram que estou metade limão e metade moranga”, conta.

As fantasias não acontecem todos os dias. A professora explica que as fantasias não inspiram apenas os alunas, mas, também cria uma motivação para ela, a cada aula que os alunos participam.

“Ver os olhinhos brilhantes e vidrados em mim, à espera do que será dito ou feito, me inspira cada dia mais. A fantasia traz vida à imaginação deles e abre o caminho por onde o conhecimento poderá passar”, afirma.

Resultados

Quem conta sobre os resultados de todo esse empenho são as alunas Julia Araújo Menezes, de 9 anos, Maria Luiza Borges, de 7 anos, e Mariana Dias Martins, do ensino fundamental.

Segundo as meninas, as fantasias fazem muita diferença durante as aulas.

“As aulas são muito divertidas. Ela nos dá vontade de estudar, pois é muito animada. Ela quer nos incentivar a aprender. Ela consegue transformar aquela matéria chata em divertida”, contam.

Para Barbara, o interesse todos alunos já é um dos grande resultados positivos do jeito “diferente” de se ensinar.

“A fantasia não deve se limitar ao figurino, ela deve ser a essência do aprendizado. Meus alunos se demonstram extremamente interessados durante as aulas”, afirma.

Segundo a orientadora pedagógica Líbia Lima, o método lúdico utilizado em sala. Mesmo com os figurinos nada convencionais e cores nada discreta, a professora é levada muito a sério e tem dado muito resultado.

“A criança é muito lúdica. Ela (Bárbara) gera expectativa, atrai para si a atenção das crianças e consequentemente, elas assimilam melhor o conteúdo. Então, as crianças se divertem e nós também, pois nunca sabemos qual será a personagem que estará na semana seguinte”, afirma Líbia.

Professora rígida

Mas, mesmo com todo o colorido dos personagens, ao contrário do que pode parecer, a professora carrega um “caderninho do mal” dentro da bolsa e, além de ser considerada a professora mais legal, é também considerada a mais rígida de toda a escola.

“Meus alunos entendem perfeitamente os momentos de viajar no mundo da fantasia e os momentos que exigem seriedade e respeito às regras e rotina de sala de aula. Acredito o que meus alunos mais gostam é justamente esse equilíbrio que transmito”, explica.

Profissão Professor

Barbara concorda que hoje são raras as pessoas que sonham em ser professor. E, para ela, o mais preocupante é quando as pessoas que ainda entram na profissão, optam por isso pelos motivos errados, como estabilidade financeira ou apenas como uma ponte para outra profissão.

Para ela, a área de educação exige muito amor e dedicação, pois lidam diretamente com as crianças.

“Um professor que está em sala de aula, mas deseja estar em um outro emprego transmite, involuntariamente, por suas ações e posicionamentos um desinteresse que contagiará a turma”, afirma.

Outro problema que muitas vezes desmotiva a opção pela profissão é a desvalorização financeira, que muitas vezes acontece.

“É algo explicito e preocupante. Mas nossos alunos não têm culpa alguma, portanto o desempenho de um docente não deve ser nivelado ao seu retorno monetário”, acredita.

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