Por Lucas Figueira, g1 Triângulo e Alto Paranaíba — Uberlândia


Uma professora de inglês foi demitida do Colégio São Paschoall, em Uberlândia, após condenar discurso de ódio de um grupo de alunos da própria instituição nas redes sociais, e decidir conversar com os estudantes sobre as manifestações antidemocráticas que ocorrem pelo país, após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais.

A docente, que optou por não ser identificada nesta reportagem por receio de ser demitida de outra instituição onde leciona, contou ao g1 que também aproveitou a ocasião para explicar aos alunos o conceito de democracia.

Aula após o 2º turno das eleições

A aula onde os temas foram tratados ocorreu no dia 3 de novembro. Na ocasião, ela foi procurada por alguns estudantes que mostraram a ela discursos de ódio praticados por alunos da própria escola.

Entre as publicações em redes sociais, segundo a professora, haviam frases como: “Esses petistinhas tinham que morrer”; “Tinham que ser estuprados nesses banheiros unissex” e “Tomara que todos morram de fome”.

“Eu sempre falo de atualidades, de guerras, movimentos antivacinas. Minhas provas trazem atualidade e acabam trazendo política. Aí eu expliquei que não podia falar coisas assim, pois isso é discurso de ódio e é crime”.

Durante a aula, estudantes ainda falaram sobre as manifestações em frente aos quartéis do Exército. A professora contou ter esclarecido que se tratavam de atos contrários à democracia.

Durante as explicações, a professora foi gravada sem o consentimento dela por alunos que estavam em sala. Horas após a aula, foi chamada pela coordenação da escola. A princípio, ela entendeu que seria apenas uma conversa, mas se surpreendeu ao ser demitida, segundo a professora, sem poder apresentar a própria versão sobre o ocorrido em sala de aula.

Sindicatos se manifestaram

O g1 procurou a direção do Colégio São Paschoall, mas a unidade de ensino preferiu se manifestar por meio de nota emitida pelo Sindicato das Escolas Particulares do Triângulo Mineiro (Sinepe).

A instituição informou que recomendou os afiliados adotarem medidas de orientação e prevenção de enfrentamentos políticos no ambiente escolar. Mas que a professora contrariou as orientações e interesses dos pais e “reservou uma aula para promover um debate, não político no sentido amplo da expressão, mas sim partidário, inflamado e totalmente diverso da sua disciplina”. Diante disso, o colégio optou pela rescisão do contrato.” (Veja a íntegra da nota mais abaixo)

Já o Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro) classificou a decisão da escola como “arbitrária”, em que a professora manteve um diálogo em sala e não deixou de dar aula. A única ação dela foi “condenar o discurso de ódio”. O Sinpro ainda condenou a atitude da escola dizendo que ela corrobora comportamentos hostis, típicos daqueles que não prezam por uma sociedade mais justa, desenvolvida e inclusiva, baseada no respeito”.

“O que ela fez foi condenar o discurso de ódio, atitude que se espera de qualquer docente comprometido com a formação cidadã, e conversar, a pedido dos próprios estudantes, acerca de fatos do cenário nacional”.

Ainda conforme o sindicato, o caso é acompanhado pelo departamento jurídico.

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Íntegra da nota do Sinepe

“Considerando as particularidades enfrentadas pelos brasileiros em face dessa acirrada dicotomia político ideológica e sendo as escolas um potencial campo de embates e debates, a representação sindical das escolas particulares optou por orientar seus filiados a adotarem medidas de orientação e prevenção de enfrentamentos políticos no ambiente escolar.

A questão foi tratada em reuniões pedagógicas, em reunião de pais e reuniões administrativas. E, bem como, recomendação expressa ao corpo docente para adoção de condutas harmoniosas visando inibir possíveis conflitos justamente em respeito a toda comunidade escolar. Imperou a tranquilidade. Inclusive no decantado movimento do chamado “assédio eleitoral”.

Respeito mútuo. Até que uma professora de inglês, contrariando as orientações da direção bem como o interesse dos pais para a manutenção de tranquilidade reservou uma aula para promover um debate, não político no sentido amplo da expressão, mas sim partidário, inflamado e totalmente diverso da sua disciplina.

Não bastasse, utilizando de “gírias" e expressões não condizentes com o ambiente educacional e em contrariedade ao projeto pedagógico da instituição. O assunto foi levado aos pais num primeiro momento pelos próprios alunos. A reação foi de contrariedade. A instituição, usando de seu poder potestativo sobre os contratos de trabalho e pautada nas orientações repassadas a todos, optou pela rescisão do contrato”.

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