Brasil Educação

Primeiras mudanças no MEC preocupam educadores

Nomeações de pessoas inexperientes e viés centrado no combate à 'doutrinação ideológica', segundo especialista, pode ser prejudicial
Ricardo Vélez Rodríguez assumindo a pasta Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil
Ricardo Vélez Rodríguez assumindo a pasta Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

BRASÍLIA e RIO- As primeiras movimentações da nova gestão do Ministério da Educação (MEC) têm deixado especialistas receosos sobre os rumos da pasta. As nomeações feitas pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez para as secretarias do órgão alarmaram educadores pela inexperiência dos escolhidos. A pasta incluiu no pacote de prioridades para os cem dias de gestão Bolsonaro uma ação na área de alfabetização: banir métodos globais, que costumam ser associados à teoria construtivista de desenvolvimento cognitivo, para promover o método fônico.

Segundo educadores, até agora o perfil que se desenha para o órgão mostra um desvio de foco dos problemas centrais da área para uma cruzada contra o que o governo chama de “doutrinação ideológica”.

Procurada, a assessoria do ministro afirmou que ele só dará entrevistas sobre a pasta a partir do dia 14 deste mês.

Um dos nomes que irão compor o novo time do MEC, Murilo Resende Ferreira foi indicado pelo movimento “Escola sem Partido” para a Diretoria de Avaliação da Educação Básica do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem. Doutor em Economia, ele já chamou professores de manipuladores.

Dos seis secretários anunciados por Vélez anteontem, ao menos três foram seus alunos e não têm formação ou experiência na área em que atuarão. Interlocutores do ministro minimizam o fato de eles serem “novatos”, dizendo que não trazem vícios.

— Há a necessidade de tomar decisões com base em evidências para perceber o que potencializa o aprendizado. Isso exige conhecimento sobre educação, gestão e sistema educacional. Sem isso, tomaremos decisões com base em valores pessoais e crenças — critica a educadora Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, acrescentando que a formação e a valorização do professor são os maiores desafios.

Alfabetização

Os professores foram alvo de críticas contundentes por parte do novo diretor do Inep. Em uma audiência no Ministério Público Federal sobre “Doutrinação político-partidária no sistema de ensino”, em 2016, Ferreira definiu a categoria como “gente que não quer estudar de verdade”.

Para Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação, o MEC deve fazer uma escolha consciente sobre o que mais importa para melhorar a educação do país:

— A corrida começou agora para esse time. Eles podem ouvir quem tem experiência e fazer uma gestão voltada para a aprendizagem. Ou escolher caminhos sem evidência de eficácia, o que atrasaria a garantia de oportunidades para os brasileiros.

A questão ideológica também aparece na opção por um método específico de alfabetização para ser o carro-chefe da área. Carlos Nadalim, mestre em Educação que assumirá a Secretaria de Alfabetização, é um defensor do método fônico. Nele, a aprendizagem começa nas letras e sílabas até chegar às palavras. Nos métodos globais, que se aproximam do construtivismo, o caminho costuma ser o inverso, partindo de textos para chegar às letras e sons, focando na compreensão da leitura. Entre a equipe, há a opinião de que as técnicas construtivistas têm caráter “ideológico”.

No Brasil, em geral, adota-se essa abordagem, mas não há regra. Para especialistas, a combinação de técnicas com alfabetizadores bem formados é o mais importante.

— Não faz sentido falar em um método versus o outro. O aluno precisa aprender a palavra e associar isso à leitura — afirma Angela Klein, doutora em Linguística pela Unicamp.

Maria Helena de Castro, ex-secretária-executiva do MEC no governo Temer, explica que os métodos fônicos têm sido usados em países como Austrália e Holanda. Finlândia e Canadá adotam uma linha mais construtivista:

— Depende mais do preparo de professores e do acesso a bons materiais.