A estudante define esta realização como “grande momento” da sua vida. “Minha família não teve essa oportunidade que eu tive. Meus quatro irmãos e minha mãe sempre lutaram bastante pela minha educação então para eles foi uma grande dádiva. Eles viram que o sonho deles e o meu se concretizou”, comenta Frances. Ela conta como a educação sempre foi um desafio para seus parentes. De família humilde, seus pais não conseguiram finalizar o Ensino Médio.

Por estes motivos, Frances sempre se esforçou para tirar notas boas. “Sempre tentaram pagar uma educação de qualidade para mim, a maior parte da minha vida eu estudei em escolas particulares de bairro, mas foram todas com desconto ou bolsa por conta das minhas notas boas”, conta.

Mas foi só quando trocou de escola para o Dr. César Cals que Frances descobriu o que queria fazer para o resto de sua vida: ensinar. A cearense aprimorou a sua escrita de redação por meio de projetos da rede estadual de ensino como o Enem Não Tira Férias, onde os alunos revisam conteúdos no período de férias escolares e laboratórios de redação da sua escola que, mesmo com limitações de recursos, como ela descreve, sempre apoiava ela e todos os estudantes.

“Foi minha melhor experiência na educação. Minhas notas foram bem mais valorizadas e lá eu peguei gosto pela educação. Com a prática eu comecei a ser muito boa em redação e outros alunos me procuravam para ajudá-los. Comecei a dar reforço para alguns e acabei gostando muito de ensinar. Foi lá que eu me apaixonei pela minha graduação”, relata.

Um ano depois, já cursando a graduação veio um convite irrecusável: voltar para a Escola Dr. César Cals como tutora de redação. Ao G1 CE, Frances confessa que desde quando decidiu o magistério como profissão futura, sempre sonhou em retornar ao colégio para dar aula.

“Eu procurei uma ex-professora minha de português e disse a ela que se ela quisesse eu poderia ajudar ela a corrigir algumas redações. E aí ela falou com a coordenadora para eu ir trabalhar lá dentro da escola, em um projeto redação nota 1000 que tem lá, dentro do programa Minha Escola é da Comunidade. Eu fiquei com medo porque eu achava que não estava preparada porque ainda estou no começo do curso mas eles acreditaram no meu potencial. Foi uma prazer voltar para lá”, destaca.

Segundo a Secretaria da Educação do Estado (Seduc), 20.207 alunos da rede pública estadual cearense ingressaram no Ensino Superior neste ano. O número é 19,6% maior em relação a 2017. Conhecedora do contexto da escola pública, que apesar das faltas de recursos, vêm aprovando mais aluno, Frances diz que se sente em uma missão de ajudar mais alunos e amigos.

“Estou vendo pelo outro lado agora trabalhando como tutora e professora. Apesar das dificuldades não podemos desistir da educação. Me sinto em uma tarefa de responsabilidade com eles, porque educar não é expor isso e aquilo, tem que se aproximar dos alunos. Eu tento ver muito eles como meus amigos, pessoas iguais a mim que eu preciso tentar ajudar a chegarem aonde eu cheguei ou até mais longe. Passar no curso que eles querem, mostrar que eles poderem tirar notas boas”, pontua a estudante.

Neste ano, assim com ela, os seus alunos terão a oportunidade de tentar entrar na universidade por meio do Enem 2019, que ocorre nos próximos dias 3 e 10 de novembro.