Educação

Por Luna Markman, TV Globo


Série Educação: As opções para quem precisa escolher uma profissão

Série Educação: As opções para quem precisa escolher uma profissão

O final do ensino médio é o período em que os estudantes são levados a escolher a profissão. Diante disso, surgem dúvidas e medos em relação ao futuro. Essa sensação agrava as questões emocionais, sociais, pessoais e coletivas que os jovens enfrentam no momento decisivo da vida educacional (veja vídeo acima).

(Desde a segunda-feira, 7, o g1, o Bom Dia PE, o NE1 e o NE2 trazem reportagens com reflexões sobre a educação. Confira, mais abaixo, links das outras matérias.)

"As escolas, hoje, apoiam muito emocionalmente, mas não diria que nos deixam 100% preparados e com sentimento de confiança total para essa nova etapa, que é entrar na faculdade e sair do nosso conforto que é o colégio", diz a estudante Thais Zloccowick.

Sofia Alcantara, de 16 anos, diz que sente falta de ver, nas escolas, conteúdos importantes, como aulas de educação financeira. Para ela, é como se o foco dos colégios fosse apenas preparar o aluno para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que começa neste domingo (13).

"Só falam sobre Enem, Enem, Enem. Mas o que rola depois? Como funciona o Sisu (Sistema de Seleção Unificada, usado para se candidatar às vagas nas universidades)? Como pode colocar nota para entrar numa faculdade, como se concorre a bolsas com a nota do Enem?", questiona a jovem.

Este ano, 3,5 milhões de pessoas se inscreveram pra fazer o Enem, em todo o país. São 186.837 candidatos em Pernambuco, somando os que farão o exame na versão impressa (184.860) e na modalidade digital (1.977).

A maioria é composta por jovens em busca de uma vaga na universidade e que precisam tomar uma decisão importante: a escolha da profissão. O desafio é equilibrar na balança a influência dos pais, o mercado de trabalho e a satisfação pessoal.

As opções são tão variadas quanto os sonhos de cada jovem. Alguns têm as opções muito bem definidas, como Carlos Henrique da Silva, de 16 anos. "No meu futuro, eu olho sempre com olhares positivos. Eu quero ser astrofísico", conta.

Pedro Guedes também tem uma direção bem clara em mente. "Eu tenho um sonho de passar na faculdade, no Enem, fazer ciência da computação, fazer estágio, já entrar numa empresa, começar a trabalhar. E tenho um sonho também de ter uma família", afirma.

Dificuldades para decidir

Sala de aula no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo José Maurício Cavalcanti, de 18 anos, porém, nem todos têm a oportunidade de seguir a carreira dos sonhos.

"Tem muita gente que escolhe a sua profissão baseado no quanto ela recebe, em como está o mercado de trabalho no momento. Eu vejo muitas pessoas que queriam fazer filosofia ou história e que acabam indo pra direito, medicina, por pressão da sociedade e mercado", exemplifica o estudante.

Mulher trans, Gina Nunes, de 18 anos, sente uma pressão extra. "O mercado não é muito inclusivo. Acho que a minha preocupação maior não é sobre fazer faculdade ou conseguir trabalhar, exercer essa função, é sobre o mercado estar aberto a me receber", conta.

Para a psicóloga e orientadora profissional Ana Carolina Azevêdo, é preciso ajudar esses estudantes a considerarem todas as opções e qual o impacto de cada variável no processo de escolha e em um projeto de vida.

"A gente precisa promover espaços onde haja um diálogo para que essas variáveis sejam refletidas. Assim como incluir um elemento valiosíssimo, que é a informação sobre algumas carreiras e áreas de interesse. E ajudá-los a pensar na relação que essas carreiras têm com sua história de vida, suas competências, suas características de personalidade", explica.

Transição de carreira

Alunos se preparam para o Enem — Foto: Reprodução/TV Globo

Na cabeça de Romero Dornellas, a única opção ao sair da escola era fazer faculdade. Ele não tinha preferência por nenhum curso. Escolheu engenharia de produção, porque o mercado parecia promissor.

Romero não conseguiu emprego ao final da graduação. Tentou concurso público e nada. Quatro anos depois, achou um trabalho de que gosta: ministrar cursos de marketing digital.

"O mundo mudou, as oportunidades mudaram. Talvez o Romero do terceiro ano não precise estudar pro vestibular, entrar numa faculdade, e se submeter a um emprego CLT, como era o caminho normal na minha época", lembra Dornellas.

Ana Carolina Azevêdo explica que é normal mudar de profissão ou fazer transições na carreira.

"Muitos jovens têm essa sensação que são jovens para escolher algo que seja definitivo. A gente não pode pesar nem enfatizar o definitivo. Tampouco, prescindir de escolher algo que seja consistentes. Então, a gente precisa ajudar o jovens a estabelecer critérios para uma escolha com a qual ele se identifica, embora seja necessário muitas vezes fazer transições", diz a psicóloga.

Alternativas

Uma pesquisa do Datafolha, encomendada pelo todos pela educação, feita em 2021, apontou que 67% (205) dos estudantes pretendem cursar uma faculdade após concluir o Ensino Médio. Ao todo, 307 estudantes foram entrevistados.

No entanto, apenas 24% dos jovens de 18 a 24 anos têm acesso ao Ensino Superior, de acordo com o IBGE.

Faltam poucos dias pra Mayara Correira, de 17 anos, começar a maratona do vestibular. Ela quer fazer faculdade, mas numa área pouco procurada pelos colegas: estética e cosmética.

A jovem ama maquiagem. Se não passar de primeira, já tem um plano. "Pretendo começar a trabalhar e, de repente, fazer cursos rápidos, com pouca carga horária, pra já ir pegando jeito", projeta.

Tendências para o futuro

Bruno Queiroz Ferreira é futurista, estuda as tendências do futuro. Em alguns anos, ele enxerga que robôs e inteligência artificial farão o trabalho pesado e repetitivo. Nós, humanos, teremos mais tempo livre, aquecendo a economia do bem-estar. Bom para o mercado do turismo e da beleza, por exemplo.

O envelhecimento da população é outra variável. Na medicina, ele lembra que vamos precisar de mais de geriatras que pediatras. O forte apelo de ambientalistas para acelerar a transição para fontes de energia renováveis também vai impactar o mercado.

"Vai ser necessário um grande conhecimento de engenheiros, da área de direito, da área de consultoria e dai por diante, para ajudar a fazer essa transição. Então, também tem um grande potencial de novas profissões surgindo. Um engenheiro pode continuar sendo engenheiro, mas a base que ele trabalha hoje vai mudar, então ele vai precisar evoluir para atender o novo mercado", explica.

Para se conseguir uma vaga ou se manter no futuro mercado de trabalho, o especialista dá dicas. "É importante ter conhecimento, mas é importante também desenvolver habilidades. Habilidades emocionais, como empatia. Até porque se o futuro é humano, nós vamos cuidar do ser humano, e empatia é uma das melhores habilidades pra isso", exemplifica Ferreira.

Mas o futuro também vai exigir muitas habilidades técnicas. "Aí entra a lógica e a matemática. Hoje, e no futuro tudo tem lógica, desde a programação até as outras demandas mais complexas", argumenta o futurista.

Por fim, ele argumenta que uma das habilidades mais importantes será a social. "Eu diria que é o autodidatismo; a capacidade de aprender sempre, e não necessariamente da maneira formal. Pode aprender por outros meios", conclui Ferreira.

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