Educação 360
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Por Pâmela Dias — Rio


Patrícia Rosas desenvolveu o projeto Desengaveta Meu Texto  — Foto: Laís Dantas/Globo
Patrícia Rosas desenvolveu o projeto Desengaveta Meu Texto — Foto: Laís Dantas/Globo

Um dos pilares do Movimento LED é promover o acesso à educação de qualidade para que crianças, jovens e adultos de todo o país consigam transformar o mundo através do conhecimento. Por meio do Prêmio LED, seis iniciativas brasileiras inovadoras da educação básica, da não formal e da profissionalizante receberam R$ 1,2 milhão, com o objetivo de fomentar seus programas. Elas foram selecionadas entre mais de 3,4 mil inscritos, e cada vencedor recebeu R$ 200 mil.

Nesta reportagem, é apresentada a história de todos os selecionados, que se destacaram por imprimirem três qualidades fundamentais às suas iniciativas: impacto, inovação e quantidade de pessoas atingidas. Os projetos são de comunidades e cidades periféricas do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia e Paraíba. O público-alvo de todos eles são pessoas que se encontram em vulnerabilidade socioeconômica e com pouco ou nenhum acesso à educação.

— É importante darmos ainda mais luz para iniciativas que geram renda para pessoas da comunidade na região em que estão alocadas, que oferecem cursos preparatórios para a entrada de jovens em universidade e escolas técnicas, ou proporcionem especialização e capacitação profissional, para que eles possam expandir seus limites — afirma Viridiana Bertolini, gerente de Valor Social da Globo.

O júri, formado por professores, doutores e empreendedores, analisou se os projetos apresentados buscavam soluções para problemas reais de maneira criativa, transformariam a realidade dos beneficiados e tinham potencial de serem replicados em outros territórios, multiplicando as boas ideias e contribuindo para reduzir as desigualdades sociais. Nessa primeira edição do festival, em cada categoria premiada, ao menos um projeto traz uma solução criada para o enfrentamento da pandemia de Covid-19 no campo educacional.

Desengaveta Meu Texto

Criado em 2017, em uma escola da zona rural da cidade de Campina Grande, na Paraíba, o Projeto “Desengaveta Meu Texto” revitalizou a biblioteca da unidade ao decidir que o protagonismo dos livros ali seria dos alunos. Desde então, estudantes tiveram a oportunidade de produzir textos de sua própria autoria. Por meio da Revista Tertúlia, um periódico mensal que divulga a produção literária de alunos — tanto crianças quanto adolescentes — e professores, novos escritores de poemas, crônicas, contos, romances e outros vários gêneros literários foram descobertos e passaram a ser lidos dentro e fora da sala de aula.

— A proposta sempre foi promover atividades que não gerassem apenas notas. Muitos alunos e professores têm talento para a escrita, mas ficavam no anonimato por falta de oportunidade. Até mesmo alunos menos interessados encontram no texto uma forma de transmitir suas vivências e regionalidade. Isso merece ter proporções nacionais e globais — defende Patrícia Rosa, professora e fundadora do projeto.

Entre os anos de 2019 e 2021, o “Desengaveta Meu Texto” recebeu apoio e incentivo financeiro de instituições sociais, o que possibilitou sua expansão para cinco escolas públicas da cidade de Campina Grande. Durante os dois anos de pandemia, além de ter sido finalista do Prêmio Jabuti — maior prêmio da literatura no Brasil —, o projeto criou o Delivery Literário, entregando mensalmente livros para 250 alunos. Cerca de 4 mil crianças e jovens em seis escolas públicas já foram atendidas.

O Prêmio LED vai ajudar Patrícia a tirar outra ideia do papel: o Programa de Proficiência Leitora MochiLER. O objetivo é peregrinar pelo Brasil levando a todos os estados o método pedagógico de formar novos escritores e leitores. Dessa forma, ela acredita ser possível reverter o cenário constatado pelo Censo Escolar de 2021, do Inep, de que um em cada três alunos termina o ensino fundamental sem ler fluentemente e com dificuldades em ortografia.

— Nossa meta é transformar a vida de jovens e crianças através do livro.

Mulheres Empreendedoras

O Programa de Inclusão Social Produtiva, no Rio de Janeiro, visa gerar trabalho e renda para mulheres de 60 comunidades fluminenses com os mais baixos índices de desenvolvimento humano. Dividida em três etapas — habilidades socioemocionais, qualificação profissional e incentivo à geração de renda —, a iniciativa, no ano passado, capacitou mais de 600 pessoas em cursos profissionalizantes e formou ais de 200 microempreendedoras.

Das 900 famílias assistidas, 90% tinham renda zero ao chegarem ao programa. Com a formação, 70% delas passaram a ter rendimento, que deu um salto de R$ 7,74 per capita mensal para R$ 237,28. Ao todo, cerca de 65% das pessoas deixaram o índice de extrema pobreza.

— Nós acreditamos num futuro melhor com educação. A capacitação de mulheres, que são mães solo, sofrem violência doméstica e vivem na pobreza, impacta outras vidas — afirma Clarice Linhares, superintendente do programa.

Através de cursos de moda, beleza, gastronomia e serviços de refrigeração e elétrica, as mulheres aprenderam a atuar no mercado e receberam incentivo financeiro para seus empreendimentos. Este ano, há 480 inscritas no programa. Com o Prêmio LED, outras 100 iniciarão em uma nova turma ainda em 2022.

A confeiteira Daiana Duarte, de 38 anos, realizou o sonho, em 2021, de trabalhar com doces e não só ajuda a sustentar sua família como colabora com a da irmã:

— Minha irmã trabalha comigo. A confeitaria me trouxe independência financeira.

Futuras Cientistas

O machismo experimentado pela pesquisadora Giovanna Machado durante as conferências científicas a levou a criar, em 2012, o “Programa Futuras Cientistas”, em Pernambuco, para estimular meninas do ensino médio e professoras de escolas públicas a seguirem carreira em pesquisa e tecnologia.

O projeto teve início com encontros para imersões científicas. A falta de verba, porém, fez com que as atividades fossem paralisadas por três anos, e só voltassem em 2016. O recomeço veio acompanhado de dois novos subprojetos: a banca de estudos para o Enem e a mentoria para atuação no mercado de trabalho. As aulas são oferecidas por professores voluntários e contam com a participação de universidades como Harvard.

— São aulas de geologia, química, física, matemática, engenharia e plano de trabalho voltado à sondagem. As meninas colocam de fato a mão na massa porque não subestimamos a capacidade delas — afirma Giovanna, que vai expandir o projeto para mais estados e ampliar as vagas com a premiação.

Até o momento, mais de 280 meninas foram beneficiadas. Entre cerca de 190 jovens do cursinho pré-vestibular, 65% optaram por seguir carreira na área da ciência. Ana Júlia Rocha, de 19 anos, do curso de engenharia de materiais da Universidade Federal de Pernambuco, quer ser inspiração para outras meninas.

— Cheguei onde estou graças ao “Futuras Cientistas”. Hoje penso em ser pesquisadora, algo que estava longe da minha realidade.

Sonho com Método

Em 2013, o professor de história Paulo Borges percebeu o potencial e o interesse de alunos do 9º ano em ingressar nas Etecs (Escolas Técnicas). A defasagem do ensino fundamental público foi o estopim para a criação do Cursinho Popular Guarani, no bairro Cidade Ipava, zona sul de São Paulo, uma península carinhosamente conhecida como ilha, dado seu isolamento e distância em relação aos equipamentos públicos da capital.

Com a ajuda dos professores Aleson Souza, Elvio Oliveira, Joel Ramos, Washington Nascimento e Maurício Ferreira, em 2015, o projeto se tornou também um cursinho popular pré-vestibular. Em 2018, o projeto começou a comemorar a aprovação de alunos bolsistas em universidades particulares e também na Universidade de São Paulo.

— Nossa ideia sempre foi criar um projeto que, além de conteudista, prepara os alunos para questões relacionadas ao contexto social, político e econômico existente nas periferias. Todo o ensinamento passado é baseado no afeto, criação e realização de sonhos — explica Borges, coordenador-geral do Cursinho Popular Guarani.

Desde a fundação, a iniciativa já atendeu mais de 1 mil estudantes, que são divididos em turmas aos sábados e durante a semana, no contraturno dos alunos. Além da verba importante para a manutenção do espaço onde as atividades são realizadas, o Prêmio LED está ajudando a atrair investidores que acreditam na educação comunitária.

— Como pagamos aluguel, a premiação vem como esperança para construção da nossa sede fixa, com um ambiente mais confortável e uma biblioteca maior, pois hoje só conseguimos atender 0,6% dos jovens de 14 a 25 anos da região — aponta Borges.

Lucas Costa, de 18 anos, participou das duas frentes do cursinho. Sem sucesso na tentativa de ingresso no ensino técnico, em 2019, ele decidiu começar a se preparar desde o 1º ano do ensino médio para o Enem. Este ano, ele ingressou com 100% de bolsa no curso de Relações Internacionais.

— Eu não tinha como pagar um curso e nem uma faculdade. O cursinho me ajudou. Também me deu instinto de liderança — afirma Lucas, que hoje é voluntário no projeto para ajudar outros estudantes.

Adote Uma Escola

Criado durante a pandemia, o Adote uma Escola é um dos projetos desenvolvidos pela ONG Link Tecnologia Social e tem como objetivo elaborar formas de enfrentar a evasão escolar intensificada no período. A iniciativa atende 3.600 alunos de três escolas públicas dos municípios de Guarujá e Cubatão, em São Paulo, através de aulas de reforço e atendimento especializado, conforme as demandas pessoais e educacionais de cada aluno.

O projeto conta com cerca de 150 voluntários, remotos, que orientam estudantes do ensino fundamental e médio, de acordo com suas habilidades profissionais. De acordo com Fernando Lins, secretário-geral da ONG, o prêmio ajudará a instituição a chegar em mais escolas e ampliar os apoios aos estudantes.

— No nosso projeto, os voluntários adotam os alunos. E com a visibilidade do LED, queremos dobrar o número de voluntários, que com certeza vão ajudar a cumprir nosso lema de que jovens conectados fazem coisas incríveis — diz Fernando, que faz um mapeamento das escolas mais carentes para ingressarem no projeto.

Empresários Rurais

Para auxiliar jovens que só viam perspectiva de vida e renda na cidade, pais e professores de Presidente Tancredo Neves, na Bahia, criaram, em 2002, a Formação de Jovens Empresários Rurais da Agricultura Familiar. A iniciativa inovadora oferece curso técnico gratuito em agropecuária, integrado ao ensino médio, que visa estimular a permanência de jovens no campo. Hoje, são atendidos 97 alunos, de sete municípios e 57 comunidades.

A formação educacional foi pensada a partir da Pedagogia da Alternância. No tempo escolar, o jovem permanece na instituição de ensino em período integral, com aulas teóricas e práticas. No tempo “comunidade”, é desenvolvido o plano de estudo e são aplicados os conhecimentos adquiridos.

— Os alunos vivem uma realidade de extrema pobreza, com renda na faixa de R$ 500 por família. Depois da formação, eles se tornam empresários rurais, conseguem ingressar na faculdade, ter sonhos, e muitos expandem a renda em cerca de R$ 2 mil — explica Thales Lima, diretor do projeto.

Mais de 450 alunos já se formaram no programa, que tem estímulo à participação feminina. O Prêmio LED vai ajudar a instituição a incluir mais cinco jovens por turma todo ano. A ex-aluna Wandyla Santos, de 20 anos, ajudou a família a aumentar a produção e as vendas de hortaliças graças aos aprendizados adquiridos no ensino técnico integrado. Em apenas um ano, a família faturou R$ 50 mil.

— Expandimos de duas para quatro barracas na feira, conseguimos comercializar com outras cidades e mercados, e ainda realizei meu sonho de cursar a faculdade de pedagogia.

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