Antônio Gois
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Antônio Gois

Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.

Em entrevista aos repórteres Renata Cafardo e Victor Vieira, o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou na semana passada que o MEC pretende instituir neste ano um prêmio para escolas e alunos que se destacarem no Enem. Seria, em suas palavras, “uma espécie de Oscar da educação”, a ser entregue em “grande solenidade com o presidente” Lula. “Por que a gente não premia esses meninos que tiram mil na redação do Enem? É um estímulo, reconhecer o talento”, disse. Na mesma reportagem, ele cita ainda a ideia de alguma bonificação a redes que mais avançarem em áreas como alfabetização, ensino técnico e tempo integral, justificando ainda que é preciso “dar visibilidade aos números”, pois “isso incomoda os Estados que não estão bem, e a população cobra: por que meu Estado não avança?”

Premiações a alunos, professores, escolas ou gestores que se destacam em alguma área não são novidade na área educacional, e não há nada de errado em buscar valorizar o trabalho de profissionais e estudantes. Histórias de talentos também sempre tiveram grande apelo na opinião pública. Por isso são frequentes, todo ano, notícias destacando o “segredo” de jovens que tiraram nota mil ou histórias extraordinárias de primeiros colocados. Ainda faltam mais detalhes da proposta de Camilo, mas a pergunta a ser feita nesse caso, por se tratar de uma iniciativa do MEC, é o que se espera em termos de avanços na política pública educacional com essas premiações. Creio que a resposta mais realista neste caso seria nada, ou muito pouco.

A ideia de que é preciso “dar visibilidade aos números” para cobrar Estados ou municípios que avançam menos do que outros faz todo sentido do ponto de vista do monitoramento da atuação do poder público, mas não é preciso criar um “Oscar da educação” para isso. Basta continuar avançando na agenda de aperfeiçoamento, transparência e consequência dos indicadores educacionais.

No caso de alunos ou escolas, se o objetivo é que a premiação gere algum incentivo relevante para avançarmos mais rápido, a situação é mais complexa. Uma das evidências mais consolidadas da avaliação educacional é a constatação de que o nível socioeconômico das famílias é o fator de maior impacto no desempenho em testes. Escolas que atendem famílias de maior renda e escolaridade, portanto, têm, na comparação com estabelecimentos que concentram estudantes mais vulneráveis, essa vantagem que nada tem a ver com o que acontece em sala de aula. Não é coincidência, portanto, que colégios privados ou públicos que realizam vestibulinhos ou com perfil mais elitizado de alunos se saiam melhor em rankings.

Do ponto de vista da formulação de políticas públicas, em vez de olhar para as “melhores”, faria mais sentido colocar a lupa em outro perfil de escolas: as eficazes, aquelas que, nas mesmas condições e atendendo ao mesmo perfil de aluno na comparação com outras, conseguem resultados mais expressivos.

Na comparação com países ricos, o Brasil ainda apresenta gasto por aluno muito menor, um indicativo de que ainda não temos investimento adequado para nos aproximarmos dessas nações. Se esse é o salto que almejamos dar na educação, ele não virá, portanto, somente da melhoria da eficiência. Mas há espaço para melhorar, e temos muito a aprender com as experiências exitosas em nossa realidade. Mas, para isso, precisamos identificar aquelas realmente relevantes para aperfeiçoar políticas de financiamento, apoio e indução.

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