Por G1 SP — São Paulo


As escolas municipais de São Paulo vão ensinar, a partir do ano que vem, habilidades conhecidas como socioemocionais, que incluem criatividade, empatia, autonomia, pensamento crítico e resolução de problemas, entre outras.

Essas habilidades farão parte do novo currículo educacional do município, segundo anúncio feito nesta terça-feira (14) pelo prefeito João Doria (PSDB). O secretário da Educação, Alexandre Schneider, afirmou que os professores receberão formação e material com orientações didáticas de como comunicar esses conteúdos. Os temas vão permear todas as disciplinas e não terão uma matéria específica.

O secretário afirma que um caso muito recorrente de situação que precisa ser atacada com essas habildiades diz respeito aos trabalhos coletivos em sala de aula, em que determinados alunos participam pouco ou querem dominar os grupos.

“O professor pode notar alunos que tenham mais dificuldade. Ao notar isso, ele vai fazer uma intervenção. Pode ser porque o aluno é tímido. Ou então o caso de um aluno que quer ser o único a falar. O professor vai trabalhar individualmente com esses alunos e avaliar, por exemplo, se precisa formar grupos diferentes onde os alunos se sintam mais à vontade.”

Segundo a prefeitura, estudos comprovam que essas habilidades têm papel fundamental no desempenho escolar e também nas realizações ao longo da vida. Os temas também estão previstos na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), hoje em análise no Conselho Nacional da Educação (CNE) e que vai mudar o conjunto de conhecimentos que devem ser temas nas escolas públicas pelo país.

O anúncio dos novos temas que serão trabalhados em São Paulo foi feito durante evento em que foram firmadas parcerias. O Instituto Ayrton Senna fará projeto-piloto com a Prefeitura para desenvolver as competências socioemocionais nas etapas de alfabetização e nos anos finais do Ensino Fundamental. O instituto vai acompanhar o desempenho de educadores e estudantes de 50 escolas.

A presidente do instituto, Viviane Senna, afirmou que está comprovado que as escolas precisam ir além das habilidades cognitivas como “ensinar a ler, escrever, fazer contas e memorizar conteúdos” e que as novas habilidades preparam o aluno para o século 21.

A Prefeitura também assinou um memorando de entendimento com a Unesp com o objetivo de formar futuros professores com foco nas habilidades socioemocionais. A partir de 2018, um curso de extensão com duração de 100 horas será ofertado na modalidade de educação à distância para alunos do curso de Licenciatura em Pedagogia ofertado pela Unesp e outras licenciaturas que também utilizam os polos do UniCeu.

Ponto polêmico

O currículo educacional da capital paulista vai estar alinhado com a base nacional curricular que o governo federal tenta implantar e que já foi alvo de polêmicas envolvendo debates sobre a chamada ideologia de gênero. O governo federal chegou a retirar de um projeto inicialmente apresentado os termos “identidade de gênero” e “orientação sexual”.

Em um texto enviado à imprensa em abril pelo Ministério da Educação, o termo “orientação sexual” aparecia duas vezes. Em uma delas, era citado na competência 9 em que se estabelece a necessidade de "exercitar a empatia o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais."

Dizia o texto, "sem preconceitos de origem, etnia, gênero, orientação sexual, idade, habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra natureza." No entanto, na versão oficial as palavras "orientação sexual" foram omitidas.

Sobre o tema, o secretário Alexandre Schneider afirmou nesta terça que haverá “alinhamento com a base e com aquilo que a rede já trabalha”. “As questões de gênero entram na escola, fazem parte de um trabalho que tem ser feito lá, mas não são o ponto central do nosso currículo”, diz.

Segundo Schneider, há um debate no Brasil entre pessoas que acreditam que o que acontece na sociedade não chega a escola e pessoas que acreditam que se modifica totalmente a sociedade a partir da escola.

“A gente tem que seguir um caminho do meio que é, a gente vive numa realidade, tem que tratar essas questões, mas elas não têm primazia sobre todas as outas questões que a escola tem que discutir”, afirmou.

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