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Quem escreve

Precisamos falar sobre bullying

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Há quase duas semanas, um adolescente de 14 anos matou dois colegas e feriu outros quatro em uma escola particular de Goiânia. O crime chocou o país, relembrou os massacres de Columbine (nos Estados Unidos) e do Realengo (no Rio de Janeiro) e reacendeu o debate sobre o bullying. O agressor teria sido vítima de humilhações repetitivas e intencionais e, por isso, decidido atirar naqueles que o importunavam? E o colégio, também seria "culpado" por não ter identificado o comportamento de seus alunos e tomado as devidas providências?

Muito se discute sobre o bullying no ambiente escolar, mas uma pesquisa que acaba de ser divulgada pela Universidade de São Paulo (USP) revela que relações familiares conturbadas também são um fator determinante no envolvimento dos estudantes com o problema. "Identificamos que a interação familiar negativa - punição física, má comunicação entre filhos e pais, clima conjugal turbulento - podem aumentar a vulnerabilidade dos estudantes tanto para serem vítimas quanto agressores", afirma o psicólogo Wanderlei Oliveira, pesquisador da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP), responsável pelo estudo. Essas famílias "menos funcionais" não incentivam o crescimento dos sentimentos positivos e não ajudam nas tomadas de decisões de forma saudável, baseadas na troca de ideias em vez da imposição, o que pode estimular a agressão, explica Oliveira.

O estudo foi realizado com 2.354 alunos entre 10 e 19 anos de escolas públicas de Uberaba (MG) e, segundo o pesquisador, não propõe a culpabilização ou a responsabilização exclusiva da família, mas incluir aspectos a ela relacionados e que podem contribuir para o envolvimento dos estudantes em situações de bullying. "Os pais devem estar atentos ao tipo de relacionamento que os filhos estabelecem, se existe algum colega que sempre é referido como possuindo alguma característica negativa ou que merece ser vítima de agressões. Diante dessa identificação (de um filho agressor), os pais devem esclarecer a importância de pensarmos em termos de tolerância e respeito às diferenças, além de estimular estratégias de resolução de conflitos mais propositivas e não pelo uso da violência", orienta Oliveira. Ou seja, ficar atento aos nossos filhos, observar os comportamentos e conhecer o grupo de amigos se faz cada vez mais importante, como bem sabemos...

Ah! E ainda sobre relações familiares e bullying: se você tem um pré-adolescente ou um já adolescente em casa e ainda não leu "Precisamos falar sobre o Kevin", recomendo fortemente. Apesar de ser uma ficção (com um massacre escolar como pano de fundo), a autora Lionel Shriver fala sobre maternidade/paternidade, alienação, culpa e superproteção com um realismo assustador.

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