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Precisamos combater a evasão escolar para salvar a economia

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Por Yuri Utida
Atualização:
Yuri Utida. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

A pandemia do novo coronavírus provocou uma recessão econômica sem precedentes na história do Brasil e escancarou o abismo social existente no país. Em médio e longo prazo, veremos a desigualdade entre pobres e ricos aumentar ainda mais e os efeitos disso são sentidos na economia, na saúde e até na segurança pública. Com comércio e indústria fechados, o desemprego cresceu e os salários foram reduzidos. Já em maio, pesquisas apontavam queda no poder de compra de 40% dos brasileiros. Como mais de 90% da população não têm o hábito de guardar dinheiro, os orçamentos domésticos precisaram ser revistos para que as famílias conseguissem, ao menos, colocar comida na mesa. E essa realidade afeta principalmente a camada mais vulnerável da nossa sociedade: os pobres.

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Sem acesso à internet para manter aulas virtuais, muitas famílias tiraram os filhos da escola para que pudessem trabalhar e reforçar o orçamento. Um levantamento do Ministério Público do Trabalho (MPT), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), mostrou que, entre os meses de abril e julho de 2020, houve um aumento de 26% nos casos de trabalho infantil em São Paulo.

Tudo isso tem um custo alto demais para um país em desenvolvimento: o Brasil perde R$ 214 bilhões por ano por deixar 17,5% dos jovens sem concluir o ensino médio. Ou seja, 3% do nosso PIB são afetados porque as crianças não estão fazendo o que deveriam: estudar.

O levantamento da Fundação Roberto Marinho e do Instituto de Ensino e Pesquisa mostra que, hoje, se nada mudar, 575 mil adolescentes de 16 anos não vão completar a educação básica. Para cada um desses adolescentes, a perda é R$ 372 mil por ano.

E o futuro é nada promissor: eles serão adultos mais sujeitos ao subemprego e terão um salário 25% menor, na comparação com outros jovens que concluíram seus estudos e fizeram uma universidade.

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Mas o impacto não se restringe à economia. Garantir uma educação a todos os nossos jovens faz a diferença também na segurança pública. Quando deixa a escola, a expectativa de vida do jovem cai em média 4 anos, já que aumentam as chances de ele ser cooptado pelo crime. O estudo mostrou que cada ponto percentual de queda na evasão escolar evita 550 homicídios por ano. Sem abandono escolar, teríamos 10 mil mortes a menos.

A pandemia acelerou esse processo de evasão escolar, que já era alto no país, e isso provocará um aumento considerável da desigualdade social. Famílias que têm alguma economia e fizeram um planejamento financeiro sólido conseguem passar por esse período sem tirar os filhos da escola. Esses jovens terão as melhores oportunidades, enquanto os que evadiram devem perpetuar o ciclo de subemprego. Assim, os pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos, mais ricos.

Quebrar esse ciclo requer uma série de políticas públicas que incluam a manutenção de programas de transferência de renda, combate ao trabalho infantil e incentivo para que as crianças continuem na escola. Não é uma tarefa fácil, uma vez que o governo já gastou, com a pandemia, o que previa economizar em 10 anos com a previdência.

O cenário que desponta no horizonte não é alentador. Quebrado, o governo deve suspender o pagamento do auxílio emergencial, que vem garantindo a sobrevivência de milhões de pessoas. As consequências para o país serão drásticas: mais crianças devem deixar as escolas, a inflação deve subir e o desemprego vai demorar para cair.

Enfim, estamos diante de um clássico exemplo de como a educação e a falta de planejamento financeiro afetam a economia de todo o país. Se quisermos mudar isso, precisamos investir na educação, repensar nossos hábitos de consumo e planejar o nosso futuro financeiro. Construir o futuro é uma tarefa para agora!

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*Yuri Utida é gestor de riscos financeiros; coautor de dois livros; tem MBA em Gestão, Empreendedorismo e Marketing; pós-graduação em Neurociência & Comportamento e é especializado em UX e Gestão & Produtividade

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